Segundo o Jornal do Brasil, entre as brasileiras, 30% dizem nunca ter atingido o clímax e 60% simulam a vivência.
A revolução sexual feminina, tão elogiada nos meios de comunicação e nas mesas de bar, ainda não chegou à cama. No Dia Internacional do Orgasmo, grande parte das brasileiras tem poucos motivos para comemorar: 30% delas nunca tiveram a experiência.
A maioria se preocupa muito mais com o prazer do homem, e se sente pressionada a ter uma performance exemplar, o que prejudica a própria satisfação.
De outubro de 2007 até este mês, o sexólogo, pós-graduado em Terapia Sexual pela Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana, Amaury Mendes Júnior avaliou 142 mulheres. O estudo mostrou que 59% delas simulam o orgasmo só para agradar o parceiro e 61% só fazem sexo quando a vontade do homem prevalece.
O orgasmo feminino permanece cheio de mitos e tabus lamenta Júnior. Depois de séculos de repressão, a mulher conquistou o direito ao prazer, graças à pílula anticoncepcional.
Mas se antes o sexo prazeroso era proibido, hoje é obrigatório. O homem, ferido na sua masculinidade pelo fato da mulher conduzir a relação, exige o orgasmo dela para revalidar seu papel.
Entre as entrevistadas, solteiras e casadas, com faixa etária variada, 75% não acham que o orgasmo feminino deva sempre acontecer para que a relação seja prazerosa, enquanto 80% delas relatam que, na opinião do parceiro, a relação só é boa se a mulher atinge o clímax.
Para o séxologo, a overdose de imagens e informações na mídia e nas ruas sobre sexo fez com que a cama virasse um palco, onde o casal encena papéis.
Saber fazer sexo é algo aprendido. A maioria das mulheres só se sente liberada sexualmente depois dos 35 anos, quando conhece bem o corpo. Por isso, há tantas mulheres mais velhas com homens novos ressalta Júnior.
Não cabe pensar que o homem tem a responsabilidade do prazer. A mulher atinge isso com o tempo, perdendo preconceitos e se conhecendo melhor.
As mulheres precisam de 10 vezes mais sangue na pélvis do que os homens para se sentirem estimuladas. Atingir o prazer total é um desafio para muitas, em todo mundo. O Dia do Orgasmo foi criado na Inglaterra, depois que uma pesquisa encomendada por sex shops constatou que mais de 80% das mulheres britânicas nunca haviam chegado ao clímax.
A mulher tem muita culpa. Precisa perder o medo de gostar de sexo, não ter vergonha de buscar o que gosta. Se o cara estranhar, é porque não serve. Ela também pode só querer
transar defende Júnior.
Prazer é desvalorizado por preconceito e pouca informação
Mesmo entre as mulheres que conseguem ter orgasmo, impressões distorcidas muitas vezes impedem a vivência do prazer. No Brasil, 70% das mulheres só atingem o clímax com estimulação no clitóris, mas se sentem diminuídas por não senti-lo com a penetração e desvalorizam a experiência.
É o caso da publicitária A. S., que pensou estar com problemas de saúde por só sentir prazer clitoriano:
Fico frustrada com isso. Gostaria de ter o orgasmo com penetração. A camisinha e a pressa do parceiro para mim sempre foram empecilho conta A.S. Sempre me preocupo em bancar a sedutora, satisfazer o cara, e deixo o meu prazer em segundo plano.
Entre as entrevistadas pelo sexólogo Amaury Júnior, 73% duvidam que o orgasmo possa ocorrer sem estimulação clitoriana.
Há uma impressão, da época de Freud, que a mulher adulta deve passar do prazer clitoriano para o vaginal. O clitóris é o único órgão do corpo humano com a função do prazer. Por que não explorar esse sentido? sugere Júnior. A mulher se sente inferiorizada diante do parceiro pela necessidade do toque clitoriano, e homem se sente ofendido. Acha que não deu conta.
A pesquisa também avaliou o grau de intimidade do casal. Entre as entrevistadas, 80% disseram que não costumam se masturbar na frente do parceiro, mas 60% fazem isso quando estão sozinhas.
Metade das mulheres passa a atingir o orgasmo quando perde a vergonha do próprio corpo e consegue se tocar. Grande parte delas ainda acha que a auto-manipulação é suja, denigre. E os homens às vezes também desestimulam a iniciativa condena Júnior.
O homem no fundo ainda quer em casa a serva, a pura, e as mulheres, por mais que se digam independentes, são atormentadas por isso.
É o que aconteceu com Cristiane Medeiros, de 26 anos. Nos sete primeiros anos de casamento, nunca teve um orgasmo.
Preciso encontrar um parceiro com quem me sinta livre. Se eu estivesse numa penetração e me masturbasse, teria orgasmo, mas o homem não aceita isso conta.
Muitos acreditam que o orgasmo só é bom a dois ou que os homens têm mais instinto que as mulheres. Para o jornalista R.S., de 24 anos, o ideal é atingir o clímax junto com a parceira:
Quando não acontece ou a mulher finge, não é a mesma coisa. Fica a sensação de que faltou algo desabafa.
O sexólogo discorda da idéia. Para Júnior, o orgasmo não depende só do ato sexual em si. Ele começa desde o beijo, e tem relação com a intimidade criada pelo casal.
Os valores estão em referenciais apenas eróticos. Não dá tempo do vínculo para o prazer de ter uma relação. Quando você gosta, tem mais facilidade em ter prazer. Isso está atingindo os homens também. Muitos jovens têm tido problemas de ereção lamenta. É preciso inovar, usar brinquedos, filmes, liberar a imaginação.
Entre as avaliadas por Júnior, 56% têm uma média de 12 relações por mês e cerca de 30% de quatro a seis vezes mensais.
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