O arquiteto da crise

A notória sagacidade política de Lula, enfim, falhou. Sucumbiu à sua desmedida ambição pela perpetuação no poder, que lhe remeteu a erros de cálculo, talvez por confiar mais na intuição do que na razão. Ao impor a candidatura de Dilma Roussef à Presidência, sem mãos a medir para fazê-la sua sucessora, acabou trombando de frente com a inimaginável candidatura de Marina Silva, cujo processo de fritura que desaguou na sua saída do Ministério do Meio Ambiente ele conduziu. Marina, andorinha sozinha, não fará verão, mas de um estrago na campanha de Dilma, é bem capaz.

Some-se a esta imprudência a sua despudorada defesa de Sarney, da qual chegou a desembarcar, embora apenas para consumo externo da opinião pública, e já se terá chegado a uma significativa somatória de equívocos que só podem ser debitados à cegueira que costuma acometer os onipotentes.

Mas o presidente segue abusando da sorte e da inteligência alheia ao investir contra a ex-secretária da Receita Federal (RFB), Lina Maria Vieira, sugerindo-lhe mostrar a agenda onde constaria o encontro reservado - ou secreto, tanto faz, nesta copiosa safra de atos e fatos secretos – com a ministra Dilma, quando até as pedras sabem que Lina já havia dito não haver registro do episódio, embora tenha o testemunho da sua então chefe de gabinete.

Aliás, Lula poderia ordenar ao general Jorge Félix o fornecimento à Folha de S. Paulo das imagens das câmeras do Palácio do Planalto, que o oficial se havia recusado a entregar.

A respeito da censura judicial ao jornal O Estado de São Paulo – e agora, também por obra da família Sarney, contra o Jornal Pequeno, do Maranhão -, uma nódoa na “biografia” do País, Lula não disse uma palavra sequer, e não haverá convencer se vier a escusar-se da omissão alegando não querer interferir em decisões judiciais, pois ainda está por nascer alguém que o suplante na intromissão nos outros Poderes. No Senado mesmo, por exemplo, onde capitaneou a eleição de Sarney à sua presidência. Com sua notória ojeriza à imprensa livre, deve estar se regozijando.

A tal ponto chegou a impunidade, patrocinada com a costumeira desfaçatez pelos presidentes da Câmara, Michel Temer, do Senado, José Sarney, que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) exigiu publicamente da Procuradoria Geral da República a representação contra os responsáveis pelo uso indevido de passagens aéreas, aluguel de jatos, venda de bilhetes aéreos, atos secretos e outras felonias.

A entidade, como as pessoas “comuns”, não se dá por satisfeita, nem poderia, com meras promessas de apurações, muito menos com as validações de atos secretos cuja anulação fora anunciada por Sarney em recente discurso.

Pena a OAB ter deixado de fora o presidente Lula, arquiteto da crise, em ostensiva e ilegal campanha eleitoral antecipada por Henrique Meirelles, a quem ungiu à condição de candidato ao governo de Goiás.

Luiz Leitão [email protected]

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