Dum remoto remanso do Pirá Sykáua
Em linhas gerais a numerologia explica o “253” como um misto de sociabilidade, singularidade e entusiasmo. Puxa! Que seja um presságio.
No ‘lugar onde os peixes se juntam’, conforme reza a língua Tupi – ou se juntavam –, a regra do distanciamento social não seria diferente nessa era pandêmica; nem mesmo numa data importante assim. Se bem que, e não é para menos, penso que até os lambaris devem demorar a se reunir - piracemas a fio. Mas, tomara mesmo que não.
Apropriado, então, é o trecho de “O Guardador de Rebanhos”, dos poemas de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, onde lê-se resumidamente: “Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do [Universo... Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra [qualquer... Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura... Porque a nossa única riqueza é ver.”
Ora, vê-se, portanto, uma inquestionável e essencial obrigação cidadã de quietação mundial; se quisermos voltar a enxergar as riquezas de nossas aldeias. Talvez seja por isso que filósofos e pensadores reverenciam com tamanha exatidão uma singela aldeia, um pequeno povoado, pacatas comunidades; porque é no minimalismo que mora o básico ao bem viver.
Vá lá; sejamos sensatos: Temos o que comemorar? Diariamente gente igual a gente continua morrendo aos montes em todas as partes. As sociedades, indistintamente, ceifaram a alegria de uma boa prosa, de abraços e apertos de mãos. A arrogância, a prepotência e a falta de asseio escoaram nossas avarezas pelos ralos – onde há desses equipamentos, é lógico.
Poluímos o Planeta Terra com futilidades, exageros e acabamos acuados por um vírus feroz, devorador e até agora indestrutível. É vilão ou herói esse tal de Covid-19, hein?
Nasci em Piracicaba poucos anos depois de o meu pai poder ter tido o privilégio de escolher o SENAI da Cidade Alta, para a sua transferência profissional da capital paulista. Os links do professor Arcanjo Porrelli eram os irmãos, filhos da ‘Terra Nostra’ radicados nas vizinhas Mombuca e Capivari, que àquela altura já haviam fincado suas bandeiras na Noiva das Colinas. Época em que as redes sociais eram certamente bem mais afetuosas e acolhedoras. Por isso, orgulho-me de há quase sessenta anos fazer parte desses 253 da brava história dessa cercania.
O célebre Leon Tolstói, autor do monumental romance “Guerra e Paz", nos ensinou que: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia.”
E o jornalismo olhos nos olhos, ombro a ombro, felizmente levou-me de aldeia em aldeia Brasil afora. E, aonde fui, a nossa querida “Pira City” esteve muito bem representada.
Sei que, assim como eu, o caro leitor está dando Parabéns à Piracicaba neste 1° de agosto de 2020. E que, com ela, quer comemorar vindouros aniversários, tantos quantos nos forem possíveis; na esperança de um dia voltarmos mais equânimes, francos e fraternos ao bom convívio diário.
Paulo de Tarso Porrelli é escritor e jornalista.
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