Candomblé e gays contra o apedrejamento de 18 homossexuais na Nigéria
20/08/2007: Silêncio é morte. E o silêncio dos brasileiros adeptos das religiões de matriz africana à próxima condenação à morte de 18 homossexuais na Nigéria é uma omissão criminosa, declara o antropólogo africanista Luiz Mott, Decano do Movimento Homossexual Brasileiro. Lançamos um apelo a todos babalorixás e yalorixás da Bahia e do resto do Brasil para enviar um protesto coletivo ao Presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo, exigindo que respeite a Lei dos Orixás, que nunca condenaram o amor homossexual.
Está prevista para os próximos dias de agosto a proclamação da sentença de pena de morte por apedrejamento a 18 gays, detidos recentemente na Nigéria. Seu crime: ter participado, em roupas femininas, de uma cerimônia de casamento de dois gays. Os homossexuais encontram-se presos no Estado de Bauchi, ao noroeste do país. A sodomia é ilegal em toda a Nigéria, sobretudo em 12 estados onde a lei islâmica sharia foi implementada há sete anos, prevendo a pena de morte dos homossexuais e adúlteras.
Para Marcelo Cerqueira, Coordenador do Grupo de Gays Negros Quimbanda Dudu, todo mundo sabe que o Candomblé, Umbanda e demais religiões de matriz africana não consideram o amor homossexual como pecado ou coisa vergonhosa. Entre os Orixás há Logun Edé e Oxumaré que são metade do ano homem, metade mulher. Há mitos antigos que descrevem a relação homoerótica de Oxossi com Ossanha. A antropóloga Ruth Landes, Nina Rodrigues, Peter Fry e outros estudiosos do candomblé citam importantes pais e mães de santo que eram adé e aló, termos yorubás, da Nigéria, para se referir a gays e lésbicas. Não adianta querer esconder o sol com a peneira pois como se diz na Bahia, do mesmo modo como não há axé sem as plantas, não há candomblé sem adé (homossexual).
Segundo o Babalorixá Bel do Oxum, do Terreiro Abassá d´Oxum, São Tomé de Paripe, em Salvador, é uma barbaridade esta perseguição dos homossexuais, pois se são os próprios Deuses do Panteão dos Orixás que escolhem os gays para se incorporar no Candomblé, isto prova que os errados são os que discriminam os homossexuais e não os gays. Oos Orixás devem estar tristes com a Nigéria!
Já em março deste ano o Grupo Gay da Bahia e o Grupo Quimbanda Dudu protestaram em frente a Casa da Nigéria de Salvador, contra a criminalização da homossexualidade em discussão no Parlamento Nigeriano. O diretor da ONG Projeto Independente da Nigéria, que defende os direitos dos homossexuais, Alimi Ademola, considerou que essa lei vai violar seriamente os direitos das pessoas: é uma lei perversa e não deveria ter sido apresentada. As Nações Unidas advertiram aos parlamentares nigerianos que a criminalização da homossexualidade promoveria um aumento no número de casos de aids no país.
A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros também se manifestou, enviando à Embaixada da Nigéria em Brasília ofício de protesto.
O Grupo Gay da Bahia enviou correspondência ao Presidente Lula conclamando que repita o gesto humanitário do Presidente FHC e do Presidente do Senegal, , Abdoulaye Wade, que em agosto de 2002, ofereceram asilo político para a viúva nigeriana Amina Lawal, condenada pela justiça da Nigéria a ser apedrejada até a morte por ter tido uma filha fora do casamento. Agora é a vez do Presidente Lula oferecer asilo aos 18 homossexuais, impedindo assim que sejam apedrejados. Esta será uma boa oportunidade para o Itamaraty demonstrar realmente, pela primeira vez, que defende os direitos humanos dos homossexuais e colocar em prática o Programa Governamental Brasil sem Homofobia.
(do site de notícias do Programa Brasileiro de SIDA)
Nota Editorial: Desde 29 de Maio de 2007 o Presidente da Nigéria é Umaru Musa YAR'ADUA
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