A Nakba: são 75 anos de tragédia para lamentar!

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A Nakba, “catástrofe” em árabe, refere-se à expulsão violenta de aproximadamente três quartos de todos os palestinos de suas casas e pátria pelas milícias sionistas e o novo exército israelense durante o estabelecimento do estado de Israel (1947-49). Dos aproximadamente 750.000 palestinos que foram limpados etnicamente, quase metade deles, mais de 300.000, foram expulsos de suas casas bem antes de 1948 pelas milícias sionistas.

Por Felipe Mansur*

Após a catastrófica fala de Ursula Von Der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, comemorando os 75 anos do Estado de Israel, me senti forçado a escrever essa reflexão como resposta.

Israel é uma fabricação ocidental, foi feita por um processo de migração de judeus europeus e dos EUA à conta gotas desde do final do séc. XIX e contou com a colaboração primeiramente dos britânicos durante o Mandato na Palestina e depois com a recém fundada ONU. O lobby era poderoso e transnacional, abarcando sionistas da Inglaterra e dos EUA, principalmente.

A realidade é que todos os países cometeram um ato de grande covardia para com a Palestina, e isso vai desde o então bloco capitalista e o então bloco socialista (A União Soviética também foi coautora dessa tragédia) pois desconsideraram que já havia ali um povo estabelecimento há milênios e que os verdadeiros descendentes dos semitas são os palestinos e estes que, em primeiro momento foram judeus, depois cristianizados (não pela Europa e sim em grande parte por sua própria conta, com as primeiras comunidades cristãs primitivas) e depois finalmente convertidos ao Islã.

Cabe salientar que todas essas passagens históricas mantiveram como seu epicentro o povo palestino que, como qualquer povo, sofre mudanças mas nunca deixa de existir. Já os judeus que foram mandados para colonizar a Palestina sequer são semitas, a maioria veio do leste europeu, são pessoas que tem mais semelhanças com as raízes eslavas do que semitas, ou possuem relações com os povos anglo-saxões.

Os sionistas usaram de um período específico da história daquele local para assim revisar a História e criar sua narrativa distorcida da realidade. No meio dessa tragédia toda, os únicos países que realmente prestaram ajuda aos palestinos foram a Síria, o Líbano e o Egito de Gamal Nasser.

Os sionistas contavam com amplo apoio do ocidente que lhes deu recursos suficientes para debelar a resistência desse eixo de países árabes irmãos. Desde o começo os sionistas pensavam num plano de transferência compulsória dos palestinos, mas esses planos foram mudando de abordagem com o tempo, alguns sionistas eram mais enfáticos nessa questão e outros não, mas da direita à esquerda do espectro sionista a questão de apinhar o povo originário de lá era questão de concordância absoluta.

David Ben Gurion (que se chamava na verdade se chamava David Grün, de origem polaca) dizia que os árabes palestinos eram como qualquer outro árabe e que eles "iriam montar suas tendas" e ir embora para o Líbano, Síria ou Iraque. Mas os dados dos próprios sionistas os desmentem, no final do séc. XIX um sionista notório fez uma visita à Palestina e constatou ali que havia já um povo bem estabelecido, à despeito da dominação turco-otomana.

Eles sabiam que os palestinos jamais entregariam suas terras, mesmo quando os proprietários ricos vendiam suas terras para eles. Abaixo tem uma frase escrita por Theodor Herzl, um dos pilares do sionismo:

“Para a Europa, constituiríamos aí um pedaço de fortaleza contra a Ásia, seríamos a sentinela avançada da civilização contra a barbárie. Ficaríamos como Estado Neutro, em relações constantes com toda a Europa, que deveria garantir a nossa existência.” (HERZL, Theodor. O Estado Judeu. Rio de Janeiro: Organização Sionista Unificada do Brasil, 1947, p. 68)

Abordagem sionista

A abordagem sionista mudou com os tempos, hoje eles não pregam mais a transferência compulsória e sim a exterminação completa dos palestinos. E ao contrário do que se pensa, desde o começo os sionistas nunca respeitaram o Plano de Partilha de 1947 (o famigerado plano criado pela ONU, com forte apoio do brasileiro Oswaldo Aranha, que era presidente da assembleia na época), para os sionistas isso era apenas entrave temporário em seus planos de tomar por completo a Palestina.

Há de se saber, ainda, que os planos sionistas não se limitam apenas à tomada da Palestina, sendo que a "Grande Israel" é um projeto semeado no seio do pensamento sionista e que faz alusão a outras falsificações históricas para tomar completamente o Líbano, o sul da Síria, partes da Península Árabe e partes do Egito (o norte, incluindo a cidade de Alexandria).

Portanto, defender Israel e se refugiar detrás da "solução" de dois estados é dar aval para os crimes injustificáveis que Israel comete desde sua fundação e não, não "é complexo demais" afirmar isso. Basta ver as cadeias sionistas lotadas de crianças que foram molestadas e tolhidas de viver suas infâncias como qualquer criança do mundo merece viver.

Cemitérios

É ver os tratores passando em cima de cemitérios muçulmanos ou cristãos, é ver a destruição de igrejas e mesquitas, é ver o roubo das plantações de laranja e das milenares oliveiras, é ver o roubo de casas construídas com muito suor por mãos de gerações de palestinos, é ver a matança como aquela em Deir Yassin e covardemente tergiversar sobre. Não é uma decisão difícil dizer que Israel não deve existir.

É questão preambular e invariável em defesa da civilização e ao direito da auto determinação dos povos. Colonialismo não é auto determinação, é a completa face da barbárie ocidental, por isso deve-se rechaçar a ideia acerca do estado de Israel.

*A Nakba, “catástrofe” em árabe refere-se à expulsão violenta de aproximadamente três quartos de todos os palestinos de suas casas e pátria pelas milícias sionistas e o novo exército israelense durante o estabelecimento do estado de Israel (1947-49). Dos aproximadamente 750.000 palestinos que foram limpados etnicamente, quase metade deles, mais de 300.000, foram expulsos de suas casas bem antes de 1948 pelas milícias sionistas.

 

 

Felipe Mansur, é ativista pelos direitos humanos e ambientais. É ativista antissionista, apoiador incondicional da causa Palestina.

 

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