Morreu no Rio, aos 82 anos, Pedro de Lara, ex-jurado do apresentador Silvio Santos. Ele estava com câncer de próstata e se recusava a fazer tratamento. Por décadas, Pedro de Lara visitou a casa dos brasileiros nas noites de domingo - camélia rosa na lapela do terno listrado, gravata borboleta, lírios brancos em uma das mãos, microfone na outra, declamando poesias e proclamando ditados em que apenas ele via significado, escreve Estado de São Paulo.
Pernambucano de Bom Conselho nunca deixou de dar os seus aos que cruzavam o seu caminho nas ruas, praças e eventos. Era visto diariamente no Centro de São Paulo, sozinho, andando a pé. Era atencioso com quem o parava e respondia a dúvidas dos fãs sobre Silvio Santos e outros colegas de bancada como Sônia Lima.
Antes da TV teve profissão nobre, embora desconhecida, " interpretador de sonhos" no programa de rádio de Haroldo de Andrade (Rádio Globo), em meados da década de 1960. "Primeiro era menguinho, depois virou mengo, depois virou mengão, depois virou mingau", profetizou, certa vez, sobre a má fase do Flamengo. Foi aclamado.
No início da década de 1970, o rosto carrancudo e o visual extravagante (cabelos compridos, bigode de motociclista e flores, sempre flores) viraram referência no júri do Show de Calouros, parte do Programa Silvio Santos. De 1980 em diante, integrou outro sucesso da TVS, o Programa do Bozo. Era Salsi Fufu, o mais estressado da turma, parceiro de Papai Papudo e Vovó Mafalda.
Ao deixar a TV, voltou à antiga alcunha de adivinhador, agora como astrólogo das revistas Amiga e Sétimo Céu e da Rádio Atual. Aventurou-se ainda como empresário de sua esposa Mag de Lara e como escritor, ator e cantor. "No meu disco, o pau come, é nordestino da bexiga porreta!" - dizia, numa tradução livre sobre seu álbum que, como se vê, não significa nada. Sua última grande atuação foi como jurado no extinto Gente que Brilha, também do SBT, em 2004, espécie de Show de Calouros que não decolou. Da doença que o matou, o câncer, nunca falou. Recolheu-se em casa, ao lado da família.
Vai-se homem, fica o mito. E suas palavras, publicadas no Livro da Sabedoria (Editora Madras): "Todo pai corujão faz do seu filho um bobão" e "na vida tem que ter estilo, quem não tem, não é isso nem aquilo". Pedro de Lara é coisa nossa.
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