Os verdadeiros Masters of the Universe nos EUA não são moça do tempo, mas parece que estão começando a ver de que lado sopram os ventos.
A história talvez registre que tudo começou com a viagem dessa semana a Sochi liderada pelo office-boy e secretário de Estado John Kerry, que foi recebido pelo ministro de Relações Exteriores e, depois, pelo presidente Putin.
Parece que a imagem que disparou os sinos na cabeça dos verdadeiros Masters of the Universe foi o Exército de Libertação Popular, ELP - o exército chinês -, ali, desfilando ombro a ombro com os militares russos, na Praça Vermelha, no desfile do Dia da Vitória. Nem no tempo da aliança Stálin-Mao Tse Tung tropas chineses desfilaram na Praça Vermelha.
Como manchete, é equivalente aos sistemas S-500 de mísseis russos. Adultos no prédio do Departamento de Estado fizeram as continhas e concluíram que Moscou e Pequim podem estar muito próximos de assinarem protocolos militares secretos, à maneira do pacto Molotov-Ribbentrop. O novo jogo das cadeiras musicais é mais do que suficiente, com certeza, para causar apoplexia ao obcecado com a Eurásia Dr. Zbig "Grande Tabuleiro de Xadrez" Brzezinski.
E então, de repente, em vez da demonização incansável, e da OTAN sempre a vomitar "Agressão Russa!" a cada dez segundos... lá está Kerry, a dizer que respeitar o Acordo Minsk-2 é a única saída para a Ucrânia, e que insistirá, em termos contundentes, com o vassalo Poroshenko, que pare de alardear que bombardeará o aeroporto de Donesk e arredores, a ver se ali ressurge alguma "democracia" ucraniana.
O sempre equilibrado ministro Lavrov, por sua vez, declarou que o encontro com Kerry foi "maravilhoso"; e o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov descreveu a nova ententeEUA-Rússia como "extremamente positiva".
Quer dizer então que o governo de Obama, autodefinido como "Não faça merda coisa estúpida", dá sinais de estar começando a entender, pelo menos aparentemente, que aquele negócio de "isolar a Rússia" deu em nada - e que Moscou simplesmente não retrocederá das duas linhas vermelhas que Putin demarcou: nada de OTAN na Ucrânia; e Kiev, a OTAN ou seja lá quem for, que nem pensem em atacar as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk.
Portanto, o que realmente se discutiu em Sochi - mas não vazou de lá - foi algum modo de oferecer-se ao governo Obama saída não humilhante para fora da confusão geopolítica, que o próprio governo Obama atraiu para ele, é bom lembrar, na fronteira ocidental da Rússia.
Quanto àqueles mísseis...
A Ucrânia é estado falhado já agora completamente convertido em colônia do FMI. A União Europeia jamais aceitará a Ucrânia como membro, ou pagará suas dívidas astronômicas. Ação que interessa mesmo, para ambas, Washington de Moscou, é o Irã. Não por acaso, a espertalhona Wendy Sherman - que foi negociadora-chefe dos EUA nas conversações nucleares do P5+1 - viajou também a Moscou na comitiva de Kerry. Nenhum acordo amplo pode ser alcançado com o Irã, sem a essencial colaboração dos russos em tudo, do descarte de combustível nuclear utilizado, ao rápido fim das sanções da ONU.
O Irã é nodo chave no projeto, liderado pelos chineses, da(s) Nova(s) Rota(s) da Seda. Portanto, os verdadeiros Masters of the Universe têm de ter percebido - afinal - que se trata sempre, aí, de fato, de Eurásia, a qual também, inevitavelmente, foi a verdadeira estrela do desfile do Dia da Vitória em Moscou. Depois daquela estada prenhe de significados em Moscou - onde assinou 32 acordos em separado - o presidente chinês Xi Jinping partiu a negócios para o Cazaquistão e a Bielorrússia.
Assim sendo, bem-vindos à Nova Ordem (da Seda) Mundial: de Pequim a Moscou sobre trilhos de alta velocidade; de Xangai a Almaty, Minsk e dali adiante; da Ásia Central à Europa Ocidental.
Agora já sabemos que essa jornada comercial/geopolítica em alta velocidade é imparável - e abrange o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII) [orig.Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB)], conduzido por Pequim, apoiado por Moscou. Ásia Central, Mongólia e Afeganistão - onde a OTAN acaba de perder uma guerra - estão sendo inexoravelmente atraídos para essa órbita comercial/geopolítica que cobre todo o centro, o norte e o leste da Eurásia.
O que se pode chamar de Grande Ásia Expandida já está tomando forma - não só de Pequim a Moscou, mas também de Xangai, centro comercial, para São Petersburgo, conexão para a Europa. É a consequência natural de um projeto complexo que venho examinando já há algum tempo - o casamento do enorme Cinturão Econômico da Rota da Seda liderado por Pequim, com a União Econômica Eurasiana liderada por Moscou. Putin descreveu a coisa como "um novo nível de parceria."
Os verdadeiros Masters of the Universe nos EUA parecem também ter percebido as discussões muito íntimas entre o ministro da Defesa da Rússia Sergei Shoigu, e o vice-comandante do Conselho Militar Central da China, general Fan Changlong. Rússia e China farão manobras navais no Mar Mediterrâneo e no Mar do Japão, e darão prioridade absoluta à posição comum dos dois países em relação aos mísseis de 'defesa global' dos EUA.
Há também o assunto, afinal nem tão negligenciável, da "descoberta", pelo Pentágono, de que a China tem silos com cerca de 60 misseis balísticos intercontinentais - o CSS-4 - que podem alcançar praticamente qualquer ponto dos EUA, exceto a Flórida.
Por fim, mas não menos importante, há em desenvolvimento o ultrassofisticado sistema russo de mísseis de defesa S-500 - que protegerá definitivamente a Rússia contra algum Rápido Ataque Global [orig. Prompt Global Strike (PGS)] dos EUA. Cada míssil S-500 pode interceptar dez mísseis balísticos intercontinentais à velocidades de até 15.480 milhas/hora, em altitudes de 115 milhas e com alcance horizontal de 2.174 milhas. Moscou insiste que o sistema só será operacional em 2017. Se a Rússia tiver 10 mil desses mísseis S-500, poderá interceptar 100 mil mísseis balísticos intercontinentais dos EUA quando já houver novos moradores na Casa Branca.
Mais uma vez, parece que os verdadeiros Masters of the Universe afinal fizeram as contas. Não reduzirão a Rússia a cinzas. Não derrotarão a Nova Ordem (da Seda) Mundial. Parece que estão querendo sentar e conversar. Mas contenham aí os vossos cavalos (geopolíticos): os EUA ainda podem mudar de ideia.*****
15/5/2015, Pepe Escobar, Asia Times Online
http://atimes.com/2015/05/u-s-wakes-up-to-new-silk-world-order/
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