A U.E. e a questão do Kosovo
O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, esteve em Lisboa na segunda-feira para debater os principais assuntos internacionais, entre os quais a Palestina, África e Kosovo. Porém, relativamente a esta Província da Sérvia, não pertence nem a Ban Ki-moon, nem a Portugal, decidir qualquer coisa que fosse. Que se metam na sua vida.
A leviandade com que se refere a Kosovo e a sua possível ou eventual independência é chocante, é imoral, é intrusivo, é intrometido e além de criar um perigosíssimo precedente, vai contra tudo que a ONU tem estado a fazer há meio século, nomeadamente o reconhecimento definitivo das fronteiras estabelecidas como pré-requisito de uma comunidade internacional que convive em paz.
Sendo Kosovo parte integral na República da Sérvia, cabe a Belgrado e mais ninguém decidir se esta sua Província tem autonomia, independência ou não, pois os albaneses podem constituir a maioria no Kosovo mas na República da Sérvia são uma minoria.
Como é o habitual, e lamentavelmente, a história tem sido deturpada pelos opinion makers ocidentais e esta abordagem vai de mãos dadas com a demonologia atirada contra os Sérvios, para ajudar o lobbying de Washington, com cada estado-membro da OTAN curvando-se numa tentativa de ser ainda mais servil do que o próximo.
Pouco ou nada é referido que Kosovo é o sistema nervoso central da Sérvia, sendo o coração do psique colectivo da Nação da Sérvia e seu povo. Pouco ou nada tem sido escrito sobre as dezenas de milhares de mulheres albanesas que foram a Kosovo parir, para que os seus filhos pudessem ter uma vida melhor na então Jugoslávia do que no Inferno de onde vieram os tribos da Albânia.
Nada foi dito sobre as suas constantes reclamações e revindicações por cada vez mais autonomia, cada vez mais direitos, nesta terra Sérvia e por isso aos albaneses, alheia. Com a Sérvia a defender seus direitos na sua própria terra, e com Eltsin a trocar favores em retorno pelo seu silêncio, abriu-se um capítulo mais perverso, a Ushtria Çlirimtare e Kosoves Exército de Libertação de Kosovo, que nem era um exército mas sim, um bando de oportunistas e terroristas e nem tinha nada a libertar, pois Kosovo nunca pertenceu, nem pertence, nem pertencerá a eles que têm a Albânia.
As ligações da UÇK ao Congresso norte-americano são bem conhecidas como também são as redes de tráfico de drogas, armas e seres humanos que controlam. Pouco ou nada foi referido durante o acto de terrorismo da OTAN em Kosovo e Sérvia, enquanto massacrava civis e fazia crimes de guerra, que muitas albanesas fugiam para as linhas dos Sérvios onde procuravam refugio, para não serem vendidas na Itália pela UÇK.
A única coisa que a política terrorista e assassina da OTAN conseguiu fazer, não foi justiça mas sim, criar um vácuo desde que a Província sérvia de Kosovo foi colocada sob a administração da ONU em 1999.
Junta-se à posição absurda de Martti Ahtisaari, o Enviado especial para Kosovo (independência sob supervisão internacional) as preocupantes declarações de Ban Ki-moon, que quanto mais cedo a questão se resolve, melhor. É que a União Europeia não tem qualquer papel relevante na resolução desta questão, pois não tem qualquer jurisdição de alterar a Constituição da República da Sérvia.
Qualquer forma de independência de Kosovo abriria a porta para justificar um sem-fim de causas e conflitos, pois definitivamente riscava da mapa da diplomacia a noção de que as fronteiras já estabelecidas são invioláveis.
Se Portugal ou a União Europeia consideram que têm o direito de deliberar sobre o futuro de Kosovo, uma analogia para colocarem os valores em perspectiva: imaginemos que cidadãos de um país vizinho, com costumes e religião diferentes, se instalassem em Guimarães, e durante séculos passassem a ter famílias de dez crianças, até que tivessem uma maioria. Depois imaginemos que reclamassem a sua independência, formassem um grupo terrorista (Exército de Libertação do Minho, contra Portugal), ficassem com o apoio de Washington, que juntamente com a OTAN, bombardeassem os portugueses que combatiam este flagelo e depois insistissem que a província ficasse independente, sendo Guimarães a sua cidade capital.
Quem não gostasse da ideia, se meta a resolver questões bem mais pertinentes e que têm a ver com Portugal e a União Europeia, como por exemplo os problemas resultantes das centenas de anos de imperialismo, colonialismo, arrogância e prepotência exactamente o que vemos na sua abordagem a Kosovo.
Timothy BANCROFT-HINCHEY
PRAVDA.Ru
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