Com uma contração de 1,8% em seu produto interno bruto de 2009, a América Latina e o Caribe se enfrentam à incerteza do imprevisível para aspirar a um possível crescimento de 4,1% em 2010.
Assim reflete a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) em seu balanço preliminar das economias da América Latina e do Caribe em 2009, no qual remarca que "a atual crise dará lugar a profundas mudanças no cenário internacional" e gerará "um ambiente menos favorável ao crescimento" que entre os anos 2003 e 2008.
Essa apreciação conduz à dúvida de se o aumento de 4,1% prognosticado para 2010 seria possível e, inclusive, permite augurar que as circunstâncias poderão obscurecer o panorama.
Daí que a CEPAL considere urgente a necessidade de redefinir padrões de especialização produtiva e comercial nos países da região, incentivando a inovação, a incorporação do conhecimento, a diversificação de produtos e a busca de novos mercados de destino.
Ao mesmo tempo, remarca "a importância da alta participação dos países asiáticos", entenda-se China e India, principalmente, por ser as nações de desenvolvimento mais explosivo no mundo e estar habitadas em conjunto por mais de uma terça parte da população mundial.
A organização recomenda também redefinir o papel do Estado e "dotá-lo de recursos e instrumentos para prevenir e combater as crises, mas também para promover um desenvolvimento econômico e social sustentável".
Em resumo, tratar-se-ia de aplicar mais políticas públicas e com maiores beneficios sociais, algo no que um grupo de países da região vem avançando na última década.
Se bem que as transformações ainda não sejam da magnitude requerida, já contribuíram, junto com a integração e os vínculos com economias asiáticas, a reduzir os efeitos da crise econômica gerada pelo capitalismo desenvolvido.
Das mudanças políticas e sociais na região deriva-se a recuperação apreciada pela CEPAL na América do Sul e na América Central, com crescimento médio para o próximo ano de 4,7% e 3,0%, respectivamente, e de 1,8% no Caribe.
O Brasil encabeça a lista dos que mais crescerão em 2010, com 5,5% estimado; seguido por Peru e Uruguai, com 5% cada um; Bolívia, Chile e Panamá, com 4,5%; e Argentina e Suriname, com 4,0%.
Estima-se também que México ─ con uma redução este ano de 6,2% ─ crescerá 3,5% em 2010, assim como Costa Rica e República Dominicana, casos que dependem muito da evolução da crise nos Estados Unidos.
A CEPAL, organização regional do sistema das Nações Unidas, estima que "a saída da crise foi mais expedita graças a um conjunto de políticas anticíclicas que permitiram enfrentar eficazmente as turbulências externas" na América Latina.
Entre as medidas citadas se encontram: redução das taxas de juros, aumento da banca estatal na participação creditícia, expansão do gasto público e aplicação de programas na área social relacionados com subsídios ao consumo e iniciativas de apoio a famílias pobres.
Assim, a região encerrará 2009 com uma contração de 1,8% em seu crescimento, o que se traduzirá numa queda de 2,9% no produto interno bruto per capita.
A baixa na economia latino-americana este ano será inferior à contração de 2,2% prognosticada para todo o mundo e aos 3,6% que a CEPAL assegura que o conjunto dos países desenvolvidos experimentará.
Por outra parte, o desemprego na região se incrementará em 8,3% com respeito a 2008, associado também à deterioração na qualidade dos postos de trabalho.
Cerca de 2 milhões e meio de pessoas se somarão aos desempregados urbanos, cujo total se elevará a aproximadamente 18,4 milhões de trabalhadores, com predomínio dos mais jovens.
Para tentar contra-arrestá-lo, a CEPAL e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) convocaram a estimular a criação de trabalhos decentes, encaminhados a fortalecer a inclusão social e a lograr avanços para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
Desde sua cúpula de junho passado, a OIT parte da suposição de que a recuperação do emprego requer de quatro a cinco anos mais do que o crescimento econômico, razão pela qual calcula que a atual situação se prolongará ainda por mais oito anos, "só para voltar ao nivel prévio à crise".
Previsões das Naçõesa Unidas estimam que mais 60 milhões de pessoas perderão este ano seus trabalhos, até totalizar 240 milhões.
Sobre a América Latina gravitará que nos Estados Unidos, na Europa e no Japão ─ segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico ─ o desemprego se aproximará a 10% da população economicamente ativa em 2010.
Em todos os casos, afetará, principalmente, os quatro grupos mais vulneráveis da população: os jovens, os imigrantes, os trabalhadores temporários e as mulheres, de grande peso na América Latina.
Só com os 45 milhões de novas incorporações de jovens ao mercado de trabalho a cada ano no mundo, seriam necessários criar 300 milhões de empregos até 2015, quando deveriam cumprir-se os objetivos do milênio.
Essa é a realidade global em que se insere a América Latina, com países como México e outros da América Central e do Caribe que sofrerão as maiores consequências.
Projetam-se taxas positivas para a média da América do Sul, mas está por se ver se a recuperação regional "será sustentada no tempo".
Não obstante, o relatório da CEPAL prevê para 2010 que as melhores expectativas de crescimento e alta nos preços de alguns produtos básicos da região poderiam permitir um aumento nas rendas públicas e no saldo fiscal.
Esse incremento também possibilitará um aumento da taxa de ocupação e provavelmente uma melhoria na qualidade do emprego, razão pela qual o desemprego poderia diminuir a cerca de 8% em 2010, ainda superior ao período de pré-crise.
Sem embargo, estima também que "a atual crise dará lugar a profundas mudanças no cenário internacional que vão gerar um ambiente menos favorável ao crescimento do que o que nossa região enfrentou entre 2003 e 2008".
A organização considera em seu relatório apresentado em 10 de dezembro, que a contração regional foi superior este ano à prevista, de modo que a quantidade de pobres aumentou para 189 milhões (nove milhões a mais do que em 2008) e a indigência se elevou de 68 para 71 milhões.
Ao apresentar o Balanço de 2009, a secretária executiva da CEPAL, Alicia Bárcena, assinalou que "em todo caso temos que ser cautelosos com os signos de recuperação".
A advertência é válida devido a que os augúrios só significam resultados menos piores, ainda que uma maior integração latino-americana poderá melhorá-los.
Ernesto Montero Acuña é jornalista de Prensa Latina especializado em temas globais e integração latino-americana.
Tradução: Sergio Granja
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