Nos últimos dias o cidadão tem sido bombardeado com notícias alarmistas que proclamam uma hecatombe financeira, classificando o país a sério candidato a caloteiro... Tal campanha obviamente não é inocente e visa criar um sentimento de culpa que permita continuar a transferir, até ao último tostão, activos do Trabalho, por via da perda de poder de compra dos salários e pelos impostos.
Bem que os responsáveis políticos e economistas situacionistas se têm esfalfado em argumentos para justificar o ataque inusitado dos especuladores financeiros internacionais ao nosso país. Há quem vá mais longe e afirme que toda esta turbulência financeira tem por objectivo desvalorizar o Euro e por essa via desmembrar a União Europeia, pelo que decidiram, como bons estrategas militares que são, atacar primeiramente os flancos mais fracos (Grécia, Portugal e Espanha). Ninguém porém, quanto a nós, não só não revelou a verdadeira natureza desta golpada, como não se atreve a chamar os bois pelo nome, manobra a que alguns sábios da nossa praça têm até a lata de afirmar que os mercados têm sempre razão Ah pois!
A História deveria servir para prevenir a repetição de erros. Todavia não tem sido o caso e até se olha para ela com desdém. Daí que seja fácil a manipulação dos acontecimentos sem que o cidadão tenha de tal consciência. O controlo dos mercados financeiros sempre se fez pelos grandes especuladores, para os quais a lei de oferta e procura é letra morta, como o é, à medida que se formam os Oligopólios. Apenas serve para convencer os incautos da pseudo neutralidade dos mesmos. Vamos citar um dos factos, talvez o mais emblemático, que ilustra o que acabámos de afirmar e que mostra o modus operandi dos agiotas que operam e sempre dominaram o Sistema Financeiro Internacional.
Decorria o ano de 1815 e a Europa preparava-se para uma batalha decisiva quanto ao seu futuro. Os beligerantes principais eram a Inglaterra e a França, que disputavam entre si a hegemonia política e económica sobre o mapa europeu e adjacências. A 18 de Junho, no vasto cenário de Waterloo, na Bélgica, de um lado perfilava-se um exército multinacional, comandado pelo inglês Duque de Wellington, e, do outro, um exército experimentado, com imenso prestígio, embora desgastado pela campanha mal sucedida da Rússia, liderado pelo grande estratega militar, Napoleão de Bonaparte, que conseguira mais pelas armas, destronando velhas monarquias, do que conseguiram as ideias liberais da Revolução Francesa
As expectativas do desfecho da Batalha de Waterloo eram muito grandes e a derrota bonapartista era a mais expectável, inclusive na Bolsa de Londres, já então uma das mais importantes do Mundo. Nathan Rothschid, um dos cinco filhos varões do famoso agiota de Franckfurt, Mayer Amshel Rothschild, era um dos especuladores mais atentos ao desenlace da mesma. Para tanto, dispunha no terreno de uma vasta e bem montada rede de comunicações que lhe dava nota dos acontecimentos quase em cima da hora, de uma forma mais rápida que os próprios Serviços de Intelligentsia Militar, pelo que para os seus pares da bolsa esta era muito fiável. Qualquer sinal de Nathan era uma indicação segura para a compra ou venda de acções.
A batalha decorreu todo o fatídico dia 18 de Junho de 1815 e, se numa primeira fase parecia favorável a Napoleão, que conseguiu bater em retirada os prussianos, a verdade é que, com o tempo, o Duque de Wellington foi ganhando posições ao Exército Imperial. Quando o esperto do Nathan toma conhecimento que Bonaparte estava irremediavelmente perdido, anunciou em Londres, através dos seus agentes, a notícia contrária, ou seja, a vitória napoleónica. O valor das acções caiu a pique como um grande naufrágio... A manobra contudo não estava completa. Nathan Rothschild deu então ordens de compra de tais papéis, praticamente sem valor. Quando o verdadeiro desfecho da Batalha de Waterloo chegou à City, em que se tornou público que a força multinacional tinha afinal imposto uma pesada e definitiva derrota a Napoleão, as acções subiram praticamente à mesma velocidade que haviam caído e o Rothschild, do ramo inglês, que já era um banqueiro londrino importante, viu a sua manobra especulativa coroada de total êxito à conta dos papalvos Estima-se que em poucas horas a sua riqueza aumentou 2 000%. É obra!
As empresas de notação financeira, que não são entidades independentes e menos ainda escrutinadas pelos Estados, desempenham hoje o mesmo papel manipulador que Nathan inaugurou no fatídico dia 18 de Junho de 1815, indiferente aos milhares de vidas que se perderam em Waterloo. Trata-se pois de um instrumento ao serviço do Sistema Internacional Financeiro, onde pontifica inclusive a poderosa família dos Rothschild, que através de uma pseudo classificação científica do desempenho dos devedores, procura maximizar os rendimentos do lado do Capital Financeiro Especulativo no mais curto prazo de tempo. Veja-se que em menos de três meses Portugal pagou mais cerca de 4 vezes de juros por 500 milhões de Euros em bilhetes do Tesouro, agora emitidos, com o mesmo período de maturação, ou seja, 6 meses. Era 0,739% e passou para 2,955%! Isto como resultado imediato da notação financeira alarmista de tais empresas. É no mínimo ultrajante!
Evidentemente que tal manipulação conta com muitos agentes internos, que invariavelmente repetem como papagaios aquilo que convém aos especuladores internacionais. Não denunciam o cerne da questão, como por exemplo, por que carga de água os Estados da União têm que se sujeitar a juros especulativos do Mercado Financeiro Internacional quando existe um Banco Central Europeu, que empresta dinheiro a esse mesmo sistema a uma taxa de juros praticamente simbólica? Por que não o faz directamente? Para que serve então um tal banco se os princípios de coesão económica e monetária da Zona Euro não são tidos em conta numa situação destas? Na verdade fazem o jogo dos seus donos, procurando convencer o pacato cidadão de que não há alternativa e se convença que tem que apertar ainda mais o cinto
Todavia a maior responsabilidade vai para os governantes e neste particular o actual tem sido campeão. Não cremos que desconheçam os factos que aqui referimos. Simplesmente aceitaram e seguem o caminho mais conveniente aos seus interesses pessoais, completamente indiferentes ao Futuro do País, que há muito o hipotecaram, através de opções políticas erradas, sem referendo, que agora se revelam de todo inadequadas ao nosso Desenvolvimento Económico e Social. Porreiro, pá! Lembram-se? Ora toma, que é democrático!
Ponta Delgada, 7 de Maio de 2010
Artur Rosa Teixeira
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