O Ocidente avaliou o comportamento de Vladimir Putin na Cimeira Europa-Ásia em Milão como um desafio e negligencia. Realmente, todo o mundo estava esperando um "avanço", mas Putin não justificou as expectativas. Por quê? Lidando com o presidente russo, as autoridades ocidentais insultam-no, colocam a Rússia entre os seus piores inimigos e não escondem o desejo de destruir o Estado russo e a sua fé.
Como poderia Putin chegar atrasado para o encontro com Merkel, fingindo que tinha coisas mais importantes em Belgrado, ficam furiosamente zangados os autores de um artigo publicado no jornal The New York Times dedicado à Cimeira em Milão. Em seguida, continuam, Putin desafiadoramente foi para ver Berlusconi numa party"de trufas", onde estava festejando até quatro horas de madrugada. Tal comportamento descreve Putin como um político irresponsável, portanto às seis da manhã teve um encontro "crucial" agendado com Poroshenko, alega o jornal.
"Para Putin, a sua confusão fora de controle em Milan foi apenas o mais recente demonstração entre muitas outras vezes de um estilo imprevisível, teatral, uma diplomática que ele tem utilizado durante a crise na Ucrânia para lançar seus rivais fora de equilíbrio", - diz o artigo . Putin pode "enfrentar uma receção mais difícil durante sua viajem no próximo mês para a Cimeira G 20 em Brisbane, na Austrália", - assumem os autores o artigo.
São as emoções, mas a seguir está a avaliação de mérito. "Ele ( Putin) não disse que o progresso foi feito", - argumentou Valentino Valentini, assessor de longa data de Sílvio Berlusconi presente no encontro. "A impressão era de que suas posições ficavam ainda distantes "- disse-
Por quê? O chanceler russo, Serguei Lavrov, explicou. "O objetivo das sanções ocidentais não ficam para resolver a crise na Ucrânia, mas para fazer a Rússia mudar da sua posição sobre questões-chave e os mais fundamentais e aceitar a posição do Ocidente" , - disse Serguei Lavrov neste sábado (18) em uma entrevista ao canal russo NTV. - Realmente, o verdadeiro propósito das suas restrições que sigam através das suas declarações e ações é refazer a Rússia ", - disse Lavrov. O ministro das Relações Exteriores russo destaca que mesmo que os políticos ocidentais não digam nada sobre a necessidade de mudar o regime na Rússia, mas "alguns funcionários marginalizados na Europa ficam pronunciando tais frases", - disse .
Vamos deixar de lado "comme il faut" diplomática interna de Lavrov . Na verdade, a situação é muito mais difícil. O americano Samuel Phillips Huntington na sua obra "Choque de civilizações?" (1993) revela o motivo real do Ocidente. Segundo Huntington , o Ocidente está determinado a destruir Ortodoxia ou subordinar Ortodoxia aos princípios ocidentais. Podemos ver como, por exemplo, os britânicos vão fazendo isso há séculos a passar. Combateram contra a Rússia na Guerra da Criméia (1852-1856), se opuseram às posições mais fortes da Rússia nos Balcãs e na Ásia Central, envolveram a Rússia na Primeira Guerra Mundial, foram participantes ativos na Entente durante a luta contra o jovem poder soviético , desenvolveram planos para aproveitar os campos de petróleo do Cáucaso após uma possível vitória de Hitler, estavam se preparando para um ataque preventivo durante a Guerra Fria. Hoje, assassinos e ladrões fugindo da Rússia encontram o asilo político no Reino Unido. Primeiros-ministros britânicos sempre têm estado na vanguarda de acusar a Rússia de "agressão" , e David Cameron não é uma exceção.
De acordo com Huntington, o Ocidente vai andando a destruir a cultura eslava e o Estado russo, que se baseiam na Ortodoxia. (Mesmo comunismo tem raízes ortodoxas). O sistema estatal , como a religião, veio para a Rússia a partir do Império Bizantino, e neste modelo, a lei nunca vai ter a primeira prioridade, porque para os crentes ortodoxos, a moralidade, amizade e justiça estão acima da lei. Lembremo-nos da justificação da reunificação da Rússia com a Criméia (como justa), e o que Putin disse em Belgrado: "A Rússia nunca comercializa a amizade." O modelo bizantino estipula para a unificação dos povos iguais em um Estado com a ajuda do amor, em vez do modelo de caldeirão ocidental, que é regida por leis rigorosas.
Dado que a fé tem sido motivo de inúmeras guerras ao longo dos séculos, a fusão de duas civilizações é impossível. Entretanto, isso não é necessário, devido à lei do desenvolvimento dialético do universo. Mesmo Boris Yeltsin, que vendeu tudo o que podia para o Ocidente, avisou: não expandam a OTAN para o leste, esquecendo-se de que a Rússia tem uma "mala nuclear." Putin reiterou recentemente essa idéia, dizendo que o atual conflito é um conflito entre potências nucleares.
A segunda conclusão a partir do choque de civilizações é que a Ortodoxia, e, consequentemente, a Rússia tem sua própria imagem ideal da ordem mundial. A imposição de um outro projeto é visto aqui como um ataque aos fundamentos do Estado.
Presidente Putin - não é um "mini-Gorbachev", como The New York Times escreveu. Ele não é um mercenário como Poroshenko, mas um estadista, que continuará seus esforços para tornar o modelo russo, ortodoxo a prosperar. Objetivo principal de Putin, de momento, é ter certeza de que o Ocidente veja a Rússia como um parceiro de pleno direito. Rússia perdeu esta reputação durante os tempos de Gorbachev e Yeltsin. Por enquanto, o Ocidente não o entende e espera que as sanções quebrem a Rússia.
Huntington não diz que a unidade é possível na luta entre as civilizações contrárias. Mas é possível, se há respeito e habilidades em encontrar compromissos. O que é que os anglo-saxões precisam de entender?
Primeiro. Todos os tipos de "parcerias orientais" são impossíveis sem a consulta com a Rússia. É preciso entender que Putin não permitirá os bases da OTAN aparecerem no território da Ucrânia. Vai responder adequadamente às ameaças militares extras -a implantação do sistema de defesa antimísseis e das forças de resposta rápida na Europa.
Segundo. Não nos ensinem como devemos viver. Putin prosseguirá políticas protecionistas para proteger a civilização ortodoxa, restringir as atividades das ONGs ocidentais que ponham em causa a estrutura constitucional da Rússia e a moralidade do seu povo. A Rússia não é forte pela a sua economia, mas é forte por algo o que o Ocidente não pode entender - é forte pela sua alma.
Em terceiro lugar. O presidente russo vai se comportar de acordo com o seu comportamento. Se os Sres. derrubam Milosevic, Saddam Hussein, Gaddafi, Yanukovych, é razoável supor quem segue o próximo na lista.É notável, que cada candidato antes de ficar derrubado foi primeiramente demonizado pela mídia ocidental. O mesmo está acontecendo em relação a Putin. Basta mencionar inúmeras comparações ofensivas com Hitler e ameaças de fazer "front-shirt", porque só assim é preciso lidar com "agressor" (estamos falando do primeiro-ministro australiano Abbott).
Em quarto lugar. Se Obama colocou a Rússia no segundo lugar na lista de ameaças globais, por favor, aguardem uma reação adequada.
Quinto. Releiam as memórias dos alemães, franceses e outros conquistadores da Rússia. Enviar-lhes todos os tipos de "mensagens" não é o caminho de Putin - ele vai agir com base em interesses nacionais. "Não esperem que por vantagem uma vez atingida a partir da Rússia fraca, receberão dividendos para sempre. Os russos sempre vêm para ficar com o seu dinheiro, e quando virem não vão contar com os acordos jesuítas assinados por vocês , supostamente, a justificarem suas ações. Estes acordos não valem o papel em que estão escritos. Portanto, com os russos vocês devem jogar limpo ou não jogar nunca ", disse Otto von Bismarck.
Sexto. Sua abordagem de assuntos mundiais tem um efeito destrutivo que todo mundo está a assistir. Há um grande grupo de países, atrás da Rússia, que ainda não decidiram tomar o lado da Rússia. Mas quando chegar um momento, não vão duvidar de fazê-lo.
Lyuba Lulko
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