Em Portugal, os Exames Nacionais são regularmente motivo de polémica. O número de exames, a duração da prova, os conteúdos, o nível de exigência, a correção, etc., geram acesas discussões, mas não existe qualquer estudo sobre a matéria nem relatórios técnicos que permitam avaliar a qualidade e a eficácia do sistema.
Na realidade, «os exames têm sido um tema maldito e a discussão tem estado viciada, a grande maioria dos debates atuais é bastante superficial ou artificialmente politizada. Os exames são uma prova externa necessária, mas o grande problema é que se pretende resolver as deficiências do sistema educativo português com recurso a provas nacionais», assevera Jaime Carvalho e Silva, especialista em ensino de matemática da Universidade de Coimbra (UC).
Jaime Carvalho e Silva lidera o primeiro estudo sobre os exames em Portugal, designado "Comparação dos exames nacionais em Portugal com os de 12 outros países", financiado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. A investigação envolve uma equipa multidisciplinar da Universidade de Coimbra e vários professores do ensino básico e secundário.
Comparação entre países
Assim, o sistema nacional de exames vai ser comparado com o sistema de exames dos Estados Unidos da América, Canadá, Irlanda, Holanda, Alemanha, França, Espanha, Noruega, Coreia do Sul, Singapura, Brasil e Austrália.
A escolha reflete sistemas muito distintos, esclarece o docente do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, «a França, um país com exames finais nacionais do secundário muito prestigiados e tradicionalmente exigentes; a Coreia do Sul, país asiático do topo dos rankings internacionais; Singapura, um pequeno país asiático muito mencionado em discussões sobre a qualidade dos sistemas educativos; e alguns países, como os EUA, o Canadá, a Alemanha e a Austrália, onde nem sequer há exames nacionais (mas há exames na maioria dos estados, embora não em todos).»
O grande objetivo é «confrontar o sistema português com as suas debilidades em função das experiências de outros países. Queremos perceber que exames são feitos, quem os produz e como os produz, como são corrigidos e como é controlada a qualidade das provas. Vamos também avaliar, p. ex., se os conteúdos são alinhados com os programas ou próprios do exame, o tipo de exame: escolha múltipla, resposta curta, desenvolvimento, escrito, oral, defesa de trabalhos, etc., bem como o material autorizado (tabelas, calculadoras, computadores)», salienta Jaime Carvalho e Silva.
O estudo pretende também um debate público, sem preconceitos, sobre os exames nacionais. Nesse sentido, vão ser realizadas várias conferências, em Coimbra, abertas ao público. A primeira acontece já na próxima quarta-feira, dia 22 de abril, no Departamento de Matemática da UC. O Presidente do Conselho Nacional de Educação, David Justino, vai explorar o tema "Os exames nacionais no contexto dos processos de regulação das aprendizagens".
Coimbra, 17 de abril de 2015
Cristina Pinto
Universidade de Coimbra• Reitoria
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