O 24 de março de 2006 recorre o 30º aniversário go golpe militar que instaurou a mais sangrenta e brutal ditadura militar na história da Argentina, que teve um saldo de mais de 30.000 mortos desaparecidos, vítimas de um genocídio friamente planejado e sistematicamente executado; mais de 500 crianças seqüestradas dos pais delas desaparecidos e criadas por militares ou outras famílias estranhas arrancando-lhes a sua identidade; uma guerra absurda e atroz, a das Ilhas Malvinas, que matou mais de 600 jovens nos campos de batalha e outros mais de 300 que se suicidaram até o dia de hoje pelas seqüelas do conflito; um modelo econômico e social neoliberal que continuou e se aprofundou nos anos seguintes à volta da democracia e que através de uma vergonhosa dívida externa, da desarticulação do tecido produtivo do país e a conversão deste num exportador de um monocultivo geneticamente modificado, da abertura indiscriminada aos capitais financeiros internacionais, do fortalecimento das oligarquias rurais e do latifúndio, da entrega de todos os serviços públicos fundamentais aos capital privado estrangeiro e da corrupção sumiu na miséria, a fome, a exclusão e a falta total de perspectivas e de futuro a milhões de pessoas.
A sociedade argentina dedicou o mês de março à memória e a reflexão. Na capital federal, Buenos Aires, e em todas as províncias do país se realizam desde o início do mês atos públicos, manifestações, conferências, exposições e outros eventos culturais e políticos para lembrar aqueles trágicos dias em que um punhado de militares de apoderou da Argentina. As Madres de Plaza de Mayo, organização símbolo da resistência à ditadura militar e da luta pela verdade e a justiça, realizaram uma vigília na Plaza de Mayo a partir das 20 hs. do dia 23, aguardando a hora exata em que os militares tomaram o poder. No dia seguinte, às 15 hs., todos os outros organismos de direitos humanos e a cidadania realizarão uma marcha do Congresso Nacional à Plaza de Mayo para não esquecer àquele dia nefasto de 30 anos atrás e para que nunca mais aqueles crimes voltem a se cometer.
Para refletir sobre o que representou o golpe militar para a Argentina e que seqüelas deixou até os dias atuais, recolhemos uns testemunhos (em espanhol) de alguns protagonistas das lutas pelos direitos humanos nos anos da ditadura e em todos os seguintes. A primeira entrevista é com Adolfo Pérez Esquivel, que em 1980 recebeu o Prêmio Nobel da Paz por ter sido "portavoz do respeito à vontade do homem" durante o governo militar na Argentina. Fundador e líder da Fundación Servicio de Paz y Justicia (SERPAJ), recentemente esteve à frente de um conjunto de organizações que apresentou um projeto de lei de iniciativa popular à Câmara dos Deputados para que se declare nula a dívida externa contraída pela Argentina desde o início da ditadura militar até a volta da democracia.
Pérez Esquivel nos recebeu no seu escritório na sede do SERPAJ, no central e histórico bairro de San Telmo, em Buenos Aires.
DHnet - Rede Direitos Humanos e Cultura
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