No país de Macunaíma
No mundo inteiro,nunca faltaram governantes com uma queda pelo exótico.
Calígula teria feito do seu cavalo Incitatus, senador. No Haiti, Pap Doc usava o vodu e seus tom-tom macoute para aterrorizar o povo.
Mas foi no Brasil que a síndrome do macunaísmo chegou a seu ápice. Todos aqueles fleugmáticos e engravatados presidentes da República Velha e depois no Estado Novo com Getúlio Vargas, desapareceram.; JK já arriscava um imagem, vamos dizer, menos formal que o cargo antes exigia.
Mas foi com Jânio Quadros, que o País deu o primeiro grande passo na escolha de alguém capaz de representar na Presidência, o personagem símbolo do brasileiro para Mário de Andrade. Sua aparência física, a vassoura como símbolo e aquele seu linguajar pedante"fi-lo porque qui-lo" já denunciava que um Macunaima se aproximava do poder. Brizola dizia que Jânio era como um relógio Patek Philippe: uma engrenagem maravilhosa, mas que qualquer minúsculo problema desarticulava tudo.
Na ditadura, os generais mandavam prender, torturar e matar, mas não perdiam a pose. Alguns sinais do que viria depois já apareceriam porém. Costa e Silva tinha aquela mulher deslumbrada,Dona Iolanda, o empurrando para o ridículo. Ficou famosa aquela frase dela para o presidente numa visita à França: "Quem, diria, Costa (ela o chamava de Costa), nós dois aqui em Paris e você presidente do Brasil". Figueiredo já tava no limite do ridículo (gosto mais de cheiro de cavalo do que de gente) puxando briga na rua com quem o vaiasse.
Com a democratização, veio o Sarney e seus "Marimbondos de Fogo" e depois a loucura do Collor, o "Caçador de Marajás"; FHC quis retomar a majestade do cargo, mas a gente ficava sempre esperando um desbunde dele. Com Lula, a gandaia chegou ao Poder. Aquela foto dele na praia, de bermudas, carregando uma caixa de cervejas, foi sintomática.
Tudo indicava que um dia chegaríamos ao extremo e chegamos com o Bolsonaro.
Finalmente, para a alegria de alguns e a tristeza de tantos outros, Macunaíma, o herói sem caráter ,se tornou Presidente do Brasil.
Com muito orgulho de muitos (a pesquisa da Datafolha diz que já são 37%) voltamos a ser a velha e engraçada República das Bananas.
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS
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