Conforme a sentença, Brito deverá cumprir 19 anos de prisão por homicídio qualificado e 1 ano e 8 meses por ocultação de cadáver. Como foi encontrada apenas a ossada do garoto, não foi possível determinar se o réu chegou a abusar sexualmente dele ou a emasculá-lo (retirar os órgãos genitais), como é acusado de ter feito com outras de suas supostas vítimas.
Na segunda-feira, Brito chorou ao ser interrogado pelo juiz Márcio de Castro Brandão, e disse que, quando era criança, foi espancado "até sangrar" pela avó materna - com quem vivia - e sofreu abusos sexuais por um homem chamado Carlito. Ao confessar ter matado o adolescente, Brito disse tê-lo associado ao seu suposto agressor. "Estava vendo o Carlito na minha frente."
Inicialmente, de acordo com o processo, Brito alegava que o garoto morreu após bater a cabeça em uma árvore e cair, enquanto os dois apanhavam açaí. Quando terminou a sessão, o advogado de Brito, Erivelton Lago, afirmou que não pretende recorrer da sentença nem acompanhar o réu nos próximos julgamentos.
Uma das testemunhas do processo ouvidas pelos jurados foi a mãe do garoto, Rita de Cássia Vieira. Em um depoimento emocionado, ela disse ter visto o filho pela última vez no dia 6 de dezembro de 2003. "Percebi que tinha algo estranho com meu filho, mas não pude conversar com ele, pois estava atrasada para o trabalho." Segundo o TJ (Tribunal de Justiça) do Estado, na mesma noite, a mãe soube que o menino havia desaparecido após ter sido visto com o réu.
A irmã do mecânico, Eliane Rodrigues de Brito, também prestou depoimento e falou sobre a infância dele. Ela confirmou que o irmão apanhava da avó. A psicóloga forense Maria Adelaide Freire Caires, também ouvida na terça (24), afirmou que disse o mecânico sofre de perturbação mental com transtorno de personalidade. Para ela, Brito possui uma capacidade reduzida, mas que é suficiente para que ele saiba que sua ação é criminosa, de acordo com informações do tribunal.
Em abril de 2004, a polícia encontrou duas ossadas enterradas na casa de Brito. O mecânico, então, disse ter matado outros meninos, de acordo com a polícia. Apesar de admitir os assassinatos, ele diz não lembrar do momento ou motivos dos crimes.
Brito responde a outros 22 processos na Justiça do Maranhão relativos à morte de 24 meninos entre 9 e 15 anos de idade, ocorridas entre 1991 e 2003 em São Luís, Paço do Lumiar e São José de Ribamar. Os assassinatos ocorreram entre 1989 e 1993.
Segundo o Ministério Público, os exames realizados nos cadáveres encontrados --a maioria por meio de indicações dadas pelo próprio réu-- mostraram semelhanças entre os crimes. Brito teria matado as crianças por asfixia ou com objetos cortantes; abusado sexualmente e emasculado --retirado os órgãos genitais-- algumas delas. Em alguns casos, os meninos tiveram os corpos carbonizados e as cabeças, arrancadas.
A negligência na investigação sobre as mortes dos meninos ao longo dos anos rendeu ao Brasil e ao Estado do Maranhão um processo na OEA (Organização dos Estados Americanos). Desde abril deste ano, o governo do Maranhão paga uma pensão mensal de R$ 500 às famílias das vítimas, como parte de um acordo intermediado pela OEA.
Fonte : Folha Online
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter