CGD: Rua com eles!
Bem sei que ainda há semanas defendi a legitimidade dos ordenados milionários dos gestores da Caixa Geral de Depósitos - afinal, não havendo uma reforma profunda no actual sistema financeiro, que remédio tem o governo a não ser pagar ao preço do mercado os administradores de que necessita para gerir condignamente o banco do Estado? - mas revolta-me profundamente que pessoas que já deviam saber estar numa posição delicada agirem como pirralhos mimados, ignorando o momento delicado e de crise democrática em que se encontram o Ocidente e, mais especificamente, Portugal e a Europa.
Flávio Gonçalves
Portugal tem há um ano um governo exemplar que, sem as cedências de um Syriza nem o radicalismo de um Podemos, conseguiu - bem ou mal - finalmente unir a maioria sociológica de esquerda que durante décadas; devido à falta de diálogo que Costa, felizmente, nos trouxe; deixou que coligações de direita não só incutissem na mente nacional a loucura neo-liberal como algo "normal" como conseguissem manter na psique colectiva do nosso fustigado povo a normalidade do espírito esclavagista de um patronato ingrato aliada à alma de escravo de toda uma massa trabalhadora, ambos forjados ao longo dos anos do Estado Novo.
Essa mudança de paradigma, essa renovação do espírito democrático nacional, onde pela primeira vez o povo compreendeu que nas Legislativas elege não o governo mas os deputados da Nação e que estes se organizam em maiorias parlamentares capazes de sustentar um governo, nesse novo Portugal, tal só foi possível tendo por base a transparência, o Partido Socialista encontra-se no governo e o povo não saíu à rua em protesto porque, graças precisamente à transparência de todo o processo de negociação de acordos com Os Verdes, com o Bloco de Esquerda e com o Partido Comunista Português que tal foi possível, foi precisamente por não existirem segredos ou cláusulas ocultas que passado um ano temos ainda governo para mais um ano e, possivelmente, para a totalidade dos quatro anos de mandato.
Ora bem, um gestor milionário teoricamente é-o por saber gerir extremamente bem o banco onde se encontra, que o BPI tenha precisado de uma injecção de capital na ordem dos 1,5 mil milhões de euros não abona muito quanto à competência de certos gestores, mas mesmo assim este governo decidiu confiar e, tendo a razão do seu lado quanto à necessidade de pagar ao preço de mercado os gestores do banco do Estado uma vez que este tem que sobreviver nesse mesmo mercado, o que este governo que se fundou na transparência não precisa é de uma equipa de administradores públicos que recusem apresentar voluntariamente a sua declaração de rendimentos e património ao Tribunal Constitucional e ameacem rescindir do cargo se a tal forem obrigados.
Não compreendem a posição de fragilidade em que colocam o actual governo? Fingem não compreender, estão-se nas tintas ou - pior - a agir intencionalmente? O governo nem deve pensar duas vezes: rua com eles! Que vão criar empresas no Panamá ou assessorar o Durão Barroso até que um governo de direita os chame!
Foto: Wikicommons
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