Adilson Roberto Gonçalves
Será que a sanha golpista dos militares brasileiros ainda é fruto da Guerra do Paraguai? Depois de 160 anos, um grupo de supostos servidores do Estado brasileiro pensa ser o dono da verdade e, com a força, quer subverter qualquer outra ordem social. Só não conseguiram desta vez porque alguns generais não aderiram a mais um golpe. Desconhecem a história e querem impor uma narrativa mentirosa de caça a inimigos internos (comunistas, quase sempre) para “proteger a Pátria”. Isso sem contar a vergonhosa folha salarial, inflada e estendida a descendentes.
A Coluna Prestes está completando 100 anos e vemos o quanto houve de degradação do espírito militar ao longo do tempo, que resultou nos golpistas de 64, renovados em 22. Nos anos 1980 estávamos com a faca no pescoço e engolimos uma anistia aos militares, mas, agora, temos ao menos um Supremo forte que pode dar um basta nessa sanha usurpadora do poder que se infiltrou nas Forças Armadas há décadas. Deveria começar com as prisões, a diminuição dos privilégios e a reformulação dos currículos de formação para que aprendessem um pouco de história verdadeira, não ficção de caça aos comunistas.
Pergunta-se “o que andam ensinando nas escolas militares?”, pois além da sanha golpista inseminada nas mentes dos militares formados, eles sofrem de uma explícita ignorância histórica e social. É clara a contradição que existe na expressão “inteligência militar”. E querem impor a escola cívico-militar aqui em São Paulo! Precisamos de Paulo Freire nas Academias Militares, isso sim.
O professor de direito penal Davi Tangerino, em artigo na Folha de S. Paulo intitulado “Criticar Bolsonaro não deveria ser tão difícil para a direita” (3/12), faz uma alusão à Vaca Voadora, livro de Edy Lima de 1976, para mostrar a distopia vivida e criada pelos bolsonarentos e extremistas de direita, comparando com a impossibilidade de um bicho desse voar. A obra infanto-juvenil é uma bela estória que gira em torno da alquimia, mas os que engendraram o golpe não carregam nenhuma inocência. Duvido que haja alguma direita esclarecida ou que o governador fluminense de São Paulo possa ser enquadrado como moderado, como o autor propõe. Fato é que, mais uma vez, nossa democracia esteve por um fio e continuará em perigo caso os responsáveis, de generais ao capitão, repito, não sejam devidamente processados e punidos.
Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp – Rio Claro-SP
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