Histórias Perversas, de Javier Tomeo, regressam ao palco do TCSB
A Escola da Noite repõe em Coimbra, a partir de 20 de Setembro, o espectáculo "TOMEO Histórias Perversas". Estreada em 2017, a criação com que a companhia assinalou os seus 25 anos registou um grande sucesso e pode agora ser vista ou revista pelo público da cidade, até 14 de Outubro.
"TOMEO Histórias Perversas" é a 65.ª criação d'A Escola da Noite. Com dramaturgia, encenação e espaço cénico de António Augusto Barros, "TOMEO Histórias Perversas" inclui 26 textos seleccionados a partir das obras "Histórias Mínimas", "Cuentos perversos", "Inéditos y Reescrituras", "Los nuevos inquisidores", "Problemas oculares" e "Bestiário".
Definida como uma "literatura livre e audaz", a escrita de Tomeo - muitas vezes a raiar o absurdo - é plena de humor, ironia e sátira mas também de poesia e humanismo. A perversidade, anunciada pelo próprio, e a aparente falta de compaixão com que trata as suas personagens desafiam-nos a pensar na forma como vivemos, como vivemos com o outro e como convivemos com um mundo que tantas vezes nos parece uma coisa demasiado estranha. A propósito dos "seres incompletos, incapazes de encaixar no mundo" que povoam os textos de Tomeo, escreveu o crítico Daniel Gascón: "Com as suas parábolas sobre o medo irracional, a solidão e a incomunicação, Javier Tomeo faz com que a realidade se torne um pouco mais ameaçadora, mas também muito mais rica e fascinante. É o melhor serviço que um escritor pode prestar aos seus leitores".
Gigantes, moinhos, assassinos e míopes, num cenário surpreendente e com música ao vivo
Entre os 26 textos escolhidos para o espectáculo, o público encontra (muitos) míopes, pais que vêem gigantes onde filhos vêem moinhos, assassinos que saltam da tela de cinema, crianças que partem a lua em pedaços, esqueletos que falam, capitães que desertam, leões que choram e muitas outras coisas que nem sempre "saem à medida dos nossos desejos".
A par do trabalho dos três actores da companhia (Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Sofia Lobo desdobram-se em dezenas de personagens), sobressai nesta produção o elaborado e surpreendente dispositivo cénico e a música original e sonoplastia de Jorri, que a interpreta ao vivo. O trabalho de vídeo de Eduardo Pinto, a iluminação de António Rebocho e os figurinos e adereços de Ana Rosa Assunção completam o conjunto de contributos criativos para o espectáculo.
Um ano depois do enorme sucesso alcançado, com sucessivas lotações esgotadas, "TOMEO Histórias Perversas" volta a estar em cena no Teatro da Cerca de São Bernardo entre 20 e 23 de Setembro e de 3 a 14 de Outubro, de quarta a sábado às 21h30 e aos domingos às 16h00. Os preços variam entre os 5 e os 10 Euros e a companhia aconselha vivamente a reserva antecipada de lugares. Devido às características do espaço cénico, e para salvaguardar a boa visibilidade de todos os lugares da bancada, a lotação é mais reduzida do que o habitual.
Javier Tomeo e A Escola da Noite
Javier Tomeo (1932-2013) foi um dos autores mais originais e prolíficos da narrativa espanhola contemporânea. As suas obras foram traduzidas em quinze idiomas e várias foram adaptadas ao cinema ou representadas nos principais teatros europeus. A sua produção literária - com destaque para obras como "Amado Monstro" e "O Caçador de Leões" - foi distinguida com vários prémios, entre os quais o "Prémio Aragón a las Letras", em 1994. Em 2012, toda a sua narrativa breve, incluindo as obras "Historias Mínimas" e "Cuentos Perversos", foi reunida num só volume, pela editora Páginas de Espuma, sob o título "Cuentos Completos". Morreu em Barcelona, em 2013, deixando dois livros por publicar: a novela "El hombre bicolor" e o seu último livro de micro-relatos "El fin de los dinosaurios".
No prólogo de "Cuentos Completos", Daniel Gascón identifica as oito "regras" que caracterizam a literatura de Tomeo: "aceitar as regras do acaso e do absurdo; a força da sugestão e o fascínio pelo monstruoso; a animalização dos humanos e a humanização dos vegetais e dos animais; o fascínio pelos pormenores do mundo natural e a desconfiança em relação à tecnologia; a fantasia desbocada e a intuição arrepiante; a vivência traumática do amor e do sexo; a violência repentina; a importância do 'ele' e esse olhar a que Tomeo gosta de chamar psicopático". De tão singular, a obra de Tomeo é muitas vezes referida como "inclassificável". Ainda assim, vários críticos e ensaístas têm encontrado nela influências de Kafka, de Buñuel, do surrealismo, mas também de Charlot, Buster Keaton ou de Ramón Gómez de la Serna.
Em Portugal, estão publicados "Amado Monstro" (Cotovia, 1990) e "Histórias Mínimas" (Livros Horizonte, 1992).
"Amado Monstro", com encenação e interpretação de António Jorge e José Neves, foi o primeiro espectáculo d'A Escola da Noite, estreado em Coimbra a 19 de Março de 1992, no Teatro Académico de Gil Vicente.
A Escola da Noite
Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo
Pedro Rodrigues
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter