O cinema atlântico

Quem, como eu, tenta se habilitar a ser um pesquisar ligeiro e pouco profundo, corre o risco de surpreender-se de forma negativa com a ausência de informações virtuais sobre o objeto pesquisado. Muito embora tenhamos hoje à nossa disposição um grande manancial de informações, seja no google, na wikipédia ou em diversos blogs e sites de pertinazes pesquisadores, em determinados momentos esbarramos na ausência quase total de dados e informações. Sinto isso aqui e agora, ao pesquisar sobre o extinto Cinema Atlântico, do Pina.

Clóvis Campêlo

Do fundo da memória, extraio apenas que o cinema marcou a minha infância e adolescência, com os filmes fantásticos de Cantiflas, Hércules, Macistes; as chanchadas da Atlantida, com Oscarito, Grande Otelo, Ankito e vários outros; os filmes de Drácula, com Cristopher Lee, etc, etc, etc.

Na grande rede, encontro um quase nada de informações sobre o cinema. Apenas no site da Universidade Federal de Pernambuco, sob o título de "Conheça a história do Recife através dos seus teatros", descubro o seguinte: "Teatro Barreto Júnior - Localizado no bairro do Pina, foi o primeiro teatro da Zona Sul da cidade, que recebeu o nome do ator José do Rego Barreto Júnior. O espaço é resquício do Cine-Atlântico, que resistiu às demolições e fechamentos pelos quais passaram muitos cinemas do Recife no início da década de 80. A fachada ainda é mesma de seu estilo original, preservado até 1985, quando foram iniciadas as obras de restauração".

Nem mesmo no site da Fundaj, em um bom artigo escrito por Lúcia Gaspar sobre os cinemas antigos do Recife, encontro referência ao Cinema Atlântico do Pina.

Volto à memória e relembro que do final dos anos 50 até 1971, fiz do Cinema Atlântico o meu lugar preferido para a apreciação da chamada sétima arte, com a sua programação popular e voltada para o público da classe média e do povão, que predominava no bairro naquela época.

O cinema era localizado em um prédio simples, sem muito luxo, com entradas e bilheterias pela Rua Conselheiro Aguiar e saídas pela Rua Estudante Jeremias Bastos, antiga Travessa Herculano Bandeira. Aos domingos, antes das matinês, a criançada trocava gibis na calçada principal.

Durante um certo tempo, a segurança e o policiamento do local foram feitos pela Polícia Mirim, composta principalmente de jovens e adolescentes requisitados nas comunidades mais carentes do próprio bairro. Geralmente eram pessoas conhecidas e que participavam conosco das peladas na praia do Pina. Lembro especificamente de Pinduca, um desses policiais mirins que morava numa rua próxima à nossa. Era irmão de Jorge Gabiru, um cara bom de bola que chegou a se profissionalizar e jogar em Portugal. Ganhou dinheiro e gastou tudo. Hoje sobrevive como cambista nos estádios do Recife. Costumo sempre encontrá-lo, em dias de jogos do Santa Cruz, trabalhando no Estádio do Arruda. Pinduca, hoje já falecido, tinha o dom de escrever paródias picantes feitas em cima de grandes sucessos da MPB. Uma figura e tanto. Pois bem, aos domingos, durante as matinês no Cinema Atlântico, era comum vê-lo vestido com a sua farda verde oliva tentando por um pouco de ordem naquela bagunça juvenil, uma missão quase impossível.

 

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