Depois das férias de verão, regresso ao trabalho. E o quê é que encontramos? Choque, pavor e horror, mais do mesmo
Há vinte e cinco anos, com a aproximação do novo milénio, havia muita gente, eu inclusivé, cheia de esperança e otimismo para o novo século, esperando uma abordagem multilateral dos assuntos, a resolução de crisis pelo Conselho de Segurança da ONU, e a plena implementação do Estado de direito na cena internacional.
O 11 de setembro ainda não tinha acontecido. Mas o ultraje no Kosovo, Sérvia, sim e suponho que este era um sinal de aviso do que já estava em movimento, a maquinação nos bastidores de uma nova ordem mundial controlada por aqueles que puxam os cordelinhos nos bastidores de Washington DC e, portanto, os da sua matilha de chihuahuas a ladrar obedientemente, do outro lado da oceano. Em todo o lado, de facto. Mas não deixam de ser chihuahuas.
Enquanto os terroristas do UÇK (Ushtria Çlirimtare ë Kosovës em albanês, Exército de Libertação de Kosovo) decapitaram civis sérvios, bombardearam ambulâncias e dispararam contra polícias, o Ocidente não só lhes dava luz verde como também lhes fornecia armas, uniformes, logística e financiamento, enquanto os terroristas eram recebidos com jantares no Capitólio em Washington. Como eu disse na altura, para aquele que se envolve com terroristas... o karma é deveras lixado. E para que fique registrado, sob todos os capítulos do direito internacional, Kosovo faz parte da Sérvia.
Não foram, porém, os separatistas albaneses do Kosovo que perpetraram o horror do 11 de setembro, foram os fanáticos takfiri islâmicos, que usurparam os ensinamentos do Alcorão e insultaram os principais preceitos do Islão.
O século XXI começou terrivelmente mal e, apesar dos esforços de muitos, incluindo eu próprio (em reuniões com embaixadores e cartas a líderes mundiais, artigos nos jornais), as causas nobres foram usadas como cortinas de fumo enquanto a inexorável horda satânica avançava semeando o horror com os seus esquemas maquiavélicos e destruindo qualquer esperança de um mundo equilibrado que vivesse em harmonia.
Primeiro o Kosovo, depois o Afeganistão, depois o Iraque, depois a provocação da Geórgia na Ossétia, depois a Líbia, depois a Síria e depois a Ucrânia, e continua. O próximo será quem? Irão? Olhando para trás, eu era um quarto de século mais novo e não me apercebi, como me apercebo agora, que a política internacional é um exercício cínico de mentir aos povos que elegem os seus representantes, uma hipocrisia e uma covardia absoluta, uma vez que aqueles que criam e executam a política internacional não são os que são eleitos e a implementação do direito internacional é fraca..
Em suma, fui ingênuo ao pensar que o novo milénio traria novas regras de jogo, ou seja, que não haveria mais conflitos armados, que as crises internacionais seriam resolvidas multilateralmente através do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que o desenvolvimento económico substituiria guerras e conflitos, que a educação nivelaria as condições de concorrência em todo o mundo, dando a todas as crianças os mesmos direitos e oportunidades à nascença.
Falou-se muito de África no início do século/milénio; todos entraram na onda e de repente apareceram caras sorridentes ao lado dos africanos, dando-lhes palmadinhas na cabeça e vomitando torrentes de verborreia sobre como o continente era maravilhoso e como o desenvolvimento dos bancos ocidentais o iria mudar e como os Índices de Desenvolvimento Humano iriam subir e… (violinos).
Suponho que eu poderia ter sido mais perspicaz e ter feito as perguntas Porquê? e Cui bono? (Para benefício de quem, em latim). A resposta é sempre a mesma. Há sempre dinheiro para bancos e submarinos. O complexo industrial-militar encontrará sempre maneiras de vender armamento e distribuir contratos aos lobbies que de facto controlam a economia mundial.
Agora, podemos, com o benefício da retrospectiva, tentar encontrar um caminho em frente. Nos meus artigos, tento ir para além de me insurgir contra o que considero estar errado e, à medida que envelheço, sinto a necessidade de explorar soluções.
Em primeiro lugar, é evidente que, com o advento da era digital, o mundo de hoje é um lugar onde a informação e as tendências fluem rapidamente. O que podia estar escondido ou isolado há um quarto de século é agora do domínio público em segundos. A Albânia já não é um país que perde os seus jogos de futebol por 5 ou mais golos. Graças aos métodos de treino e à internacionalização dos jogadores, a Albânia pode hoje jogar como igual ao mais alto nível, como vimos no UEFA EURO 2024.
Antes, os muçulmanos podiam viver as suas vidas de forma tradicional, seguindo os cinco pilares do Islão, de forma feliz e tranquila, sem a interferência e a intrusão do que poderiam considerar tendências diabólicas dos invasores bárbaros do Ocidente. Gangues de jovens, incluindo raparigas com pouca ou nenhuma roupa vestida, a lutar e a gritar nas ruas, a vomitar, a embriagar-se, a praguejar, a urinar ou pior, em público, a ver pornografia, a fornicar com o próximo que aparecesse. O turismo, o cinema e a televisão trouxeram este primeiro choque cultural e também a interferência da CIA em culturas antigas, preparando a Madrassah para se virar contra a União Soviética, só providenciaram lenha para a fogueira.
Assim nasceu o islamismo radical. Não tem nada a ver com o Islão e não tem nada a ver com o Alcorão. Não tem nada a ver com os muçulmanos, a maioria dos quais são pessoas honradas e decentes que seguem uma religião honrada, decente e nobre, e seguem os ensinamentos do Profeta Maomé. Paz e Caridade. Solidariedade, ajudar os outros.
Da parte dos políticos, assistimos a muitas promessas de desenvolvimento, mas o que aconteceu foi a intrusão, o desrespeito e a infiltração de valores alheios em espaços outrora prístinos, através dos novos meios de comunicação digitais e da globalização do modelo ocidental.
Nas duas primeiras décadas deste milénio, isto transformou-se numa coisa monstruosa. O Ocidente, a União Europeia e a NATO/OTAN são agora a mesma coisa, embora eu ainda não tenha encontrado nenhum estatuto que dê à NATO/OTAN o direito constitucional de ditar ou mesmo de influenciar a política de qualquer Estado soberano. Foi eleito por quem? O resultado é uma invasão ao Leste, colocando um torno à volta do pescoço da Rússia e provocações contínuas (Geórgia, Estónia, Ucrânia) que fazem a Rússia sentir-se ameaçada. O Ocidente providenciou duas prendas para a Rússia – Napoleão, e mais recentemente, Hitler.
Era suposto que fossemos amigos, estar do mesmo lado, partilhar os mesmos valores. Uma leitura credível é que o que aconteceu foi que a NATO/OTAN utilizou a Ucrânia como um peão para criar problemas para a Rússia, com o objetivo final de desmembrar a Federação e de se apoderar dos seus consideráveis recursos. O capítulo “Ucrânia” não começou em 2014, começou ainda antes da dissolução da União Soviética, prevista na sua própria Constituição. Com certeza vão ser encontradas daqui a trinta anos referências nos anais da CIA a planos para a Ucrânia a partir de 1991.
Após o golpe fascista em Kiev, em 2014, era óbvio que o novo regime ucraniano entregaria as bases navais russas na Crimeia à NATO/OTAN, pelo que a Rússia só tinha duas opções: perder as bases e ver a NATO/OTAN a apoderar-se do flanco centro-sul, a última parte do puzzle, e esperar para ser atacada….ou então reagir.
Seguiram-se os massacres fascistas de ucranianos russófonos no leste da Ucrânia (entretanto apagados da Net, uma especialidade ocidental recente, procurem nas buscas “Interferência com Metadata”), a negação dos seus direitos de praticar a sua religião, língua e cultura, insultos, chamando-lhes sub-humanos, cânticos de “Morte aos russos e aos judeus” nas ruas por demoníacos bandos de bandidos fascistas armados, uma adoração do herói ucraniano, o pedófilo assassino de crianças Stepan Bandera, um colaborador nazi, em suma, o tipo de demonologia que faz Hitler e Himmler parecerem fadas madrinhas.
Como reação, Moscovo ofereceu o Tratado de Minsk, que manteria o Donbass dentro da Ucrânia, mas cuja população gozaria do direito de exercer a sua cultura. O quê é que isso tinha de errado? Kiev concordou e assinou o tratado. Todas as questões poderiam ter terminado ali mesmo, em 2015.
Mas Kiev foi aconselhado a não o implementar (talvez enquanto o filho de Joseph Biden estava sentado no conselho de administração de uma empresa de energia ucraniana). Mais uma vez, num conflito, se vê a mão do mesmo que sempre. Os Estados Unidos da América.
Mas ninguém vai ler sobre isto no Ocidente, porque os EUA e a União Europeia, Senhoras e Senhores, praticam a censura. Repito, os EUA e a União Europeia praticam a censura, uma política fascista para formar opiniões e abafar fontes de informação alternativas, tal como a política praticada pelas SS sob a direção de Heinrich Himmler e utilizada na máquina de propaganda de Joseph Goebbels. Tentem encontrar informação nos canais dos media estatais russos e não conseguem. Foi proibida para que não se possa ver o outro lado da moeda.
Compreendemos que, percebendo uma ameaça existencial, a Rússia tomou a iniciativa primeiro, antes de a NATO/OTAN se instalar na Ucrânia.
Conflito militar é feio. Como vimos em numerosas campanhas da NATO/OTAN, os civis são apanhados no meio da confusão, as famílias perdem avós e avôs, os pais perdem filhos, os filhos perdem pais e irmãos e avós, as famílias perdem animais de estimação, sejam eles russos ou ucranianos ou quem quer que seja. Agora, assistimos a uma tentativa desesperada da Ucrânia de criar uma zona de conflito no norte, no que era praticamente um sector sem grande número de defensores, longe do teatro de operações, o que faz com que os meios de comunicação social ocidentais se vangloriam. Isso, infelizmente, sem mencionar o enorme número de baixas ucranianas que começam a acumular-se à medida que a Rússia desloca soldados para a zona, sem mencionar o facto de os militares ucranianos estarem já a tomar medidas para a retirada e sem referir o grande número de mercenários ocidentais apanhados nessa bolha, já sem possibilidade de avançar nem de recuar. O resultado óbvio é que as forças russas estão a avançar mais rapidamente ao longo da linha da frente no Donbass.
Se o Ocidente (os EUA) não tivesse interferido, o conflito nunca teria começado e os ucranianos russófonos estariam a viver felizes dentro das fronteiras da Ucrânia, praticando a sua cultura, língua e religião.
E aqui recordamos todos aqueles que foram afectados por este conflito, sejam eles russos ou ucranianos ou quem quer que seja, juntamente com as suas famílias e entes queridos. Não foi assim que imaginei 2024.
E a seguir, Israel. Mais uma vez. Não tenho qualquer simpatia por terroristas ou por ataques terroristas, porque são uma forma cobarde de marcar posição usando civis indefesos que estão a fazer a sua vida quotidiana, a pagar os seus impostos, trabalhar, estudar, a fazer tudo o que é suposto fazerem, até que um pedaço de imundície demente e demoníaco lhes arruíne a vida e a dos seus familiares.
Mas, mais uma vez, e como disse o (excelente) Secretário-Geral da ONU, António Guterres, estas coisas não acontecem no vácuo e, mais uma vez, temos de estudar o contexto e a causalidade para compreender o quadro mais alargado.
Israel está e tem estado a roubar ilegalmente terras que não lhe pertencem. Israel está e tem estado a demolir casas de família e a profanar cemitérios e olivais palestinianos. Israel está e tem estado a construir ilegalmente unidades habitacionais em terrenos que foram ilegalmente confiscados aos palestinianos e a entregá-los aos colonos israelitas. Os colonos israelitas (terroristas e ladrões) têm atacado impunemente os palestinianos. Há décadas que esta situação se verifica. O que é que o Ocidente faz em relação a isto? Olha para o outro lado, faz vista grossa e dá crédito ao absurdo sequestro da palavra “semitismo”, em que qualquer ataque contra as políticas de Israel é classificado como antissemita. Que ridículo e que arrogância. Um semita é uma pessoa que fala uma língua semita, que inclui o árabe.
Assim, podemos concluir que, para o Ocidente, não faz mal que Israel bombardeia civis, destrua as suas casas, assassine crianças, mas não se aceita que a Rússia proteja aqueles que praticam a sua cultura, língua e religião de serem insultados, chacinados, massacrados.
Isso não será um desafio às leis da lógica?
Em primeiro lugar, concordemos que o direito internacional não existe de facto, porque foi violado em 2003 pelo ato de terrorismo no Iraque, e inúmeras vezes antes e depois. Em segundo lugar, concordemos que a diplomacia internacional não dispõe de um fórum de debate eficaz, porque tudo o que não agrada a Washington e aos seus chihuahuas é vetado e qualquer atrocidade cometida por Israel é branqueada.
Será isto aceitável?
Se sim, então não há mais nada a dizer. Aceitemos simplesmente que o ser humano é incapaz de viver em conjunto, de partilhar este planeta e de cuidar dele, afinal esta espécie revoltante, o supremo eco-terrorista, poluiu a Terra desde o fundo dos mares até ao espaço, desrespeita totalmente os animais e as plantas com quem partilhamos a nossa casa e, por isso, é apenas uma questão de esperar que o planeta nos ensine o quão mau o karma pode ser.
Se não…
Algo pode ser feito através das urnas e da verificação dos candidatos para representar o povo antes de serem selecionados. Em que circunstâncias apoiaria qualquer forma de conflito militar? Interferência nos assuntos internos de Estados soberanos? Planos para fazer a diferença no que respeita à poluição e às alterações climáticas? Qual é a sua posição e quais são os seus planos para a plantação de árvores? Quais são os seus planos para combater o tráfico de droga e a criminalidade de rua? Desenvolvimento internacional? Educação para todos?
Kadhafi tentou tudo isso e veja o que lhe aconteceu: foi assassinado e o seu país foi remetido para a idade da pedra, cheio de terroristas e repleto de campos de escravos. Por quem? Por aqueles que nem foram eleitos mas que controlam a política. Isso é democracia?
A questão de fundo aqui é a necessidade de um fórum eficaz de direito internacional para implementar o Estado de direito, composto por pessoas que sigam os preceitos básicos da decência humana, do desenvolvimento, da igualdade de direitos, dando preferência à educação para criar uma vida agradável para todos. Já é tempo de encontrarmos pessoas capazes de fazer aquilo que não é assim tão difícil de fazer. Isso se faz através da atividade política activa, que é fundamental para que possamos chamar os nossos sistemas “democráticos”.
Timothy Bancroft-Hinchey pode ser contactado em [email protected]
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