Tribunal de S. João Novo, no Porto absolveu uma mulher que matou seu marido com um machado de cozinha após 40 anos de maus tratos. A sentença foi muito aplaudida na sala. O Ministério Público tinha pedido a condenação de Maria Clementina Pires, 63, que vinha acusada de homicídio privilegiado, incorrendo numa pena que poderia ir até aos cinco anos de prisão .
Mesmo assim, nas alegações finais admitiu a aplicação de uma pena suspensa, considerando que agiu numa situação de grande exaltação. No entanto, o juiz-presidente considerou que agiu em legítima defesa e evitou tornar-se mais uma vítima de violência doméstica, de acordo com Diário de Notícias.
O crime ocorreu na madrugada de 14 de Setembro de 2004.
Neste dia o marido dela Januário Rodrigues, de pistola em punho, entrou na casa de família, desferindo dois pontapés na mulher, enquanto a insultava.
Após a entrada na sua residència, obrigou a mulher e as filhas a acompanhá-lo para um local desconhecido, cerca das duas horas da madrugada. Com uma foice e um martelo, ameaçoou todas e dirigiu-se contra a esposa, que em desespero de causa se defendeu, com uma machada, na cozinha, tendo-o golpeado, até o inanimar, vindo a falecer cinco dias depois no hospital.
"A senhora teve sorte", afirmou o juiz, considerando que "não houve excesso" nos actos praticados pela arguida.
Maria Clementina estava acusada de ter usado um machado de cozinha de 31 centímetros para matar o marido, Januário Pires, que a ameaçava com uma foice-machado com 85 centímetros. "A senhora tem ainda muitos anos pela frente, tem duas filhas, aproveite a vida", terminou o magistrado.
À saída da sala de audiências, e depois de saudada pelos familiares e amigos, Maria Clementina mostrou satisfação pelo resultado da sentença. "Foram muitos anos de sofrimento e acho que este meu caso pode servir de exemplo a outras mulheres, embora eu considere que o melhor, desde que seja possível, seja a denúncia junto das autoridades", afirmou a idosa.
A história de Maria Clementina é um caso extremo. Ficou provado que vivia enclausurada dentro de casa e proibida de sair pelo marido. Era ele quem fazia a compras e à mulher apenas cabia a tarefa de cozinhar numa cozinha improvisada na cave da casa, na rua de São Roque da Lameira, no Porto. Ali viviam o casal, as duas filhas Cristina e Teresa e duas sobrinhas com problemas psíquicos que Januário trouxe do interior para trabalhar na fabriqueta de sirgaria (utensílios para colocação de cortinas), que mantinha no rés-do-chão da habitação.
A todas eram dados maus tratos. Mesmo às filhas maiores de idade, de 36 e 38 anos, ambas com formação superior mas tolhidas pelo medo que o pai sempre imprimiu ao ambiente familiar.
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