É tudo verdade?

É TUDO VERDADE?

No tempo da permanência de nossos avós, a regra era da manutenção da ordem e das coisas. Rebus sic stantibus não sofreria alteração num mundo imóvel. A verdade era a previsibilidade.

E assim se vivia na suposição do valor do fio da barba.

Nossa geração, nascida na guerra que afetou todo mundo, acreditou na ideologia e na ética dessa ideologia. Capitalista ou comunista atuavam de acordo com seus objetivos ideológicos, igualmente previsíveis e que, pela norma da certeza, dominavam os comportamentos. Agir diferente não era simplesmente uma questão moral, era traição aos ideais.

E hoje? Lembrando a peça, que fez sucesso, há mais de um século, A Ceia dos Cardeais, de Júlio Dantas, podemos parodia-la escrevendo: ah! como é diferente o que se pratica no mundo neoliberal.

O caso é a agressão estadunidense ao aeroporto de Bagdá.

Graças ao apoio israelense, à tecnologia e aos recursos dos Estados Unidos da América (EUA), muitas pessoas morreram e, entre elas, o comandante militar e estrategista iraniano Qassem Soleimani.

Transcrevo do jornal Monitor Mercantil (03/01/2020): "O economista e jornalista José Carlos de Assis afirma que é um mistério o prazo de três dias que a liderança religiosa iraniana (os aiatolás) se deu para reagir ao assassinato do seu principal general por Donald Trump".

Podemos então imaginar uma guerra fake. Isto mesmo, como a viúva Porcina, "que foi sem jamais ter sido", estamos diante de uma farsa que interessa, especialmente, aos três principais envolvidos.

Mas para isso é preciso entender o "valor" do neoliberalismo: não há princípio, moral ou ética; não há ideologia ou escrúpulo humanitário; há somente vitoriosos e derrotados, ou seja, os que lucram e os que perdem, como nas bolsas de valores.

Iniciemos pelo Irã, que concede os três dias de avaliação (ou oração) aos seus religiosos.

Em novembro do ano passado, o Irã sofreu um ataque, articulado pela CIA e pelo Mossad, no modelo primavera árabe. E logo no Irã, onde a ação da CIA, com o MI6 britânico, havia conseguido depor, em agosto de 1953, o primeiro-ministro Mohamed Mossadegh.

Do noticiário de novembro/2019: "Em seu discurso, dirigindo-se "mais uma vez aos inimigos" que são os "Estados Unidos, Reino Unido, Israel, a casa dos Saud [a família real da Arábia Saudita]", o general Soleimani exclamou: "Se vocês violarem nossas linhas vermelhas, nós os destruiremos" (Estado de Minas, 25/11/2019).

As notícias que se seguiram na imprensa internacional davam conta de que a primavera iraniana havia sido sufocada. Mas, como sabemos da narrativa do agente da CIA no Irã, em 1953, Kermit Roosevelt, da família do presidente Theodore Roosevelt, estas ações são cobertas por milhares ou milhões de dólares estadunidenses, em corrupção, subornos, compra de apoios e "manifestações espontâneas".

Logo, os governantes/o poder no Irã, com fortes razões, precisavam fazer uma limpa geral, inclusive na oposição oficial e formal. Como o fazer, senão com o clamor popular, um brado de vingança?

Pelas fotos distribuídas em redes virtuais e na imprensa, a morte de Soleimani obteve este apoio. Portanto, devemos esperar mudança de pessoas e grupos políticos iranianos, dando mais tranquilidade aos governantes, ao poder nacional.

E, consequência inevitável no Oriente Médio e com envolvimento dos EUA, o preço do barril de petróleo sobe. Nada mal para um país exportador.

Vejamos o lado dos EUA.

Donald Trump enfrenta uma campanha difícil pela reeleição. Acrescida de um pedido de impeachment que não adiciona votos, em especial dos políticos.

Tudo nos EUA se resolve com dinheiro. Só variam os montantes, alguns tão elevados que inviabilizam soluções.

A banca, o sistema financeiro, como ocorreu na última campanha eleitoral, aposta nos democratas, a oposição a Trump. E Trump, representando o Império, tem no complexo industrial militar seu melhor apoio.

Nem precisa desenhar sobre quem mais lucra com as guerras. A este instante do jogo, católicos, muçulmanos, judeus, árabes, palestinos e que estiver por perto estão fazendo compras. E a indústria armamentista, os centros de pesquisas e todos que ganham com a guerra estão colocando fotos do Donald Trump nas janelas e paredes.

E ainda ganha a desculpa da alta do petróleo para eventual insucesso econômico ou medida impopular que precise adotar. Ponto para a guerra.

E temos também a Rússia.

Putin é, a nosso ver, o mais competente dirigente neste nível das grandes potências atual. Ele já sentiu ser engolido pela China, com os bilhões investidos na Ásia e África, invadindo também a Europa (a Itália não nos desmente).

O que fazer? Aparecer em momentos de crise com uma postura de racionalidade e crítica. Exatamente o discurso que fez.

"A Rússia condenou o ataque norte-americano que matou o comandante militar iraniano Qassem Soleimani e manifestou condolências ao Irã.

Em um comunicado, o Ministério das Relações Exteriores russo afirmou que o assassinato de Soleimani levará ao aumento da tensão em toda a região.

Ainda de acordo com a nota, Soleimani "se dedicou a defender os interesses nacionais do Irã". A Rússia acrescenta: "Expressamos nossas sinceras condolências ao povo iraniano".

De acordo com o The Epoch Times, o presidente francês Emmanuel Macron e o presidente russo Vladimir Putin, conversaram por telefone, nesta sexta-feira,3, sobre a situação no Iraque após o ataque em Bagdá que matou Soleimani" (Bruna de Pieri na Terça Livre).

E, de sobra, aproveitar a alta do preço do barril de petróleo.

Não há fio de barba, ideologia ou nobres sentimentos meus caros leitores. É o mundo neoliberal. Se não gosta - nós também não gostamos - mostre o que ele é. Sem as máscaras identitárias, ou Greta Thunberg, que já fez 17 anos, e outros assalariados do Georg Soros. Há muitos no Brasil.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey