A deontologia básica do jornalismo tem sido violada por praticamente todos os meios noticiosos do Ocidente. Tomar partido e censurar não é reportagem responsável
A minha própria posição sobre a operação militar especial na Ucrânia foi a mesma que tomei nas campanhas militares no Iraque, na Líbia, na Síria e em qualquer outro lugar. Isto significa ler e ouvir mais do que escrever e falar até eu saber do que estou a falar. Como director da versão portuguesa da Pravda.Ru desde 2002, sempre tratei meus leitores com respeito e como adultos, educados e inteligentes, ciente que merecem nada menos e ciente que caso contrário, irão abandonar as minhas páginas.
Compare esta abordagem com a da União Europeia e o seu antigo Estado membro, o Reino Unido e os seus ex aliados coloniais nos EUA e no Canadá e Austrália, epitomizada pela Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen a favor da política fascista de censura, bloqueando as fontes noticiosas russas enquanto os meios de comunicação social ocidentais apresentam uma história unilateral baseada em conjecturas, suposições, esperanças e propaganda exagerada. Isso é jornalismo, ou quê?
Deixem-me dar-vos alguns exemplos.
Sempre que o Presidente ucraniano é mostrado na televisão, ele diz que a batalha crucial é pela cidade X e se os russos não a conseguirem, serão derrotados. A cidade cai. Para os russos. E a queda é apresentada como uma vitória para a Ucrânia e uma derrota para a Rússia. Mas, que c......é esse?
Depois disseram que a Rússia falhou porque não conseguiu tomar Kiev. O quê????? A Rússia disse desde o início que queria evitar centros de população civil. O mesmo foi dito sobre Kharkov. A Rússia disse, desde o primeiro dia, que está a visar equipamento militar, e não concentrações de civis.
Por que razão então a Rússia invadiu o Norte? Bem, não é bem astro-física, pois não? Uma vez que o foco da campanha é Donbass (porque é que a Ucrânia está a lutar por uma área que esteve a bombardear durante oito anos desafia a lógica, a menos que esteja desesperada por angariar mais vítimas para torturar e chamar "sub-humanos"), é óbvio que atacar a partir do norte e do sul teria desalojado as forças ucranianas estacionadas no centro.
O foco é, como a Rússia sempre disse, em Donbass. Porquê? Porque as forças leais a Kiev cometeram ali massacres fascistas de civis de língua russa, assassinando senhoras da limpeza com fio telefónico e depois passaram oito anos a bombardear Donetsk e Lugansk. Ah, eles afirmaram, mas faz parte da Ucrânia e nós podemos fazer o que quisermos. Sim, a resposta vem, mas isso não significa que tenham o direito de massacrar pessoas e bombardear centros de população.
Facturar nesta conta o facto de a Ucrânia ter forças fascistas a pavonearem-se em uniformes neo-nazi com insígnias quasi-suásticas, e nós fazemos a pergunta: onde mais vemos isto?
Oh não, diz Zelenskiy, eu sou judeu, portanto está tudo bem, o que significa que podemos ter batalhões fascistas nas nossas forças armadas e ninguém se vai queixar. Mais uma vez, mas que c...... é esse??
Então, depois de passar todo este tempo a observar e a ouvir, o que é que vejo? Vejo uma história perfeitamente simples que se desdobrou diante dos nossos olhos.
1. Houve um golpe fascista em Kiev e o Presidente democraticamente eleito foi deposto (Yanukovich);
2. Seguiu-se uma série de massacres fascistas no qual os fascistas ucranianos massacraram ucranianos russófonos;
3. Os residentes de Donbass (Lugansk e Donetsk) pegaram em armas para se protegerem;
4. Kiev passou oito anos a bombardear Donbass
5. Em 2015, a Rússia produziu os Acordos de Minsk para manter Donbass na Ucrânia e garantir os direitos culturais dos cidadãos;
6. Kiev recusou-se a reconhecer estes direitos e disse que não iria implementar os Acordos de Minsk;
7. A Rússia reconheceu o apelo à ajuda dos residentes de Donbass e lançou uma campanha militar especial para os proteger contra os fascistas.
Isto significa que todos os ucranianos são fascistas? Não, mas a ideia geral é que um povo tem o governo em que vota e então as pessoas são responsáveis pelo governo que têm, e se elegerem alguém que permita que fascistas desfilem em insígnias neonazis adorando Hitler e aquele pedófilo, assassino de crianças, aquele amante de Fascistas e colaborador nazi, o monstro Stepan Bandera que é considerado por muitos como herói nacional na Ucrânia, têm de admitir que há quem não goste. Mais, quando o seu povo (cultural) está a ser massacrado e chamado sub-humano.
Não estou aqui a tomar partes, estou, depois de muita leitura e depois de ouvir muita gente, gente que sabe o que diz e não gente como Ursula von der Leyen, estou aqui mais uma vez a tratar meus leitores como adultos.Isto não é um exercício de propaganda, estou a apresentar factos. Factos muito claros e inegáveis. Preferiria estar aqui a escrever sobre desporto, sobre cultura, sobre educação, sobre desenvolvimento.
Tudo isto é lamentável e muito desagradável, mas depois volta-se a perguntar a Kiev por que razão se recusou a implementar os Acordos de Minsk, que assinou, a menos que Washington lhe tenha dito para não o fazer e esteja a utilizar a Ucrânia como representante numa guerra entre a OTAN e a Rússia. É isso?
Se alguém atacasse a minha família durante oito anos e assassinasse os meus pais, e se alguém aplaudisse os responsáveis, será que eu ficaria calado? Será que os EUA aplaudiriam se milhões de cidadãos americanos fossem atacados e massacrados durante oito anos e chamados "sub-humanos" por bandidos com insígnias fascistas? Ou será que os cidadãos dos EUA fariam alguma coisa? Se parte da Espanha tivesse uma população culturalmente portuguesa, e depois um bando de fascistas começasse a atacá-la, rotulando-a de “sub-humanos”, se torturasse civis indefesas, se matasse avós com fio telefónico, se urinasse sobre os corpos de senhoras de idade avançada depois de as queimar vivas, como sentiriam os portugueses? Os brasileiros idem na mesma situação?
O que era a Segunda Guerra Mundial, se não derrotar Hitler, o nazismo e o fascismo? Parece que entre 1939 e 1945, sim; depois de 2000, é um exercício em reacender a fogueira do Fascismo. Alguns de nós perdemos familiares em campos de concentração.
Finalmente, os preços dos alimentos e outros preços. Sei que os meios de comunicação ocidentais perderam o fio, afinal de contas, até à data, têm-se enganado em toda esta história, têm apresentado um só lado, nomeadamente a Rússia é má e Ucrânia é boa mas culpando a Rússia pelo aumento dos preços mundiais dos alimentos e tudo o resto, mais uma vez, mas que c...... é esse???
Então, a COVID não existia? As reservas não foram dizimadas por dois anos de ruptura das linhas de abastecimento? Os preços ao consumidor não se baseiam na maravilhosa economia de casino actualmente em vigor de especulação na aquisição de bens e das suas condições de pagamento? As sanções impostas à Rússia não têm consequências nos dois sentidos? A Ucrânia é o principal fornecedor mundial de trigo? Não, fornece cerca de dez por cento dos cereais do mundo num bom ano. A Ucrânia não tem, de qualquer forma, acesso à exportação para oeste por caminho-de-ferro? A Ucrânia fornece toda a comida mundial através dos portos no Mar Negro? Os elefantes voam? Cristiano Ronaldo é Rei de Saturno? Alguém perdeu a chave do manicómio?
Em 2021/2022, a Ucrânia exportou 33 milhões de toneladas de trigo. Um pouco mais do que o Paquistão (27 milhões de toneladas) e menos do que a Austrália (34m.). Muito abaixo dos três principais produtores, a União Europeia (138,9), PR China (136,9) e Índia (109,5), seguida pela Rússia (75,5) e depois ainda acima da Ucrânia, estão os EUA (44,7m.)
Afirmar que a Rússia é responsável pela subida dos preços dos alimentos, ignorando tudo o resto acima mencionado, é tão idiota como dizer que a Rússia perdeu a guerra por não ter tomado cidades que nunca tencionou tomar ou culpar a Rússia pela destruição na Ucrânia causada em parte pelas próprias forças fascistas ou pelo uso de estruturas civis como escudos pelos militares ucranianos, uma táctica típica da CIA.
Um relatório sensato começaria por perguntar por que razão Kiev nunca implementou os acordos de Minsk, perguntar por que razão Kiev tinha e tem batalhões fascistas nas suas forças armadas oficiais, perguntar a Kiev por que razão estava a bombardear Donbass durante oito anos, perguntar o que era suposto a Rússia fazer desde que passou oito anos a explicar a situação a todos mas ninguém ouviu, e depois perguntar quais eram os verdadeiros motores da inflação mundial.
Podemos então concordar numa coisa, nomeadamente que o conflito militar implica perdas de vidas e famílias desfeitas, envolve lágrimas, infelicidade e meios de subsistência destruídos, de todos os lados. Para aqueles que tentam prolongar este conflito, fornecendo mais armas à Ucrânia, para aumentar e prolongar o sofrimento, há um lugar especial nas entranhas do inferno reservado especialmente.
Mais cedo ou mais tarde, Donbass será totalmente libertado/ocupado, ou como quer que as pessoas lhe queiram chamar, a que custo depende de quem bombear a Ucrânia cheia de armamento. Poderia ter terminado há muito tempo se a Rússia tivesse declarado uma guerra total contra a Ucrânia e atacado as suas cidades como os EUA e os seus amigos fizeram no Iraque, na Líbia e noutros lugares; a noção surge quanto ao que diz a literatura legal sobre o fornecimento de armamento a um Estado em conflito (é ilegal) e, portanto, como poderiam tais Estados reivindicar qualquer elevado fundamento moral no caso de um ataque de retaliação maciça com mísseis hipersónicos?
Felizmente para eles, a Rússia sempre tentou desempenhar o papel do tipo simpático, mesmo quando às vezes se trata de enfrentar o diabo.
Mais uma vez, uma menção especial para as vítimas, todas as vítimas, de todos os lados. Isto era evitável, tudo o que Kiev teve de fazer foi implementar os acordos que assinou e impedir os fascistas de se pavonearem com o uso de suásticas nas suas forças armadas oficiais. Onde mais se pode ver isto? E quem apoia isso? A União Europeia? A Ursula von der Leyen? Ela apoia os fascistas que desfilam em insígnias neonazis? Será que ela pensa que eles são inocentes, ou algo assim? De que parte da terra do cuco das nuvens é que ela vem?
Quem culpar? Aqueles que impediram Kiev de implementar os Acordos de Minsk. Não culpem as vítimas.
Timothy Bancroft-Hinchey pode ser contactado em [email protected]
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