Presidente Jorge Sampaio andou toda esta semana em consultas políticas com figuras actuais e passados de todos os partidos. Já lá vão duas semanas desde que a bomba do Barroso fugindo para Bruxelas rebentou e falta ainda o Conselho de Estado, convocado para amanhã.
Com tanta hesitação, Sampaio está a demonstrar que é um grande político, ponderado até ao ponto de exaustão, mas certo. Por quê é que haveria de provocar uma crise política ainda maior que aquela que já existe, especialmente, para uma pessoa tão discreta, quando as escolhas são tão berras: Santana como primeiro-ministro ou eleições antecipadas.
Ou será bem assim?
Uma coisa é clara: a população de Portugal quer uma eleição para dar seu aval a um programa novo político para os próximos quatro anos. Para o governo, seria uma bela maneira de colocar à prova o programa de políticas de laboratório seguido tão cegamente por Ferreira Leite e companhia (muito) limitada, ou de inventar algo mais adequado.
Para Paulo Portas e o Partido Popular, uma eleição será talvez a pior coisa que pudesse acontecer, porque tendo ligado seu partido ao PSD, agora tem de encontrar uma maneira de convencer as pessoas a votarem PP e não PSD. Se calhar é desta que este oportunista político dá de vez o salto, juntando-se ao PSD que tanto odiou nos anos noventa e deixando Manuel Monteiro continuar aquilo que começara no CDS/PP. Que se lixe a Nova Democracia.
Para Santana Lopes, é uma boa oportunidade para legitimar-se perante a população. Se muita gente o considere fuleiraço e parte do Jet Seis (que nunca chega a sete), também deve dizer-se que Pedro Santana Lopes tem enormes qualidades como ser humano e como comunicador.
Mais, é a única pessoa no PSD capaz de chegar perto de ganhar qualquer eleição neste momento, depois do efeito Barroso homem que chegou ao seu nível de incompetência e teimou em insistir que não era bem assim.
Uma eleição agora deixaria Santana pôr-se à prova. Tem vindo a ganhar uma maturidade política nos últimos anos e chegou a sua vez, mais cedo que ele esperava, mas chegou. Se conseguir reunir uma equipa competente à sua volta e saber se calar quando não lê os dossiers, tem alguma hipótese.
Na oposição, Ferro Rodrigues tem a última hipótese de provar ao PS que ele é o homem para liderar o partido durante os próximos quatro anos e não António Costa, António Vitorino, João Soares ou José Sócrates. De certa forma, o abandono precoce de Guterres deixou o programa do PS a meio.
As críticas que este partido semeou o caos e que não soube governar, por parte do PSD/PP, caem no ridículo quando se vê que agora os mesmos partidos na coligação reclamam que a conjuntura internacional não é favorável. Então, foi o PS ou foi a conjuntura? Se a conjuntura é má para o Partido Socialista, por quê culpá-lo por tudo?
Uma eleição seria uma excelente hipótese para os dois partidos da Esquerda, Bloco de Esquerda e CDU (Coligação Democrática Unitária, Partido Comunista Português mais Partido Ecológico os Verdes), mostrar o que valem.
Cada partido tem seu rumo e seu espaço. Têm seus métodos diferentes e acreditam que o seguimento das suas ideias é mais importante que conquistar o poder. Com certeza nenhum destes partidos vai ganhar as eleições como vencedor absoluto mas será interessante ver qual dos dois vence o voto da esquerda e qual dos dois tem a hipótese de ter alguma influência no próximo governo.
Resta a noção que só umas eleições legislativas fariam sentido neste momento. A alternativa seria dois anos de paragem cardíaca, numa altura em que Portugal precisa de se mexer e ganhar fôlego.
Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru
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