Resposta ao vereador da extrema direita

Adilson Roberto Gonçalves

 

            Nelson é personagem de um longo e inédito conto de minha autoria, um jornalista que faz papéis múltiplos para sobreviver. O mundo fictício em que vive não é muito longe da realidade e os devaneios são justificados por ser uma obra de ficção, diferente do que seu homônimo venha a escrever.

            Havia pensado nesta resposta ao vereador da extrema direita de Campinas-SP com ressalvas, pois posso estar apenas dando publicidade a ele, além de eventuais problemas pessoais. Porém, decidi fazer uma boa resposta, com título adequado, neste importante veículo progressista, sabendo que ele não vai ler. O artigo publicado no Correio Popular daquela cidade em 30/12/2023 foi um extenso libelo contra a democracia, o bom senso e repleto de preconceitos e outros crimes. Assim, faço um contraponto, tópico por tópico, para o devido registro.

            Ele inicia dizendo que a “esquerda adora o pobre cada vez mais pobre”, quando são justamente nos governos progressistas em que há melhoria na distribuição da renda e diminuição da desigualdade social. Ou seja, já inicia com a estratégia da extrema direita de repetir mentiras à exaustão para tentar transformá-las em verdades, pelo menos para seus ainda apoiadores e admiradores. Segue afirmando “finalizo o ano com a sensação de missão cumprida” e desejamos que assim seja, que 2024 seja o último ano de sua vida como parlamentar. Lamenta que “teve que limpar as cacas da esquerda”, esquecendo-se que o atual prefeito Dario Saad foi criado pelo anterior, Jonas Donizetti, hoje apoiador da Presidência de Lula, a tal esquerda como ele rotula tudo que é progressista e social.

Pautas retrógradas

            O principal aspecto de suas pautas retrógradas é o combate às drogas, tratando o usuário como criminoso e obrigando-o a internação compulsória. Foca na maconha, mas não enfrenta a realidade dos fatos que é por meio do álcool que se chega a drogas mais pesadas, como a cocaína e o crack. Vai contra a saúde pública quando defende a isenção de multas contra quem não usou máscaras durante a pandemia. Ele possui uma pauta interessante de defesa de pessoas com transtornos do espectro autista (TEA), mas creio que nunca se mexeu para promover legislação que proibisse totalmente a solta de fogos de artifício, um dos problemas para pessoas com TEA.

            No âmbito educacional defende a criação de escolas cívico-militares no município, quando é exatamente o contrário que a lógica defende, ou seja, que levemos mais Paulo Freire para as escolas de formação militar, para mostrar a esses servidores públicos que educação não é hierarquia nem brincar de marcha soldado. De forma absurda, também defende que haja policiais armados em todas as escolas para reprimir a violência, contrariando todos os estudos a favor do desarmamento para promover a paz social.

            Por fim, o vereador da extrema direita continua sua tara por transsexuais, tentando proibir a participação de atletas trans em competições esportivas e sempre trazendo críticas – mentirosas, na maioria das vezes – à condição dessas pessoas.

 

 

Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia Campineira de Letras e Artes, da Academia de Letras de Lorena, do Instituto de Estudos Valeparaibanos e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas

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