História Suja de Hollywood, e o Cinema para Idiotização em Massa
Além de história financeiramente corrupta, Hollywood submete contratualmente suas produções ao Departamento de Defesa dos EUA a fim de colocar no subconsciente das pessoas que a militarização do país é necessária ao mundo; faz também apologia do individualismo, do consumismo artificial, da violência, da pornografia, das drogas e ajudou a esconder, dos anos 1950 aos 1990, que o cigarro é cancerígeno. Reproduções de versões oficiais da história contadas por vencedores de guerras, jamais produz alternativas que as questione minimamente
Edu Montesanti
A indústria cinematográfica norte-americana em geral, grande lixo cultural, faz apologia das drogas, da violência, da pornografia, do individualismo, do consumismo artificial e do poderio bélico norte-americano, configurando-se também forte arma imperialista dos Estados Unidos, tudo isso recheado de mensagens subliminares entre as mais explícitas, que não são poucas e em nada primam pela discrição.
São também, via de regra, reproduções das versões oficiais da história contadas pelo establishment e grandes potências vencedoras das guerras, sem jamais produzir alternativas que as questione minimamente. Entre milhões de filmes, não há nenhum que apresente outra possibilidade, por exemplo entre tantas outras passagens históricas que podem ser facilmente pensadas, à insustentável versão contada pela história de que Lee Harvey Oswald assassinou o então presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, em 1963. Nem nada alternativo à ideia de que os militantes da Al-Qaeda, dentro de cavernas no Afeganistão como diz a versão oficial imposta por George W. Bush, coordenaram os ataques de 11 de setembro de 2001 contra os lugares mais seguros do mundo, entre eles o Pentágono. Para nem se mencionar evidências, que não cabem neste texto, que apontam ao sentido completamente oposto a tais versões, também caninamente reverberadas pelos grandes meios de comunicação internacionais.
Filmes que apresentassem outros enredos, alternativos ao que contam versões oficiais, poderiam muito bem ser enormes sucessos de bilheteria e pratos cheios para a imaginação de roteiristas, que não se atrevem a discutir com a pifia história contada pela elite global, as oito famílias que possuiem riqueza equivalente à da metade da população mais pobre do planeta, controladoras absolutas da mídia predominante e da própria indústria do cinema (nenhuma novidade).
Apoiado pelo Departamento de Defesa do país que, através de contrato restritivo, orienta e apoia materialmente a produção de diversos filmes de Hollywood, o cinema é justamente um dos três maiores símbolos do American Way of Life, isto é, o Estilo de Vida Norte-Americano. E a história de Hollywood, principal indústria do cinema dos Estados Unidos e do mundo, é tão suja quanto àquilo que se propõe a vender ao mundo.
O surto do cinema iniciou-se nos anos de 1920 nos próprios Estados Unidos, que viviam os Frenetic Dancing Days, isto é, Dias de Dança Frenética. Tal metáfora, auto-definida pela sociedade local, deveu-se ao fato de que, emergidos da I Guerra Mundial como uma das grandes potências globais, os Estados Unidos gozavam de prosperidade que, até a Grande Depressão Econômica de 1929, parecia inesgotável e sem limites: a ordem era produzir e consumir cada vez mais, contrastando a situação do restante do mundo, de quem o país havia isolado-se sob todos os aspectos.
Foi deste modo que, aos novos produtores da cultura imperante, não importava nada do que continha fora de suas fronteiras pois os Estados Unidos, acreditavam, estavam destinados por Deus a salvar o planeta com sua cultura e a civilização do American Way of Life (crença que perdura até hoje, justificando até suas guerras, através da teologia de William Branham a qual Bush levou às últimas consequências, repetida por Trump agora).
Neste contexto, junto do carro e do rádio o cinema obteve crescimento avassalador naqueles anos, e no final da década uma média de 100 milhões de norte-americanos frequentavam, semanalmente, os cinemas. Em todo o mundo, se conhecia os grandes ídolos do cinema dos Estados Unidos e, a partir de então, tal veículo de comunicação passou a impor às sociedades de praticamente todo o planeta, ao longo do século passado até o presente, estilos de moda, consumismo artificial, padrões de beleza, de conduta, políticos entre diversas outras imposições de acordo com o "messiânico" American Way of Life.
Piratas de Terno e Gravata
Contudo, confirmando o velho e manjado vezo popular que "o que começa errado termina errado", Hollywood possui uma história que está à altura exata do que produz até hoje nas sociedades mundiais. No livro Cultura Livre, Lawrence Lessig mostra que, apoiada pelo governo local, a gigante das filmagens nasceu da pirataria que, aliás, não é exceção à regra nos negócios norte-americanos. Veja uma passagem do livro de Lessig (citada no jornal A Nova Democracia de dezembro de 2008):
"A indústria cinematográfica de Hollywood foi construída por piratas fugitivos. Os criadores e diretores migraram da Costa Leste para a Califórnia no começo do século 20, em parte para escapar do controle que as patentes ofereciam ao inventor do cinema, Thomas Edison.
"Esses controles eram exercidos através de um truste monopolizador, a Companhia de Patentes da Indústria Cinematográfica, e eram baseadas na propriedade intelectual de Thomas Edison - patentes. Edison formou a MPPC (Motion Pictures Patents Company - Companhia de Patentes de Filmes de Movimento) para exercer os direitos que a sua propriedade intelectual lhe dava, e a MPPC era bem séria sobre o controle que exigia.
"Como um comentarista cita em uma situação dessa história: '(...) Os independentes eram companhias como a Fox. E de forma semelhante ao que acontece atualmente, esses independentes foram duramente enfrentados. As filmagens eram paralisadas pelo roubo de equipamentos, e acidentes resultavam na perda de negativos, equipamento, prédios e algumas vezes até mesmo de vidas'.
"Isso levou os independentes a fugir da Costa Leste. A Califórnia era remota o suficiente do alcance de Edison para que esses cineastas pirateassem suas invenções sem medo da lei. E os líderes do cinema de Hollywood, Fox entre eles, fizeram exatamente isso.
"Claro que a Califórnia cresceu rapidamente, e logo a proteção às leis federais acabou chegando ao oeste. Mas como as patentes davam ao dono delas um monopólio realmente limitado (apenas dezessete anos naquela época), quando suficientes agentes federais apareceram, as patentes haviam expirado. Uma nova indústria nasceu, em parte por causa da pirataria da propriedade intelectual de Edison."
Departamento de Defesa dos EUA: "É Nosso Interesse Participar da Produção de Filmes"
A fim de exaltar a superioridade militar do Estados Unidos, de favorecer a política local de recrutamento, exercer censura e passar a ideia de que a guerra é uma solução necessária, o Departamento de Estado do país participa diretamente da produção de muitos filmes desde o nascimento do cinema, exercendo sempre papel fundamental em suas empreitadas militares: cineastas, visando economizar, procuram a ajuda do Pentágono que lhes fornece imagens de arquivo, assessoria técnica, acesso a equipamentos de última geração, autorização para filmar em instalações militares etc.
Em troca, os produtores de Hollywood submetem seu trabalho aos escritórios do Pentágono responsáveis em auxiliar as produções cinematográficas militares, cujos termos estão inscritos em contrato restritivo, que diz:
""A produção deverá ajudar os programas de recrutamento das Forças Armadas.
"(...) A companhia produtora consultará o Departamento de Defesa para todas as cenas militares durante a preparação, filmagem e montagem". Segundo Philip Strub, assessor especial de mídia e entretenimento do Departamento de Defesa, "é nosso interesse participar da produção de filmes" (fonte: Victor Battaggion).
Em 1917, quando os EUA entraram na I Guerra Mundial, o Comitê de Informação ao Público do então presidente Wodroow Wilson contou com o auxílio da indústria do cinema, a fim de produzir filmes que gerassem apoio à "batalha norte-americana" junto à sociedade.
O pacto entre o governo do país e o cinema cresceu durante a II Guerra Mundial, através da ampla propaganda fornecida por Hollywood e, após esta que foi a guerra mais devastadora da história da humanidade, Washington retribuiu com enormes subsídios à maior indústria cinematográfica do globo, com verbas especiais do Plano Marshall (bilhões de dólares despejados nos países europeus a fim de trazê-los para o lado dos EUA em sua Guerra Fria com a ex-União Soviética) e persuasão para abrir mercados europeus resistentes.
Desde a segunda metade do século XX, Hollywood tem tratado de ridicularizar o povo árabe e persa, além de colocá-los como potencialmente terroristas bem como a religião predominante deles, o Islã, a fim de justificar também as imperialistas, sucessivas e sangrentas ocupações militares de seus padrinhos da Casa Branca no norte da África e Oriente Médio, região mais rica em petróleo do mundo.
Mais recentes evidências dessa podre parceria de sucesso, corrupta aliança histórica entre a Casa Branca e Hollywood, são os filmes Zero Dark Thirty (imagem à esquerda), que passa a ideia de que os métodos de tortura praticados pela CIA, sob os governos de George Bush filho (2001-2009) e Barack Obama hoje, ajudaram a capturar Osama bin Laden, e Argo, o qual repete a velha propaganda cinematográfica colocando o mundo islamita como terrorista e carente da intervenção messiânica dos EUA.
No caso particular de Argo, trata do Irã, motivo de obsessão invasora dos tomadores de decisão de Washington desde que a Revolução Iraniana de 1979 derrubou o presidente xá Reza Pahlevi, pró-Ocidente, e nacionalizou o petróleo.
Pois tal produção trata exatamente dos primeiros anos daquela revolução e, não por coincidência, Argo foi vencedor do Oscar' 2013, prêmio entregue pessoalmente pela primeira-dama norte-americana, Michelle Obama, ao diretor Ben Affleck.
Do imperialismo nas telas do cinema à contracultura norte-americana na vida real, em abril de 2009 a Embaixada dos Estados Unidos na Síria enviou telegrama secreto revelado por WikiLeaks em abril de 2012, em que a embaixadora-espiã Maura Connelly dizia enquanto o cenário para a tal "Primavera" síria era arquitetada nos bastidores dos porões do poder global:
"A atratividade da cultural dos EUA ainda é um mecanismo poderoso para a mudança da Síria. É revelador que, quando o SARG buscou punir os EUA por seu suposto papel no ataque em Abu Kamal em 26 de outubro de 2008, eles evitavam objetivos políticos mas, ao invés disso, fecharam as três principais fontes da cultura norte-americana em Damasco: o Centro de Cultura Americana (ACC), o ALC e a Escola da Comunidade de Damasco.
"Contar com mais programação cultural, mais programas com alto-falante e o IV programa de intercâmbio, continuam sendo nossas melhores ferramentas para ter um efeito direto sobre a sociedade civil" (tradução exclusiva desse telegrama ao português, que inclui injeção secreta de 12 bilhões de dólares por parte de Washington de 2005 a 2010 para instalação de canal de TV via satélite a ser transmitida dentro da Síria, na seção WikiLeaks do blog deste autor).
Vamos ao Cinema ou Comer Pipoca?
Quanto à barbárie cultural do cinema ao longo de todos estes anos, na era do lucro não importando como, nem para quê, uma boa evidência do fato de que ele se propõe a alienar as pessoas, além de todas as evidências nas próprias telas, são as citações de E. J. Epstein, autor do livro O Grande Filme, reproduzindo a filosofia cultural de um executivo de cinema estadunidense (citado por Emir Sader no artigo Vamos ao Cinema ou Comer Pipoca?, revista Caros Amigos de novembro de 2008):
"'O segredo para uma boa cadeia de multiplexes bem sucedida está naquela porção extra de sal acrescentada à pipoca', disse o executivo. A alta produtividade de pipoca produz grande quantidade com uma porção relativamente pequena de grãos - favorece esses ganhos.
"Por isso projetam as novas salas para que os espectadores passem antes pela lanchonete: 'Nosso negócio se baseia na movimentação das pessoas. Quanto mais pessoas conseguimos fazer passar pela pipoca, mais dinheiro ganhamos', afirmou um dono de cinema norte-americano. Ele caracteriza o porta-copo em cada cadeira das salas como 'a inovação tecnológica mais importante desde a sonorização'(!). Daí o peso essencial que o público jovem tem, como consumidor concentrado de pipoca e refrigerantes.
"A economia política da pipoca, que comanda a indústria cinematográfica, influencia até na extensão dos filmes. Os muitos longos - de mais de 128 minutos - diminuem uma sessão diária e, com isso, o consumo de pipoca, sal e refrigerante."
Emir Sader conclui seu artigo desta maneira:
"Difícil seguir chamando de arte o cinema - pelo menos o estadunidense, submetido á lógica da pipoca".
Hollywood e Cigarro: Macabra e Bilionária Parceria de Sucesso
Em seu livro O Cigarro (2001, Publifolha, 88 pág.), o jornalista Mario Cesar Carvalho evidencia que a indústria do cigarro não apenas sabia, desde a década de 1950 (anos em que o fumo foi amplamente difundido como jamais antes na história se transformando em "coqueluche" mundial, grande ícone da moda vendido pela publicidade e pelas telas do cinema norte-americano), que o que ela produzia causava câncer, como também foi apoiada justamente por Hollywood para esconder tal fato das sociedades mundiais até os anos de 1990, enquanto colocavam (assim como fazem ainda hoje em grande medida) o cigarro como expressão de liberdade, imponência, contemplação de novos horizontes, muito charme e, paradoxalmente com um sopro macabro de saúde (!).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), no século XX o cigarro, "droga lícita" segundo os governos ocidentais, matou mais de 100 milhões de pessoas e mata atualmente 3,5 milhões de pessoas no mundo ao ano. De acordo com pesquisas do Atlas do Tabaco lançado pela Sociedade Americana do Câncer e pela Fundação Mundial do Pulmão, apenas em 2010 o tabagismo levou à óbito 6 milhões de pessoas em todo o mundo, com tudo isso se configurando o cigarro na maior causa de mortes evitáveis na história da humanidade - sob as bênçãos de Hollywood rendendo, assim, bilhões de dólares à indústria do tabaco, da publicidade, aos governos (por meio dos impostos) e, é claro, à própria Hollywood.
E Formar Idiotas Por Quê?
A esperteza que levou os piratas à Califórnia permanece na indústria do cinema hoje, que não receberia apoio direto do Estado norte-americano para investir bilhões e bilhões de dólares em tanta fezes moral e intelectual, caso não houvesse fortes motivos para isso, os quais vão muito além dos exorbitantes lucros.
A mais eficiente arma para as forças corruptas de dominação seguirem ganhando terreno, mentes e corações se dá através da aniquilação da cultura e do senso crítico, sendo que tal supressão, muitas vezes de maneira sutil, é via de regra na história imperialista mundial, e sua prática é nata em qualquer indivíduo com mentalidade reacionária.
À "civilização" norte-americana e sua política coercitivo-expansionista, por sua vez, é fundamental que as sociedades (inclusive a sua) estejam idiotizadas, excluindo delas a necessidade de pensar, de questionar e de ter memória, submetendo a tudo e a todos aos princípios "superiores" e "salvadores" dos Estados Unidos.
Rambo foi produzido no início da década de 1980 para cicatrizar as feridas norte-americanas da vexatória derrota no Vietnã em 1973, na qual foram usadas pelos Estados Unidos até bombas químicas (o agente laranja, caracterizando crime de guerra).
E quando o país mal havia recuperado-se moralmente dessa derrota, os escândalos de corrupção envolvendo os presidentes Richard Nixon (1969-1974) e Ronald Reagan (1981-1989), somados à derrota no Irã em 1979, configuraram-se em outros duros golpes que colocaram definitivamente em xeque a democracia do país perante o mundo. Desses seguidos vexames veio o herói-justiceiro do cinema.
Pois Rambo, escolhido com toda sua robustez justamente para passar ao mundo uma imagem de poder dos Estados Unidos, é um personagem "artístico" que representa bem a rapinagem que só cresce naquele país, bem como a estatura intelectual e a truculência dos Estados Unidos, dentro de casa e na política externa. Lixo cultural e moral exportado aos quatro cantos do planeta, em parceria de sucesso com Hollywood.
Mas Você Não Precisa Ser O Que Querem que Você Seja
Nunca houve tanto conhecimento científico e tecnológico, nem nunca houve tanta informação e em tempo real como hoje, ao mesmo tempo quenunca o ser humano esteve tão afastado da realidade e da sua própria existência, quanto atualmente.
A violência, a corrupção, a alienação coletiva como instrumento do domínio psicológico por parte dos poderes corruptos, a fome, a degradação ambiental e as guerras apenas se multiplicam e as sociedades não só não questionam, como mal percebem tudo isso havendo uma conseqüente inversão de valores: assiste-se telenovela como se fosse real, e o real como se fosse telenovela como argumenta ojornalista José Arbex, em seu livro O Poder da TV.
Diante dessa barbárie cultural e moral, se for o caso reconsidere profundamente ideias e costumes ainda que estes sigam a corrente predominante: siga sua consciência, não aquilo que impõem a você muitas vezes de maneira sutil com aspecto sedutor mas mofado e escravizante na essência.
Mude de canal, troque o DVD, renove a programação com os amigos, preserve sua cultura como o patrimônio mais precioso que possui. Seja protagonista da história, antes de mais nada da história da sua própria vida: boicote a indústria do cinema liderada por Hollywood! Que insiste em decidir, através da imposição sutil (também conhecida como lavagem cerebral) o que você deve pensar, em que acreditar, o que fazer e a quem culpar.
"A cultura é a única coisa que pode fazer um povo livre, porque permite ver a miséria e combatê-la", disse certa vez a libertária cantora argentina Mercedes Sosa.
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