A crise de 2008 teve como origem a bolha imobiliária nos EUA, mas teve repercussão mundial. Isso porque os EUA têm o poder de transferir seus problemas internos para o restante do mundo. Os banqueiros norte-americanos, “muito grandes para falirem”, foram socorridos com trilhões de dólares; assim, quem tinha dólar na mão viu sua riqueza diluída do dia para noite; o que deu origem a toda uma resistência mundial contra o dólar.
A exemplo disso, Rússia e China estão criando um sistema de pagamento paralelo ao SWIFT para isso; e mesmo no interior da burguesia imperialista há movimentos pelo retorno ao padrão ouro de forma a limitar o “poder exuberante” do FED, banco central dos EUA.
O mundo todo está sendo convocado a manter a riqueza dos monopólios norte-americanos pela força militar e pela chantagem política. Mas o mundo não tem mais gordura para queimar após quatro décadas de neoliberalismo intenso. A Rússia por exemplo se levantou militarmente porque estava à beira da dissolução total do país e de sua divisão territorial.
A fatura de 2008 está exigindo até a medula. Afinal o capitalismo já é um sistema apodrecido incapaz de voltar a crescer e se industrializar porque a taxa de lucro já bateu praticamente no zero na década de 1960.
Na superfície política o mais evidente é o acirramento do conflito mundial entre o imperialismo de um lado, o G7, e várias potenciais regionais e também países coloniais, de outro. Entretanto, a crise de 2008 não solucionada está sendo sobrepujada por outra crise mundial a partir da pandemia, e a pressão começa a atingir o núcleo imperialista. O bloco imperialista formado a partir da Segunda Guerra Mundial sob domínio dos EUA está mostrando rachaduras importantes.
As mais significativas estão ocorrendo na Europa. É preciso ver em perspectiva, pois a partir de 2008 vários países europeus se viram destruídos pela ação dos bancos alemães. Mesmo através desse repasse da crise a tríade principal da União Europeia não se mostrou capaz de resolver sua situação. E o que estamos assistindo é a evolução rápida e aguda da crise dos países imperialistas europeus.
A primeira delas foi a saída da Inglaterra da União Europeia, através do Brexit. A aproximação da Inglaterra aos EUA contudo não está resultando para si qualquer ganho. A economia inglesa vai de mal a pior: semana passada inclusive, a segunda maior cidade do país, Birmingham, decretou falência. A fila da sopa em Londres está gigantesca; o desemprego crescendo e a inflação também. EUA, Inglaterra e Austrália inclusive realizaram acordo militar que acabou por prejudicar o imperialismo francês, que viu suas vendas de submarinos impedida.
A Alemanha, que foi uma dos menos impactados pela crise de 2008, agora se vê enredada numa crise profunda; recessão e inflação já são vistas a olho nu. EUA levou a guerra para seu quintal e explodiu os gasodutos que abasteciam o país vindos da Rússia. A dependência do gás é tamanha que a Alemanha está ameaçada diretamente pela desindustrialização. A segunda maior potência industrial do mundo está vendo seu parque industrial ruir.
A França, que já não tem a força da Alemanha, se encontra numa situação ainda pior. Diante do levante africano que elevou o preço do urânio ao dobro do valor e a perda das receitas piratas francesas na África redobrarão a pressão interna que já se avoluma há anos. Vide os coletes amarelos.
Nesses três países chave, há ainda um fator decisivo: a classe operária está se levantando. E são os destacamentos mais organizados da classe operária mundial. Greves e manifestações pipocam pela Europa.
Ou seja, as burguesias europeias estão num dilema de vida ou morte. Continuar se submetendo aos desígnios norte-americanos e ver sua classe operária levantar-se contra si. Até que ponto os imperialismos conseguirão se manter em bloco é a grande pergunta do milhão do momento.
Afinal, se vários sócios menores dos EUA já perceberam a incapacidade da maior força militar do mundo se fazer valer de fato e começaram a se alinhar com o bloco Rússia-China, imagine a burguesia alemã e francesa que estão sofrendo diretamente as consequências das ações norte-americanas.
Assim, a guerra mundial que se desenvolve dia a dia entre o imperialismo e o resto mundo, pode fazer eclodir uma crise decisiva no interior do imperialismo. E potências imperialistas em guerra entre si elevaria a temperatura a ponto de fusão.
Leandro Monerato
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