A cidade, principalmente a grande cidade, é a forma mais civilizada que o homem já encontrou para estabelecer uma relação construtiva com outros homens.
É só nela que existe o espaço suficiente para que ele realize todas suas potencialidades como ser político, como construtor, como artista.
Desde a pólis grega, foi sempre nas cidades que o futuro da humanidade foi escrito. O renascimento não existiria sem Firenze e Roma. As caravelas que fizeram os grandes descobrimentos partiram de Gênova e Lisboa. A Revolução Francesa aconteceu em Paris. Foi com a tomada do Palácio de Inverno em São Petersburgo que se deu início à Revolução Comunista. As Torres Gêmeas, cuja destruição provocou a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, estavam em Nova York.
Juscelino dizia que o Brasil precisava de uma nova cidade como capital e Niemayer e Lúcio Costa construíram Brasília, essa bela e grande cidade onde antes não havia nada.
Os poetas populares cantam sempre as grandes cidades, como o Rio de Janeiro (Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil. Cidade maravilhosa, coração do meu Brasil, de André Filho); São Paulo (Sampa - Alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João. É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi da dura poesia concreta de tuas esquinas, a deselegância discreta de tuas meninas, do Caetano Veloso); Porto Alegre (Porto Alegre me faz tão sentimental. Porto Alegre me dói. Não diga a ninguém, Porto Alegre me tem. Não leve a mal, a saudade é demai s. É lá que eu vivo em paz, do Fogaça)
Os poetas maiores, como Carlos Drummond de Andrade, também cantaram as cidades
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem,
enquanto outros, vingadores, se elevam.
Onde antes havia um campo aberto, um lugar selvagem e sem ordem, o homem organizou os caminhos. Traçou ruas, criou praças, tornou possível a proximidade entre as pessoas. Criou espaços: aqui a escola, ali a igreja, mais adiante o teatro, o estádio para esportes, e pôs tudo isso em mapas, para as pessoas pudessem rapidamente chegar aos seus destinos.
Pena que a maioria delas seja ainda cidades divididas por muros e cercas que separam brancos, de negros, ricos, de pobres.
Mas isso não é culpa das cidades. É culpa do sistema capitalista, que as criou quando destruiu o feudalismo, mas que não percebe que seu tempo terminou e não dá lugar ao novo, ao socialismo.
Eu gosto muito das cidades, como também um dia cantou Renato Russo (Acho que gosto de São Paulo e gosto de São João. Gosto de São Francisco e São Sebastião).
Gosto de Paris, de Porto Alegre, de Berlim, de Pelotas, de Amsterdam, de Viamão, da Colônia do Sacramento, de Torres, de Rothenburg ob der Tauber, de Lujan, de São Miguel das Missões, da Pinheira, de Karlov Vary, de Rio Grande, de Cuzco, de Cidreira, de San Pedro do Atacama e também de Sebastião do Caí.
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS.
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