Ignorância e loucura

Adilson Roberto Gonçalves

 

            Só sei que nada sei, dizia o filósofo, em contraditória expressão, pois se sabe que nada sabe então algo ele sabe, o que é um paradoxo, paixão dos que pensam a existência humana, ao menos em termos teóricos.

            Mas a boa ignorância é agente motivador para se buscar o conhecimento. O problema é a má ignorância, a que não admite o mundo que existe, não deixa os outros verem e ainda elegem comandantes que assim o fazem. Negacionista científico, antivacina, terraplanista são alguns de seus representantes. Apenas alguns.

            Tempos atrás, tal ignorância tinha forte relação com crenças religiosas. Não era exclusividade, mas os deuses, mitos e míticos restringiam a criatividade e o entendimento do mundo. Hoje isso já foi superado por outras ignorâncias, mas há ainda alguma correlação. Assim, foi com surpresa que li a coluna de Sérgio Rodrigues na Folha de S. Paulo em que ele discorre sobre a origem do termo “gno” com a conotação de conhecimento. E eu imaginando que “agnus dei” pudesse ser o “ignorante divino”, pois o “a” é também partícula de negação. Rótulo apropriado para desconhecimentos correntes, em palanques e púlpitos.

            A loucura do governante pode se refletir na ganância napoleônica ou em arroubos locais, feito os de Nicolás Maduro, ao se manter no poder a todo custo, incluindo o custo da democracia, a mudança da data do Natal ou a quase invasão da embaixada argentina. Lembremos que recentemente ele protagonizou a disputa por Essequibo, o que foi na mesma época em que por aqui se dava mais um passo na disputa Ceará x Piauí. Essa disputa brasileira não terá fim tão cedo. A depender do interesse, um ou outro mapa antigo é usado para definir os limites entre os dois estados. É semelhante, mantidas as devidas proporções, à reivindicação de Essequibo por parte de Nicolás Maduro. Sugiro usar um mapa de 1499 para dirimir de vez a questão.

            Seria esse conjunto de ações ignorância do governante? Creio que está mais para desespero ou, com o perdão dos patrulhadores da linguagem, pura e simples loucura.

 

 

Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia Campineira de Letras e Artes, da Academia de Letras de Lorena, do Instituto de Estudos Valeparaibanos e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas

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