Esporte singular e violento

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Adilson Roberto Gonçalves

Analistas dos jornais impressos no Brasil enaltecem alguns resgates da própria imprensa, tais como os cadernos específicos para público adolescente, que foram muito bons, por sinal. No entanto, o caderno de “Esporte” nesses veículos continua no singular, como se o ludopédio fosse a única prática esportiva de interesse dos leitores. As análises continuam, especialmente por ombudsman que fiscalizam a notícia diária, e tocam em aspecto importante quando questionam se fazem entretenimento ou notícia, de forma geral e quando tratam dos esportes. No entanto, continuam a omitir que o que sobrou de caderno esportivo diz respeito exclusivamente a futebol. Colocando no plural, como outros fazem, não condiz com a realidade. No máximo quando há uma final no tênis, no vôlei ou em outra modalidade, é que se arriscam em dar a notícia, fazendo parecer que o campeonato é resumido por um jogo ou disputa. Mundiais de esportes aquáticos e paratletismo, voleibol, tênis e outras modalidades, estão acontecendo agora e com participação de brasileiros, mas ficam totalmente de fora. No mais, se querem resgatar espaço para pré-adolescentes, poderiam fazer um caderno também dos “pós-adolescentes”, aqueles que conviveram com cadernos importantes dos jornais e que hoje estão, digamos, mais maduros.

Dessa singularidade explorada de esporte único, chega-se à violência interna e externa, única no próprio futebol. Como evitar as brigas de torcidas, os assassinatos por discórdia quanto ao time preferido ou mesmo o mau exemplo dos muito bem remunerados atletas? Começaria pelo boicote. Sem sustentar clubes, não haveria torcida, reduzindo sobremaneira a violência. Mas sou suspeito para opinar, pois não vejo graça nenhuma nesse esporte, preferindo, repetindo, as bolas muito mais rápidas do vôlei e do tênis.

Um outro aspecto que ficou explícito e que mistura dois tipos de violência moderna foi a baixa adesão de empresas brasileiras para liberarem seus funcionários para poderem assistir aos jogos da Seleção Feminina de Futebol em contraponto com o que acontece com o equivalente Masculino. Sim, nossa equipe já foi eliminada na Copa do Mundo, mas avalio que essa indisposição deve estar diretamente relacionada com o aumento de estupros de mulheres no país. Especulativo, eu sei, mas medidas sociais acerca da misoginia e machismo não são feitas diretamente, porém esses dois indicadores não deixam dúvidas sobre o que somos ou nos tornamos como sociedade.

 

 

Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia Campineira de Letras e Artes, da Academia de Letras de Lorena, do Instituto de Estudos Valeparaibanos e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas.

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