Ontem entre as cinco e sete horas da tarde, a geração de ouro do futebol português levou uma lição de futebol duma equipa grega excelentemente organizada, humilde, determinada, motivada, sem medo nem tensões, sem complexos, que joga como uma unidade, como equipa. Sabe atacar e sabe defender.
Agora, é tudo a culpa de Scolari que apenas soube ganhar a Taça do Mundo de forma brilhante com a equipa brasileira há dois anos. A reacção ao primeiro jogo da UEFA 2004 é a seguinte: Pois é, batem no estrangeiro, é a culpa dele, vá-se embora para o Brasil, venha o Mourinho, um português.
Que vergonha! Nem sabem perder um jogo de futebol? Onde está o espírito de lutar juntos, como equipa, de cerrar fileiras, de mostrar apoio a alguém numa hora difícil? De mostrar um pouco de respeito e de agir como gente grande?
Mas não conseguem. Está nos genes, está intrinsecamente entranhado na psique colectiva portuguesa. Como aconteceu com os Mouros, os portugueses preferem estar a observar a batalha duma distância confortável, ver em que direcção está a soprar o vento e se as coisas começam a correr mal, lincham o seu próprio rei, esfaqueando-o nas costas à primeira oportunidade.
Portugal perdeu um jogo de futebol ontem mas perdeu muito mais que isso com as reacções. Perdeu o respeito por ele próprio, perdeu qualquer semelhança de decência, de fair-play.
É fácil culpar o Scolari, muito mais fácil que admitir que os gregos deram um banho de futebol e mereceram ganhar o jogo. Mas há uma verdade crua e cruel: Scolari não estava a jogar. Quem estava no campo foi a equipa portuguesa, ou agora vamos culpar o Deco porque nasceu fora?
Também não devem ter ajudado muito as palavras de Figo, que supostamente criticou a escolha de Deco na equipa porque não é português. Em vez de concentrar-se no futebol, larga sentenças destas.
O português tem uma incapacidade quase total de enfrentar a realidade, reagir e fazer qualquer coisa para melhorar a situação, tem um medo patológico de críticas. Quem não está bem, vai-se embora!
Pois, que maneira mais infantil de reagir a uma sugestão.
Agora, como fazer? Portugal não precisa de cometer um acto de suicídio colectivo. O que precisa é de reagir, apoiar o seleccionador nacional, apoiar as suas decisões, apoiar a equipa, tentar vencer os restantes dois jogos no grupo (frente à Rússia e Espanha) e passar para a fase seguinte. Sem Figo mas com Deco, e Scolari.
Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru
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