Vítimas denunciam mais e metade das situações são crimes ou incidentes de ódio
ILGA Portugal divulga os resultados do Observatório da Discriminação
Lisboa, 30 de junho de 2020 - A Associação ILGA Portugal - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo (LGBTI) divulga hoje os dados do seu Observatório da Discriminação, referentes ao ano de 2019. Os resultados evidenciam uma preocupante estagnação no reconhecimento e harmonização de direitos.
Durante o ano passado, o Observatório da Discriminação contra Pessoas LGBTI+ recebeu um total de 171 denúncias - um número que, ainda assim, representa de forma muito parcial a realidade nacional, díspar nas oportunidades de acesso a informação fidedigna, apoio, profissionais com formação adequada, redes de suporte LGBTI+, e muitos outros recursos que frequentemente escasseiam. De acordo com o relatório disponível AQUI, todas situações se referem a ocorrências resultantes de preconceito, discriminação e violência em função da orientação sexual, identidade de género, expressão de género ou características sexuais, reais ou presumidas, das vítimas.
A Associação revela que cerca de metade das situações denunciadas neste observatório constituem de facto crimes ou incidentes motivados pelo ódio contra as pessoas LGBTI+ em Portugal, de acordo com a definição da própria Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Agressões verbais, sobretudo presenciais, como ocorrências mais frequentes (46,58%), depois bullying, agressões físicas, acesso a bens e serviços e violência doméstica.
"Do espaço público ao doméstico, passando pelo acesso a bens e serviços, no local de trabalho ou nas escolas, existem evidências da prevalência da discriminação em todo o tipo de contextos e grupos etários, o que revela que Portugal continua a não ser suficientemente seguro para que pessoas LGBTI e as suas famílias possam viver em pleno nos contextos de visibilidade social e comunitária", alerta Ana Aresta, presidente da direção da ILGA Portugal.
Durante o ano de 2019 aumentaram as denúncias feitas pelas próprias vítimas, constituindo estas a maior fonte dos registos (43,27%). Um quinto das situações foram denunciadas por testemunhas (21,05%), seguindo-se situações registadas por outras pessoas interessadas, nas quais se incluem outras organizações e serviços de apoio a vítimas LGBTI+ (17,54%) e, finalmente, por serviços ou projetos da Associação ILGA Portugal, tais como o Serviço de Apoio à Vítima, o Serviço de Apoio Psicológico ou o Serviço de Apoio Social (9,94%).
Apesar do impacto psicológico e social destas ocorrências sinalizado pelas vítimas, apenas um terço apresentou uma queixa junto das entidades responsáveis, alegando desvalorização desconhecimento ou descrença no seu papel. Em muitas das situações, as testemunhas optaram por não intervir.
"O caminho para o combate à discriminação passa por mudanças no plano legal, com impacto direto no quotidiano e proteção de muitas pessoas. Depois de décadas de conquistas legais históricas, o país e os Governos não podem descansar e esperar que corra tudo bem. É urgente reforço de medidas de educação, formação e sensibilização, incluindo forças de segurança, para além da necessária consolidação de estruturas de apoio e monitorização", conclui Ana Aresta.
RELATÓRIO DO OBSERVATÓRIO LGBTI+ 2019
Disponível AQUI
RESUMO PARA IMPRENSA
- subida (de 4%) na percentagem de denúncias por parte das próprias vítimas em relação a testemunhas ou serviços de apoio (39% para 43%)
- perfil das vítimas: idade média 27 anos (13 a mais jovem, 60 a mais velha), maior representação de homens cisgénero (43,98%), primeiras pessoas intersexo a denunciar (3%), orientação sexual mais frequente gay (36,75%), mais representação pansexual
- quem discrimina: num quarto das situações foram grupos de pessoas, em 40% das situações são desconhecidas, mas logo seguida de pessoas próximas (parceiros/as e familiares), em 13,5% das situações é no contexto escolar (colegas 9,63% e pessoal docente e não docente 3,7%), grupo etário mais frequente dos 15 aos 24 anos de idade
- maioria das situações denunciadas são de grandes centros urbanos (Lisboa e Porto quase metade), espaço público como lugar mais comum (15,53%), logo seguido do espaço doméstico e da escola
- agressões verbais, sobretudo presenciais, como ocorrências mais frequentes (46,58%), depois bullying, agressões físicas, acesso a bens e serviços e violência doméstica, etc
- impacto psicológico referido em dois terços das situações (67,65%), impacto social em mais de metade (55,14%) e consequências físicas num terço (30,88%)
- testemunhas: presentes em metade das situações (49,26%), só intervieram um terço das vezes
- uma em cada cinco situações (19,4%) resultaram em contactos e denúncias às autoridades e entidades responsáveis, um aumento de quase 6% em relação ao ano anterior
- motivos para não denunciar: receio de represálias (20%), desconhecimento, falta de provas ou descrença nas autoridades (10,87% - muito semelhante aos 11% do inquérito LGBTI da FRA, em motivos para não denunciar)
- quando apresentada queixa, desvalorização é a atitude mais vezes reportada, seguida de perto da reação neutra e da de apoio
- total de 48 crimes e 41 incidentes discriminatórios motivados pelo ódio contra pessoas LGBTI (de acordo com definição da OSCE)
- 171 denúncias, menos 15 do que em 2018
Para mais informações, p.f. contactar:
[email protected] | (+351) 969.367.005
Sobre a ILGA Portugal:
A Associação ILGA Portugal - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo - é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, sob a forma de Associação de Solidariedade Social. Fundada em 1996, é a maior e a mais antiga associação de defesa e promoção dos Direitos das pessoas LGBTI e das suas famílias em Portugal.
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