«A dimensão de Chávez ainda está por calcular»
O ministro venezuelano dos Negócios Estrangeiros, Jorge Arreaza, evocou a figura do «gigante» Chávez e agradeceu a solidariedade dos portugueses com o seu país, quando na Europa alguns temem afirmá-la.
Sala cheia, a abarrotar, esta terça-feira, na sede da CGTP-IN em Lisboa, para ouvir os oradores anunciados na sessão de solidariedade com a Venezuela promovida pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC). Se um dos objectivos enunciados era a oportunidade de conhecer melhor a situação que se vive no país caribenho, pode-se afirmar que o tempo não foi perdido.
A abrir a sessão, Ilda Figueiredo, presidente da direcção nacional do CPPC, lembrou precisamente que o propósito fundamental da iniciativa era o de «conhecer melhor a situação do país», que é alvo de uma «agressão externa», de uma «tentativa de isolamento diplomático», de uma «violenta campanha mediática» - dirigida contra o povo venezuelano e os seus legítimos representantes eleitos.
Na alocução introdutória do evento, a dirigente do CPPC lembrou que nos seus 19 anos de vigência, a Revolução Bolivariana, levou a cabo uma «transformação social» e realizou as «conquistas possíveis», num contexto difícil, em que teve de fazer frente àqueles que procuraram subjugar «um país que se opôs ao imperialismo e quis afirmar uma América Latina soberana».
Neste sentido, Ilda Figueiredo afirmou que os EUA «não se conformam com a soberania dos povos», agredindo-os através das suas «ingerências permanentes» e impedindo-os de afirmarem a sua «soberania plena, o seu caminho de paz e desenvolvimento».
Foi neste contexto que recordou a situação que o Brasil atravessa e, manifestando a sua solidariedade com o povo brasileiro, salientou que, neste país, a «afirmação da soberania retirou da pobreza milhões de pessoas».
«Hugo Chávez: impacto ainda por calcular»
Lembrando que esta iniciativa é uma de várias expressões de solidariedade com a Venezuela bolivariana que têm tido lugar em Portugal, a dirigente do CPPC passou então a palavra a Jorge Arreaza, ministro venezuelano dos Negócios Estrangeiros.
O início da intervenção de Arreaza ficou amplamente marcado pela evocação da figura de Hugo Chávez, «representante do povo», e de vários episódios que sinalizaram uma mudança de rumo na Venezuela e na América Latina, a partir de 2 de Fevereiro de 1999.
O ministro venezuelano lembrou, nomeadamente, a oposição de Chávez aos desígnios norte-americanos na Cimeira das Américas de 2001, realizada no Quebec (Canadá), e as políticas de ruptura com o que era habitual na Venezuela até então, no sentido de defender o povo. Isto, num país onde era difícil «fazer uma revolução socialista», em virtude de todos os recursos que possui (como gás, petróleo, ouro, água, entre outros) e por ter os EUA «ali a poucos quilómetros».
Apesar dos retrocessos que se verificam, hoje, no Brasil, na Argentina, no Equador, Jorge Arreaza mostrou confiança no papel da América Latina, afirmando que «será a referência dos processos progressistas para o mundo». Sobre Chávez, disse que é «uma esperança que está viva», um «gigante cujo impacto no mundo ainda está por calcular, por definir», sublinhando que um dos «erros de cálculo do imperialismo» foi ter concebido que «a revolução e os processos progressistas no continente se iriam desmoronar com a morte de Chávez».
«A tarefa "heróica" de Maduro»
Arreaza disse que estava no hospital onde Chávez se encontrava, em Havana, quando decidiu que Nicolás Maduro era o quadro certo para liderar as hostes chavistas caso viesse a falecer em breve, como aconteceu. Para Arreaza, a escolha de Maduro como sucessor de Chávez - uma tarefa que classificou como «difícil, quase heróica» - ficou-se a dever não apenas à lealdade e aos anos de experiência política acumulados, mas sobretudo ao seu «carácter operário».
Com a morte de Chávez, muitos sugeriram-lhe «pragmatismo, que fosse pragmático, traísse a revolução», afirmando que, se esta «era possível com Chávez, já não o era com ele, Maduro», em virtude da conjuntura existente, dos «inimigos do país». Mas «Maduro respondeu-lhes com muita firmeza», destacou Arreaza.
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