Você sabe que é tóxico, mas volta assim mesmo: por quê?

Entenda por que tantas pessoas voltam para relações tóxicas, segundo especialistas em comportamento

Você terminou, jurou que nunca mais, chorou no travesseiro e deletou as fotos. Mas bastou uma mensagem, um encontro inesperado ou aquele “e se?” para tudo recomeçar. E mesmo sabendo que o relacionamento era tóxico, você voltou. Por quê?

Essa é uma das perguntas mais frequentes nos consultórios de psicologia. O retorno a relações emocionalmente abusivas ou desequilibradas não é falta de caráter, fraqueza ou teimosia: é, muitas vezes, um mecanismo de sobrevivência emocional enraizado em traumas, crenças e padrões psicológicos difíceis de romper.

Segundo a psicóloga clínica Mariana Caldas, muitas pessoas permanecem ou retornam a vínculos tóxicos por conta de uma estrutura afetiva dependente. “Elas aprendem, desde cedo, que amor e dor caminham juntos. O sofrimento vira uma linguagem familiar, por mais disfuncional que seja”, explica. A ausência de afeto saudável na infância ou experiências traumáticas anteriores reforçam essa tendência.

Outro fator determinante é o chamado trauma bonding — ou vínculo traumático. Trata-se de um laço emocional que se forma quando há ciclos repetitivos de agressão e reconciliação, comuns em relações abusivas. “O parceiro machuca, depois pede desculpas com intensidade, o que ativa o sistema de recompensa emocional. É um ciclo de vício”, afirma Mariana.

Existe ainda o medo da solidão. Em uma cultura que valoriza o status de “relacionado” a qualquer custo, terminar uma relação pode parecer mais doloroso do que permanecer nela. Além disso, há a idealização do outro: a esperança irracional de que ele vai mudar, melhorar, ser aquilo que prometeu no começo. Essa expectativa pode manter a pessoa presa a um passado que nunca se repetirá.

Especialistas recomendam atenção aos sinais clássicos de toxicidade: ciúme excessivo, manipulação emocional, isolamento social, críticas constantes, chantagem afetiva e ciclos de violência verbal ou física. Romper com esse padrão exige autoconhecimento, apoio terapêutico e, principalmente, redes de suporte que reforcem a autoestima e validem a decisão de partir.

Segundo o artigo publicado no portal PsychCentral, o primeiro passo para sair desse ciclo não é cortar contato, mas sim reconhecer as emoções e necessidades que sustentam a relação. Só assim é possível reconstruir um afeto baseado em respeito e reciprocidade.

Voltar é humano. Mas reconhecer que você merece mais — isso, sim, é transformação.

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Author`s name Julia Homiakova