As meninas também têm direitos, a começar pelo direito de nascer. Mas a lei do mais forte impregnou o feminismo
Violência e discriminação contra qualquer ser humano são deploráveis, e tornam-se mais repugnantes quando afetam seres mais vulneráveis. Sendo indiscutível que existe abuso particular contra as mulheres, em ambos os quesitos, devido à cultura patriarcal a nível mundial.
No caso do aborto, particularmente, feministas e todos os seus defensores logo se transtornam com discuro precariamente humanitário, diante de quem se opõe ao aborto.
Profunda “irritação humanitária”, marca dos seus defensores, teria muito mais razão de se manifestar nos oponentes ao aborto se o assunto for defesa à vida ou mesmo, particularmente, às mulheres. Pouca incoerência é sempre grande bobagem, quando determinado tipo de “humanitarismo” está envolvido.
Porém, é impossível falar em humanitarismo – o qual desconhece unilateralismos – e defender, ao mesmo tempo, a prática do aborto. Talvez esta grande contradição explique a agressividade de quem ainda advogue por este ato.
Tenho uma filha de sete anos e meio, de quem cuido sozinho enfrentando inimagináveis adversidades ainda que me valha sacrificar praticamente toda a vida para tais cuidados, pela vida deste ser (do sexo feminino: minha filha). É o natural preço que se paga, para que outro ser com menos chance de defesa goze do direito fundamental à vida. E não existe maior defesa da vida da mulher, que fatos como este.
A ideia contida aqui, especialmente nesta época do Dia Internacional da Mulher, é a seguinte: se há oito anos tivesse este autor incentivado a mãe deste menina a fazer um aborto, o que era perfeitamente possível acontecer bastando um “empurrãozinho” deste que escreve, teria sido um caminho bem mais fácil, porém a este mesmo ser do sexo feminino teria sido negado o direito de viver. Teria sido cometido um feminicídio, ou feticídio pelo qual esta menina não estaria hoje fazendo declarações de afeto ao pai, nem exercendo o direito inalienável à vida.
Por que assassinar esta criança dentro do ventre da mãe seria menos grave, mera “escolha”, “ato” insignificante comparado ao mesmo “ato” estando ela já neste mundo, agora um crime? Outra coisa difícil de se compreender, além desta gritante contradição em si, é a posição passiva e até incentivadora de determinados grupos em relação ao primeiro “ato”, e a (justa) reação destes mesmos grupos no segundo caso.
Teria sido, em sua fase primeira de vida com aspecto de mini-bonequinha (e tratada como menos que isso, pelo espírito que se impõe sobre os mais vulneráveis com base na “lei do mais forte”) descarregada em uma privada qualquer, em “benefício” (?) de adultos “libertários”, e “contra a discriminação”.
A fase primeira de vida quando a “mini-bonequinha” (ou menos que isso, considerando “a lei do mais forte”) já se alimenta da mãe, e fatos exteriores gerarão consequências em sua vida fora do ventre da mãe (algumas nem merecem este titulo, configurando-se apenas progenitora).
Considero que quem diz que se poderia ter decidido pelo aborto neste caso, ou em qualquer outro pelo “direito da pessoa adulta em tomar decisões relacionadas ao seu corpo”, ou pelo argumento que seja está atentando contra a vida da minha filha, discriminando-a fortemente.
A partir do momento em que a mulher gozou de sua justa liberdade para ter momentos de prazer, amor ou o que seja, como se queira denominar o ato, uma vida está gerada em seu interior como consequência do usufruto deste tão defendido livre-arbítrio. Contra este fato, não há argumento.
Nao é nada humanitário, e muito pelo contrário, que sem ter tomado prevuamente uma das inúmeras precauções possíveis nesta era da informação global em tempo real, após engravidar por envolvimento sentimental, por pura diversão ou o que seja, descargue-se o feto privada abaixo.
Se o assunto for realmente humanitarismo, não apenas não basta não descargar o feto privada abaixo: é necessário amor. Nem se deveria apelar, aqui e nenhures, contra este ato: deveria ser parte da consciência de qualquer ser que seja humano.
O inócuo “debate” sobre quando efetivamente tem início a vida humana no ventre da mulher é tão ridículo escape, e tão evidente tentativa de se gerar polêmica fútil por parte dos “mais humanitários”, que que nem vale a pena envolver-se. A vítima que cai neste tipo de “debate” encontra-se de antemão sem saída justamente porque ele é inócuo, e cuidadosamente pré-programado pelos mestres na arte da retórica burlesca, para confundir travando tentativas de diálogo.
Já não conta mais (ou não deveria contar, especialmente entre alas quem dizem defender direitos humanos), então, apenas o direito da mais forte (este, principal componente do machismo): a nova vida em desenvolvimento tem o direito de sair deste ventre – com vida.
Não existe conceito que possa sobrepassar este direito. Isto é vida. Como disse São Tomás de Aquino: “a vida extrapola o conceito”. É o que esta em discussão aqui, a primordial defesa deve ser a vida, não a doutrina nem os rotulos que deliberadamente se imponham por esta defesa.
Mas a patriarcal lei do mais forte, contida no ato do aborto, impregnou o movimento feminista – por fanatismo, por conveniência ou por uma combinação de ambos – de tal maneira, que não se enxerga na prática lutar aberrantemente contra o que se defende, teoricamente. Movimento cegado também por sua forte agressividade em contraposição à reflexão, a busca histérica pela punição e o confronto em lugar de se priorizar a conscientização.
Não existe o menor sentido em se defender a vida, e a vida das mulheres neste caso, ao mesmo tempo defendendo o aborto. “Pela liberdade da mulher sobre o que fazer com seu corpo”. A liberdade da mulher vale, como o de qualquer ser humano, até o momento em que ela e só, quando essa alegada liberdade não afeta outra vida. Tratando aqui, vale ressaltar, a liberdade de viver. A mulher adulta, potencial progenitora, teve a liberdade de não engravidar, ou de se preservar antes disso acontecer. Se não o fez, teve por N razões que devem ser consideradas por esta pessoa, unicamente. E quanto a isso, ninguem deve intrometer-se discriminando a pessoa pela gravidez, como em muitos casos ocorre. Tanto quanto é dever dos pais e de toda a sociedade, defender a inocente vida que surge, se necessário.
Se este pai não pensasse desta maneira, sua filha não estaria presente neste 8 de março para celebrar o Dia Internacional das Mulheres. Mais que tudo, para viver e celebrar a vida. Seria hoje uma mulher a menos, contrariando o “nenhuma mulher a menos” exatamente das feministas, mundo afora.
Se defendesse o aborto, eu estaria renunciando minha luta imensurável pela vida desta menina nestes dias, negando à minha filha o direito de existir (hoje, moralmente falando). Prefiro e devo arcar com as nada simples consequências das minhas escolhas, antes de ela existir.
Quando envolve outra vida, já não se trata mais de opção: é uma obrigação. E nisto nao existe nenhuma “grande sacada” sociológica nem política, mas, repita-se, direito fundamental à vida (tão palrado aos quatro ventos, a cada 8 de março).
Para que muitos hoje ataquem o direito à vida humana já gerada, em rápido processo de saída do ventre da progenitora, foi-lhes dado o direito de nascer. E esta verdade não contém machismo, “feminofobia”, nem cerceamento à liberdade alheia, pelo contrário.
Em um contexto mais amplo é triste, para dizer o mínimo, ou vergonhoso utilizando termo a fim de se tentar aproximar um pouco mais desta realidade, que a tal “esquerda” esteja rápida e furiosamente substituindo ideias progressistas de implementação de políticas sociais pelo identitarismo, com paupérrio aspecto (já no campo teórico, para nem se falar na prática) popular.
“Ficar bem na foto à esquerda moderna”, ou priorizar às últimas consequências a defesa da vida do próximo quem quer que seja, das próprias mulheres começando pela da minha própria filha, e o direito fundamental de viver? Para mim, particularmente, opção nada difícil, muito além de obrigação ou ideologia: um ato de amor. Os meninos e as meninas também têm o direito de nascer. Ninguém vai me convencer sobre o contrário.
Edu Montesanti
edumontesanti.wordpress.com
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