Frente contra o Fascismo
Marino Boeira
Quando se debate no Brasil a necessidade de uma frente política ampla para combater as tendências fascistas do governo Bolsonaro, é interessante observar qual a classe social que no final se beneficiará mais dela.
No momento em que vivemos hoje, essa frente, que o ex Governador e ex Ministro Tarso Genro gosta de chamar de concertação, deve reunir partidos, que vão da esquerda ao centro e até mesmo alguns da direita democrática, se é que ela existe, além de políticos que, de alguma maneira têm ou tiveram algum compromisso com a democracia, num espectro que vai de Lula e FHC.
Uma boa amostra dessa possível união, que supera antigas divergências se deu essa semana num debate entre Tarso Genro e Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa, de Temer, no canal de vídeo do UOL.
Quando se discutiu um possível impeachment de Bolsonaro, Tarso fez questão de reafirmar que, aquele que derrubou a Presidenta Dilma foi um golpe de estado; Jungmann - um dos beneficiados diretamente por aquele fato - negou que se tratasse de golpe. Mesmo assim, os dois consideraram a divergência superada no momento, em nome de uma união pela retirada de Bolsonaro do poder.
Essa possível união de forças políticas divergentes em nome de uma causa maior, tem antecedentes históricos e Tarso fez questão de dar ênfase a um deles, o caso de Portugal, depois da derrubada da ditadura salazarista.
Lá o Estado Novo, de António de Oliveira Salazar, que existia desde 1933, foi derrubado por um movimento armado da baixa oficialidade do Exército de maneira quase incruenta, no dia 25 de abri de 1974. Na ocasião, estavam juntas as duas principais forças políticas de esquerda de Portugal, o Partido Comunista, de Álvaro Cunhal e o Socialista, de Mário Soares. No período que intermediou a derruba do decrépito fascismo português, até a proclamação da nova Constituição, em novembro de 75, os aliados do início se transformaram em oponentes. Venceram aqueles que representavam os interesses da burguesia - o General Ramalho Eanes, como Presidente e Mário Soares, como Primeiro Ministro e verdadeiro dono do poder, com apoio da social democracia alemã e do embaixador americano em Lisboa, Frank Carlucci, não por coincidência, um homem da CIA.
André Malraux, o Ministro da Cultura da França, ironizou o acontecido, dizendo que os portugueses mostraram que eram possível, pelo menos uma vez, os mencheviques derrotarem os bolcheviques, comparando com situação na Rússia, onde depois de 1917, os bolcheviques de Lenin, derrotaram os mencheviques.
Chico Buarque perceberia melhor o que acontecera em Portugal mudando a letra da sua música Tanto Mar.
Em 1974, ele cantou:
"Eu queria estar na festa, pá / Com a tua gente / E colher pessoalmente / Uma flor no teu jardim / Sei que há léguas a nos separar / Tanto mar, tanto mar / Sei, também, que é preciso, pá / Navegar, navegar / Lá faz primavera, pá / Cá estou doente / Manda urgentemente / Algum cheirinho de alecrim
Em 1978, a música ganhou uma nova versão desiludida
"Foi bonita a festa, pá / Fiquei contente / E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim / Já murcharam tua festa, pá / Mas certamente
Esqueceram uma semente / Nalgum canto do jardim / Sei que há léguas a nos separar / Tanto mar, tanto mar / Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar / Canta a primavera, pá / Cá estou carente /Manda novamente / Algum cheirinho de alecrim"
A Revolução Russa, a maior e mais importante de todas, resistiu a mais de 70 anos, até cair nas mãos da burguesia, num grande movimento liderado internamente por um bêbado, Yeltin, um deslumbrado com a riqueza americana, Gorbachov, o presidente americano e um papa polaco.
Na China, o processo foi mais rápido e Cuba ainda resiste, ninguém sabe até quando.
Então, todos juntos agora na aliança contra o fascismo do Bolsonaro.
E amanhã?
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS
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