Palmira: Emblema da "Guerra ao Terror"
"É por esta razão que eles chamam isto de Sonho Norte-Americano: você deve estar dormindo para acreditar"
(George Carlin, humorista norte-americano, 1937 - 2008)
O xeque sírio Amin Alkaram, no Brasil desde 1984 e atual líder da mesquita da capital catarinense de Florianópolis, acompanha com preocupação a situação de seu país, e em entrevista exclusiva a este autor, afirmou quando lhe apresentamos o gráfico do FBI de que 6% dos ataques terroristas dentro dos EUA de 1980 a 2005 partiram de islamitas extremistas (reportagem aqui) [http://www.globalresearch.ca/non-muslims-carried-out-more-than-90-of-all-terrorist-attacks-in-america/5333619], que "a mídia conseguiu reverter este percentual, de 6% para 96%. E os outros 4%... a outras origens não mencionadas".
O xeque Alkaram afirmou também: "Enquanto criminosos ocidentais - católicos, evangélicos etc. - são apresentados sem menção da respectiva religião, um islamita é imediatamente apresentado como tal, colocando o Islã como essencialmente terrorista. O Islã prega a paz e condena toda e qualquer agressão, a não ser a defesa. A omissão, o silêncio da Igreja Cristã perante toda essa mentira e dizimação contra sociedades árabes tem sido surpreendente. Esperávamos uma parceria com os cristãos para combater extremismos, mas infelizmente ela não tem sido possível".
Quando cidadãos norte-americanos, semana a semana, atiram contra cidadãos aleatoriamente nas escolas, nos cinemas, contra negros e até dentro de mesquitas, são discutidas as questões psicológicas do criminoso, jamais sua religião e seus valores ocidentais - cuja "superioridade moral" já está na lama desde os primeiros casos de genocídio contra os povos originários da América Latina, há mais de cinco séculos.
Esta última e grande vitória sírio-russa contra o EI é emblemática envolvendo a tal "Guerra ao Terror", e esta ocasião não pode passar sem serem observadas tal conjuntura.
É emblemática, antes de mais nada, pelo evidente fracasso norte-americano não em combater terroristas, pois isso não faz e nem nunca fez, evidentemente: mas em esconder suas reais intenções na região mais rica em petróleo do mundo. O EI e a Al-Qaeda, seu braço no Iraque, não atuavam em solo iraquiano antes da criminosa derrubada de Saddam Hussein pelos Estados Unidos, que garantiram liberdade e paz ao povo iraquiano ao contrariar a ONU, as leis internacionais e todas as evidências de que Hussein não produzia bombas de destruição em massa. Hoje, os terroristas agem livremente no Iraque sob domínio norte-americano. Nunca houve tantos ataques terroristas e nunca a sociedade local cometeu tantos suicídios na história, como agora, "libertos" pelos doutores em democracia e direitos humanos.
É emblemática pois demonstra as ideias pré-concebidas do regime de Washington, fechados em suas "verdades absolutas" que desconsideram qualquer parecer que venha d'além fronteiras. Sempre foi assim. George Bush e sua equipe de governo diziam, categoricamente, que não interessava o que diziam as sociedades internacionais e nem o que pensava a própria sociedade norte-americana:
ABC News a Bush, em 2008, último ano de Bush na Casa Branca: - A Al-Qaeda só entrou e passou a agir no Iraque após a invasão norte-americana ao Afeganistão, e ao próprio Iraque em 2003.
Resposta de Bush: - E daí?
ABC News ao vice de Bush, Dick Cheney, no mesmo ano: 70% dos cidadãos norte-americanos aprovam retirada imediata das tropas dos Estados Unidos do Iraque.
Resposta de Cheney: - E daí?
Obama hoje atua com mesma arrogância, e aí estão as sucessivas derrotas norte-americanas cujo regime não aprendeu a lição quando estava na iminência de invadir a Síria, impedido, contudo, por sua temida Rússia.
Tais fatos levam a outro fato emblemático da "Guerra ao Terror": a discriminação (leia Aeroméxico Impediu Embarque de Ator por Usar Turbante, aqui na Pravda). [http://port.pravda.ru/sociedade/incidentes/11-02-2016/40358-usar_turbante-0/#sthash.3kWH0s0H.dpuf]
Outra característica que marca estes quase 15 anos de empreitada estadunidense no "combate do "bem contra o mal", é a subserviência midiática: a ditadura da informação global, inerte diante dos interesses norte-americanos, tem se negado a questionar, minimamente, as "táticas" de Washington, assim como se negou (e não há nenhuma esperança que mude a postura daqui em diante) a questionar a versão oficial exatamente do que trouxe o mundo a este palco de invasões e guerras, isto é, os ataques de 11 de setembro de 2001 que nunca foram esclarecidos, pelo contrário, ainda paira a densa cortina de fumaça ao seu redor.
Não há jornalismo minimamente investigativo, não há construção social da realidade, ofício comunicacional. Há, sim, propaganda ditada pelo Pentágono midiático com sede em Nova Iorque.
Por fim, o grande emblema de mais esta vitória sírio-russa pode ser muito bem traduzido pela ativista pelos direitos humanos e escritora afegã Malalaï Joya, ex-
parlamentar expulsa injustamente do cargo, jurada de morte pelos senhores da guerra (sem que os EUA nunca tenha feito nada a seu favor, mesmo diante de
toda a mobilização internacional inclusive por parte da ONU: "Só o povo local pode decidir sobre o governo do seu país. Pode haver ajuda estrangeira, mas jamais
ocupação".
Eis que uma afegã, mulher e de origem pobre, estava certa: sorte dos sensatos sírios e dos bravos russos pelo uso da inteligência, sorte da humanidade. Azar
dos arrogantes Estados Unidos, Estado fracassado da história em promover a paz com suas receitas medíocres sobre democracia e liberdade - a sociedade
norte-americana que nos diga!
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(*) Edu Montesanti é autor de Mentiras e Crimes da "Guerra ao Terror" (Editora Scortecci, 2012), escreve para o Diário Liberdade (Galiza), para Global Research (Canadá), para Truth Out e para Counterpunch (Estados Unidos). Foi tradutor do sítio na Internet das Abuelas de Plaza de Mayo (Argentina) e da ativista pelos direitos humanos, escritora e ex-parlamentar afegã, Malalaï Joya. Ex-articulista semanal do Observatório da Imprensa (Brasil).www.edumontesanti.skyrock.com / [email protected]
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