DE CARTOLA OU DE BONÉ, DÁ NO MESMO

Em termos de mudança, a proposta dos dois candidatos com possibilidades de vencer é igual a zero. Ambos representam a continuidade do que aí está, para a alegria dos ricos e a inalterada subalternidade dos pobres.

Independentemente das diferenças de estilo, um de cartola, caprichan-

no tucanês, o outro de boné, escorre-gando nas concordâncias, os re-

sultados da eleição de um ou de outro serão idênticos: favoreci-

mento do setor especulativo, es-tagnação econômica, altas taxas

de desemprego, concentração de renda, redução dos direitos sociais, subserviência diante dos grandes interesses, privatização, a exemplo das áreas de petróleo, assistencialismo, este último destinado a aplacar os dramas de consciência dos que governam e prevenir a revolta dos miseráveis. Assim vem sendo feito invariavelmente nestes onze anos de reinado tucano-petista, em particular nos órgãos que definem a ideologia da administração, como o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Não é por coincidência que seus ocupantes têm perfil tão parecido. Palocci poderia muito bem ser o ministro da Fazenda de FHC, como Malan o de Lula, sem nenhuma alteração dos rumos dos respectivos governos. Henrique Meirelles poderia ocupar a presidência do Banco Central na gestão de FHC ou Armínio Fraga na de Lula, nada mudando também. O mesmo vale para as equipes técnicas da área econômica.

Se o escolhido do PSDB for Alckmin, o candidato será um puro-sangue neoliberal, em cuja história entra até mesmo uma obscura relação com a congregação católica criptofascista Opus

Dei. Se for Serra, que se apresenta como crítico das orientações econômicas dos últimos governos, inclusive o seu e o atual, terá de desfazer-se de suas amizades políticas, se quiser conferir um mínimo de credibilidade às posições

que apregoa, o que nem de longe parece figurar em seus planos.

O do PT, certamente Lula, um pangaré que renunciou a suas origens populares, para aderir à seita do neoliberalismo, sob as bênçãos da Febraban e os milionários financiamentos da banca para suas campanhas eleitorais.

Não há diferença fundamental entre um e outro projeto, repetimos, pois ambos se inspiram em princípios comuns, de acordo com as normas gerais do FMI e a serviço do mercado.

As diferenças são de detalhes, cada vez menores, que se vão esvaindo com o tempo.

Diante dessa desoladora, cresce a responsabilidade dos movi-mentos sociais, organizações sindicais e estudantis, partidos de esquerda, ongs, pastorais da Igreja, militantes de base e intelectuais. Mesmo com mais de um nome no primeiro turno, é preciso que seus candidatos coloquem acima de eventuais divergências a crítica rigorosa ao modelo neoliberal, que está destruindo o País e com o qual se identificam tanto o PSDB quanto o PT. Essa será sua principal tarefa, para deixar exposto perante os eleitores o conteúdo conserva- dor e reacionário das duas propostas majoritárias.

De qualquer maneira, impõe-se que essas forças progressistas estreitem sua unidade, intensifiquem todas as formas de mobilização e de luta, a fim impedir que o governo eleito, não importando qual seja, prossiga na obra de demolição das conquistas sociais e do patrimônio do povo brasileiro. Só agindo assim, terão condições de criar uma nova e poderosa alternativa política, de natureza democrática e socialista, capaz de mudar o jogo do poder em favor dos pobres e excluídos.

À noite sucede sempre a aurora, que pode estar nascendo da profunda crise que vive hoje o movimento popular, em razão das traições do PT e de seu governo.

*José Maria Rabêlo, jornalista, [email protected]

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