Livro: Política e Cultura: as Revoltas dos Engenhos (1822), de Achada Falcão (1841) e de Ribeirão Manuel (1910)
O livro de Eduardo Adilson Camilo Pereira inscreve no panorama historiográfico cabo-verdiano três acontecimentos: as revoltas dos Engenhos de 1822, da Achada Falcão de 1841 e em 1910, Ribeirão Manuel. Outros, poucos, historiadores narraram esses mesmos eventos. Todavia, não dialogaram com a mesma intensidade com clássicos da antropologia e proeminentes teorias sociológicas.
Se a colonização portuguesa foi ameaçada por revoltas de escravos e de rendeiros por pelo menos três vezes, ao longo de um tenso século agrário santiaguense, rebeldes actuaram. O campesinato negro do interior da ilha, no século XIX e início do século XX era particularmente incendiário. Mas se as revoltas efectivamente ocorreram é porque para além das estruturas materiais, e das disposições subjectivas, houve agência. Mulheres e homens afrontados, rezaram, se armaram, fizeram complôs e desafiaram as autoridades coloniais no corpo a corpo. Cabo Verde podia, no século XIX, ter se transformado num caso de Haiti português na dobra oriental do atlântico?
A obra “Política e Cultura: as Revoltas dos Engenhos (1822), de Achada Falcão (1841) e de Ribeirão Manuel (1910)”, ajuda-nos a entender porque não eclodiu a esse ponto e em que medida foram monumentais essas três rebeliões camponesas cabo-verdianas. A trama contextual é tecida até ao ponto da decisão pela revolta. A dimensão religiosa da vida camponesa no interior da ilha de Santiago é explorada à exaustão mas, “não constitui motivos suficientes para a eclosão da revolta dos rendeiros” – nos assegura o autor.
Na reconstituição da tessitura etnográfica, o festejo do batuco, da tabanca, dos reinados e do Corpo de Deus fornecem elementos de legitimação e modelos de actuação.
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