A censura de cada um

Adilson Roberto Gonçalves

Um veículo de informação possui seus critérios para publicar um artigo de opinião. A Folha de S. Paulo, um dos famosos jornalões brasileiros, diz ser plural, mas ficou revelada a censura dos comentários a suas matérias pela pessoa responsável pela moderação, o que foi confirmado pelo ombudsman do jornal. Parte da censura é justificada pelo uso de termos chulos e ofensivos, ou seja, palavrões. Mas há comentários que criticam o próprio jornal e isso raramente é publicado. Experiência própria, pois quando quero um comentário publicado, preciso escolher bem as palavras e tentar restringir a crítica a autores que não sejam os queridinhos do jornal. Mesmo assim, a publicação é limitada. No Estadão, outro jornalão da capital paulista, o processo é o mesmo, sem a figura do ombudsman, porém lá há maior espaço virtual, com publicação de muitas das cartas enviadas no Fórum dos Leitores digital.

Censurar livros é criticado

Censurar livros, por outro lado, é duramente criticado por esses órgãos de imprensa. Assim, fez bem a Folha ao condenar a recente censura de livros em Santa Catarina, com um editorial intitulado “Leitura censurada”, mas deve-se lembrar que a mesma censura acontece em suas páginas, revelada pelo ombudsman e pela responsável por mediar os comentários. São dimensões distintas, quase opondo o público com o privado, mas tanto lá quanto cá há falta de clareza nos critérios adotados para proibir um livro ou um comentário. Essas linhas anteriores constituíram uma carta, um dos exemplos de que falei acima, repetindo alguns termos, e que não foi publicado pelo jornal.

Não quero ser o dono da verdade e procuro outros veículos de espectro mais amplo de opinião, como este Jornal Pravda, em que posso dizer coisas indizíveis por aí. Censura no texto alheio é pimenta para criticar, desde que a recíproca não seja verdadeira para os próprios textos.

 

 

Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia Campineira de Letras e Artes, da Academia de Letras de Lorena, do Instituto de Estudos Valeparaibanos e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas.

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