Cartas da Bolívia: Ódio Étnico e Regional Voltam com Tudo

Cartas da Bolívia: Ódio Étnico e Regional Voltam com Tudo

Como sempre batendo palma para louco dancar, a mídia alternativa mundial, voz no deserto da ignorancia social, previa o desastre político e social que se desencadeia no país andino desde a ridícula "revolução democratica" da direita boliviana, tendo a farsante religião como pilar fundamental. Sob as bençãos de Tio Sam, velho e envelhecido lançador de migalhas às elites latino-americanas. O antiquíssimo filme, de novo na região

Edu Montesanti, da Bolívia especialmente para Pravda.ru

"Agora somos livreeeeeeeeeees!!!!!!!!!" [supostamente da corrupção e da tirania], disse entre inúmeros fogos de artifício Luis Fernando Camacho, na multitudinária e colorida manifestação popular em Santa Cruz de la Sierra, recém chegado de La Paz na madrugada de 11 para 12 de novembro (video), um dia após a derrubada de Evo Morales, forçado pelos militares locais.

"O que está acontecendo não é outra coisa, senão que essa gente travestida de democrática e religiosa está livre de seus inimigos políticos", foi o pensamento imediato deste repórter naquela festiva madrugada cruzenha. 

Quando, durante os 21 longos dias de paralização na Bolívia, foi ficando claro que o entao presidente Evo Morales já não tinha mais forças e seria derrubado, estava mais que claro para toda a mídia alternativa mundial que a nação andina estava mergulhando em tempos de profundo retrocesso, grave caos político e social.

"(...) Sua "colla" de merda! Vai embora daqui! Isso [vender sucos naturais nas ruas do centro da predominantemente branca Santa Cruz de la Sierra] não é trabalho, sua vagabunda! Estou na minha terra (...)."

Foram algumas nas inúmeras ofensas de uma senhora, branca e loira acompanhada de uma menina de cerca de seis anos de idade que pareria ser neta, a uma ambulante oriunda da região predominante indigena boliviana (o Ocidente do País), que chorava enquanto guardas municipais, bem proximos do local do crime, mantinham o mais absurdo, covarde e vexatório silêncio sob uma enorme plateia nas imediações da animada Praça 24 de Setembro em pleno centro de Santa Cruz de la Sierra, de cujo espaço a senhora indígena de cerca de 35 anos fora expulsa a gritos intermináveis.

Nada parecia estar fora da normalidade cruzenha, então. Algo como se duas meninas bolivianinhas estivessem brincando de ioiô na pracinha.

Apenas faltaram palmas à "camba" (bolivianos orientais). E as cacetadas da Guarda Municipal... na "colla" (termo que tem por objetivo ofender, embora suas origens historicas nao sejam ofensivas pois se referiam aos indios desde cinco seculos depois de Cristo na regiao hoje corrrespondente ao territorio boliviano) que, em terra de 80% de trabalhadores informais pelas ruas do Pais, incluindo Santa Cruz de la Siera, ganhava a vida honestamente. 

Fugia dos berros e xingamentos, que pareciam empurrá-la ao outro lado da rua como fortes ventos, com seu carrinho de sucos. Impotente. Melancolicamente solitária, aquela mulher fugia de mais um criminoso festival da baixaria etnica cruzenha.

Havia outras pessoas dedicando-se, como todos os dias, à venda informal ali, inclusive sucos naturais. Porém, aquela mulher de pele vermelha e roupas tradicionais fora, por um motivo bem sabido em solo boliviano, o alvo daquela "criolla" cruzenha, mais uma vitima dos autoconsiderados cidadaos bolivianos europeizados.

 "A Espanha Grandiosa, con divindade benigna, aqui semeou o sinal da redenção", trecho do hino de Santa Cruz de la Sierra.  

 O escándalo de um lado so, com forte aspecto de espetaculo em uma cidade que respira discriminacao ate pelas pedras contra qualquer coisa por mais insignificante que seja, especialmente contra os chamados "collas" (cidadaos do Ocidente boliviano, majoritariamente indigenas conforme anteriormente observado), estendeu-se por mais de meia hora naquela tarde da primeira semana de dezembro, pouco menos de um mes da derrubada de Evo Morales. 

 

"Eu apenas estava passando pela Praça, um homem me pediu um copo de suco, quando eu estava saindo dali, atravessando a rua, aquela mulher comecou a gritar e a me ofender sem parar", disse em lagrimas a ambulante a este repórter. 

 

Enquanto falava com Pravda.ru, ela era ordenada pela mesma Guarda Municipal que se omitiu diante dos graves crimes de discriminacao contra ela mesma, a se retirar do local (!), do outro lado da rua em frente a Praça 24 de Setembro. 

 

Na Praça nao e permitido vender com grandes objetos, como o carrinho de mao que portava aquela senhora que apenas passava pelo local (algo permitido, inclusive efetuar vendas de passagem como ela havia feito). Contudo, ela estava no momento da expulsao por parte dos policiais, fora da Praca, na calcada do outro lado da rua, o que não e proibido.

 

Este reporter disse aos policiais:

 

- Acarreta muito mais danos à Bolivia o crime que aquela senhora cometeu, que esta vender seu suco por aqui,

 

Ao que foi respondido: 

 

- Não estavamos aqui naquele momento - sugerindo que se estivessem, tomariam as medidas cabiveis.

 

Este reporter, então, apontou imediatamente a outros policiais que, frente a nos, estavam ali durante todo o tempo de ofensas:

 

- Aqueles agentes presenciaram tudo, o tempo todo, e não fizeram absolutamente nada!

 

Como o cinismo nunca pode ficar de fora dos ataques as diferencas, a excusa policial a Pravda.ru nao poderia ter sido mais ridicula (fora da Praca, enquanto expulsavam a comerciante):

 

- Nosso trabalho aqui, e não permitir que ambulantes vendam na Praça -, o que não e verdade:: a atribuicao da Guarda Municipal e tambem, e sobretudo, zelar pelo maior patrimonio boliviano: o cidadao e sua integridade, moral e fisica. Esta tese foi confirmada por oficiais da Policia Nacional a Pravda.ru, posteriormente quando relatado esse fato deploravel de inicio de dezembro.

 

"Se Camacho atingir seus objetivos de derrubar Evo, esse clima de discriminação, racismo, ódio e violência profunda voltará à Bolívia, como ele é aliado de Ruben Costas", disse a Pravda.ru na primeira semana de novembro, as vesperas da derrubada de Evo Morales um cidadao boliviano de La Paz, proprietario de um simples hotel na regiao central de Santa Cruz de la Sierra.

 

Nao que Evo Morales tivesse sido o paladino da aintidiscriminacao e dos valores indigenas. Foi em seu governo que ocorreu o massacre contra os indigenas de Tipnis, em 2011. Como presidente, Morales inclusive utilizou muito os termos discriminacao e indios demagogicamente, como esconderijo politico por vezes de maneira bastante descarada.

 

Mas houve avancos em seus 13 anos na Presidencia em favor dos povos originarios como nunca antes em dois seculos de historia da nacao boliviana, e em favor dos direitos humanos em geral - fato reconhecido pelas minorias como LGBT, ouvidos por esta reportagem.

 

O neocolonialismo retorna com furia total na Bolivia. Trata-se do Imperio de turno, com os velhos e envelhecidos fantoches religiosos e elitistas, espalhando divisão e ódio na terra mais cultivavel do mundo, que é a boliviana onde existe a maior diversidade de alimentos no Planeta.

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey