Democracia e/ou Educação
Não existe palavra mais gasta e usada na política que Democracia. Nas sociedades ocidentais, governos, oposições, tribunais e meios de comunicação dizem defendê-la e que todos seus atos são para preservá-la.
Os gregos que a inventaram, foram também os que deram o seu nome, juntando duas palavras do seu vocabulário - demos (povo) e kratos (poder). O poder vem do povo, só que, no conceito que os gregos tinham de povo, estavam excluídos os escravos e as mulheres, ou seja, a maioria da população.
Durante séculos, a palavra esteve excluída dos objetivos das sociedades, mas ressurgiu no século XVIII, ligada a um outro conceito, que a tornava mais real,a igualdade de direitos.
A Declaração de Independência dos Estados Unidos de 1776 dizia que "todos os homens são criados iguais e todos têm direitos inalienáveis à vida, a liberdade e à busca da felicidade". Alguns anos depois, a Revolução Francesa de 1789 proclamou, na sua Declaração dos Direitos dos Homens e dos Cidadãos, que "os homens nascem e são livres e iguais em direitos".
Os chamados "Pais da Pátria", que assinaram a declaração de independência americana, eram todos donos de escravos e os burgueses que fizeram a revolução francesa nunca estenderam às colônias africanas e asiáticas o conceito de igualdade.
Em pleno século XX, quando nas cultas Alemanha e Itália surgiram governos como os de Hitler e Mussolini, que negavam qualquer valor ao conceito de democracia, o restante do mundo civilizado se uniu em torno da defesa do resgate do seu valor como única forma aceitável de governo.
A vitória dos aliados na Segunda Guerra fazia supor que finalmente a Democracia, unida à ideia de igualdade entre as pessoas, poderia ser vencedora e se tornar uma forma universal de governo.
Mas, como todos nós sabemos, não é o que acontece, muito menos para nós brasileiros.
Desde que a república foi proclamada em 15 de novembro de 1889, vivemos no Brasil períodos de mais ou de menos valores democráticos, mas todos eles sempre pouco foram associados à busca de uma igualdade real entre as pessoas que possibilitasse a criação de uma democracia verdadeira
Algumas conquistas sociais durante os governos de Getúlio Vargas (ironicamente, uma ditadura formal), de João Goulart e nos de Lula e Dilma, foram os passos mais importantes dados até agora nessa busca.
Hoje, enfrentamos no Brasil uma clara situação de retrocesso na radicalização do processo democrático, iniciado nos governos petistas, com a disposição do novo governo de criar mecanismos voltados para a exclusão da maioria da população das decisões mais importantes para o País.
O governo Bolsonaro age no sentido de retirar direitos dos trabalhadores com a reforma da previdência, para atender o pleito dos empresários; no fortalecimento de uma legislação criminal que visa impedir manifestações de inconformismo de parte da população e na entrega ao capital internacional da grande riqueza do País, o petróleo do pré-sal.
E tudo isso está sendo feito com, senão o apoio, pelo menos a aceitação da maior parte da população que votou em Bolsonaro
Com o que chegamos à questão principal desse texto: como convencer a população que ela precisa se engajar na luta pela Democracia e que ela não deve ser apenas formal, mas real?
Espontaneamente, os seguimentos sociais que serão os mais prejudicados pelas novas políticas públicas, muitos dos quais foram eleitores do Bolsonaro, jamais se unirão para defender seus direitos.
Será preciso convencê-los disso.
Marx dizia que as massas têm a ideologia da classe dominante e Lenin lembrava que a maioria dos trabalhadores não era revolucionária, porque a condição de explorados não lhes permitia ver que podiam se libertar.
Lenin, que mais do que ninguém entendia de revoluções, mesmo depois de 1917, insistia que a tarefa mais importante do seu governo era educar as pessoas para que elas aprendessem a defender seus direitos.
Hoje, a resistência às políticas do novo governo se faz principalmente através das mídias sociais. Elas, porém, ficam limitadas às pessoas que já perceberam seus objetivos e não chegam aos que são as grandes vítimas das políticas do governo Bolsonaro.
Por que, não pensar então, num jornal popular que divulgasse a versão mais real do que está sendo feito pelo novo governo?
Getúlio Vargas ajudou a criar a Última Hora para defender seu governo. Depois, Juscelino e Jango a usaram como forma de se comunicar com a população.
Leonel Brizola criou o Clarim para expor a sua linha política.
Aqui, em Porto Alegre, temos o Sul 21, um importante veículo de mídia digital, mas que certamente é desconhecido de boa parte do público, novamente o que mais precisaria ser informado.
Por que não pensar num jornal popular que ajude a educar as pessoas para a Democracia?
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS.
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