Um país civilizado pode administrar sua economia entregando o seu controle à iniciativa privada (sistema capitalista) ou pode socializá-la deixando que a sociedade comande os meios de produção (sistema socialista). Entre um e outro extremo, temos algumas variantes, dependendo de uma maior ou menor participação do Estado na economia e o controle que sobre ele exercem as classes sociais em que se divide o país.
Para efeito da discussão a que se propõe este texto, vamos deixar de lado as tais variantes e nos concentramos nas duas extremidades. Vamos considerar também, que a possibilidade de opção entre capitalismo e socialismo só é viável numa sociedade razoavelmente desenvolvida, onde os meios de produção já tenham alcançado um crescimento que permita vislumbrar a existência de classes sociais com interesses antagônicos.
O Brasil, uma das maiores economias do mundo, embora ainda atrelada aos interesses do imperialismo norte-americano, tem, mesmo que teoricamente, condições materiais de oferecer a sua população a possibilidade de optar entre os dois sistemas: o capitalista e o socialista.
Por que isso não acontece? E mais, por que simplesmente quem se dispuser propor publicamente esta questão, dificilmente seria levado a sério?
As experiências socialistas no mundo inteiro não deram certo, dizem os defensores da realidade capitalista em que vivemos, certamente porque não acreditam na famosa frase de Rosa Luxemburgo, Socialismo ou Barbárie?que Istvan Meszáros usou como título de seu livro.
É possível que historicamente tenham razão, na medida que considerarem a experiência na União Soviética um fracasso, embora o retorno dos países que formavam esta confederação ao sistema capitalista tenha outras causas que não caberia examinar aqui.
Por que então a possibilidade de um Brasil socialista não é mais colocada, nem ao menos para uma discussão teórica, a não ser por parte de pequenos grupos inexpressivos politicamente?
Embora ainda hoje persistam partidos políticos que ostentam em seus nomes uma referência ao socialismo (PSB e PSOL), ou ao trabalhismo (PT e PDT) e outros ainda carreguem a velha sigla dos comunistas (PCdoB), todos eles não passam de agremiações que pretendem apenas uma reforma na sociedade capitalista em que vivemos, melhorando no possível e quando possível, a vida dos trabalhadores.
Com todos os seus grandes equívocos políticos, os comunistas, principalmente depois da segunda guerra, empurravam os governos brasileiros para a esquerda e ofereciam, quando a legislação eleitoral assim o permitia, a opção por propostas de caráter socialista.
Nas eleições de 1945, o desconhecido Yedo Fiuza, apoiado pelos comunistas, quando Dutra foi eleito presidente, recebeu cerca de 10% dos votos. Na mesma ocasião Luís Carlos Prestes foi eleito senador e mais 17 membros do PCB foram eleitos para a Câmara Federal, provando a força dos comunistas, que surgiam como um partido capaz de disputar a hegemonia política no Brasil com o PSD, PTB e UDN.
Um ano depois todos os seus representantes seriam cassados e o partido colocado na ilegalidade. Mesmo assim, o PCB, ainda que na clandestinidade, continuou interferindo na vida pública do País, pressionando os governos a adotar posições mais à esquerda do que suas composições políticas pareciam indicar.
Foi assim no segundo governo Vargas, com Juscelino e principalmente com Jango, quando Prestes acreditava que seu partido, de alguma maneira, ainda que reservadamente, já fazia parte do governo.
O golpe militar de 1964 praticamente liquidou com o partido e quando a democracia formal foi retomada, 20 anos depois, a influência dos comunistas praticamente desapareceu.
Seu lugar foi ocupado pelo PDT de Brizola e o PT de Lula, partidos que, apesar de compromissados com a melhoria de vida dos mais pobres, sempre tiveram um horizonte político limitado pelas ideias reformistas e não revolucionárias dos seus líderes.
Ao chegarmos agora ao fim do quarto governo do PT, quando o partido, acuado pela reação da extrema direita, adotou políticas cada vez mais contrárias aos interesses dos trabalhadores, seria importante a existência de um partido que de forma radical, ainda que utopicamente, erguesse a bandeira do socialismo.
É essa, a falta que fazem os comunistas.
Marino Boeira
Jornalista e professor, formado em História pela UFRGS
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