Se Murilo Rubião estivesse vivo e dependesse do trânsito de Belo Horizonte, com seu mágico realismo fantástico, talvez protestasse contra as ações da BHTrans escrevendo uma história em que do alto de um edifício, bem na área mais movimentada de Belo Horizonte, fica um agente da BHTrans com binóculo em punho e prancheta à mão, tomando nota das placas dos carros que comentem pequenas infrações.
Parou por um instante na esquina para a decida rápida do passageiro, ele multa. Nada lhe foge ao olhar inquisidor... É assim que percebo as ações da BHTrans. Me sinto vigiado a distância, impotente, um motorista pronto para ser taxado pela empresa; nunca, orientado.
Tudo, fruto de uma mentalidade arrecadatória, covarde, sem preocupação alguma em criar uma nova consciência nos motoristas que precisam, todo dia, de usar o trânsito de Belo Horizonte.
Com milhões de arrecadações e trilhões de multas expedidas atendendo aos seus múltiplos critérios, a BHTrans deveria, pelo menos, produzir uma campanha educativa, estendida ao rádio e a tv - chegando assim a todas as camadas sociais, sem nenhuma restrição - com o objetivo central de construir um trânsito mais humanizado, um motorista mais educado e tolerante e, até mesmo, um pedestre mais consciente da sua importante participação para a construção de um trânsito melhor para todos nós, que dependemos dele.
Mas não, a única visão da BHTrans é a arrecadação, as burras cheias dos cifrões patrocinadas pela leniência e inconsciência de nossos motoristas. Para quem duvida do que digo, que compre na próxima banca de jornal o talão rotativo que há bem pouco tempo custava R$ 2,30 a folha e sem esclarecimento algum passou, na surdina da noite, para R$ 2,40.
É a privatização do trânsito sem contrapartida alguma. Tudo muito bem maquiado, pensado, manipulado, para cada vez mais construir uma empresa rica e um motorista mais pobre, sem segurança alguma para o seu automóvel que é estacionado com essas altas taxas nas vias públicas da capital mineira. Qual a base de cálculo para esse aumento? Qual a sua justificativa? Para onde vai esse faturamento?
É sempre assim, na hora de pico, todos os seus agentes estão nas ruas, de caneta em punho e talão a mostra, punido os motoristas nos pontos estratégicos da cidade. A BHTrans sitiou Belo Horizonte, colocando seus inspetores não nos lugares que mais precisam deles, mas nos lugares mais propícios, que lhe podem render mais multas e alguns trocados.
Como motorista, não me sinto beneficiado pelas ações da BHTrans. Mas sim, vigiado, dia e noite, por uma empresa que pensa apenas em multar, punir e arrecadar, todo dia, toda hora; sem parar.
Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor http://petroniosouzagoncalves.blogspot.com
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