Pode alguém no mundo dizer que o modelo econômico já em vigor na maior parte dos membros da comunidade internacional, nomeadamente a versão monetarista/capitalista/economia de mercado, funciona bem, se de facto funciona a qualquer nível? O modelo socialista já abandonado por muitos países, para onde vamos no futuro?
É tão fácil fazer comparações entre os dois modelos como é fazer declarações genéricas baseadas em estereótipos nacionais - e o resultado é igualmente impreciso e errado. Não há comparação. Aqueles que ridicularizam o modelo socialista com afirmações do tipo "simplesmente não funciona", e perguntas como "Como você vai pagar por isso?" e a seguir produzem números de massacres perpetrados por ditaduras, nos três casos, não têm um mínimo de raciocínio lógico nem discurso relevante.
Para começar, o modelo socialista funcionou muito bem em dezenas de países por muitos anos, trazendo populações sem educação e analfabetas para a linha da frente em termos de escolaridade e formação, desenvolveu economias que eram principalmente terciárias, tornando-as em modelos mais equilibrados com um setor secundário firme e um setor primário crescente, proporcionando o pleno emprego, transporte público, segurança do Estado, segurança na rua, dignos padrões morais, atividades gratuitas de lazer, infra-estruturas culturais e esportivas excelentes, gratuitas ou baratas serviços públicos como água, gás, electricidade, comunicações, habitação garantida a igualdade de oportunidades, mobilidade social, sistema de cuidados de saúde excelente, uma pensão indexada e requisitos básicos em termos de alimentos e até mesmo bebidas alcoólicas em alguns casos.
Isto, em face de constantes campanhas dos países não-socialistas que gastaram triliões de dólares na tentativa de sabotar o modelo e cujos serviços de espionagem e forças especiais cometeram atos de assassinato e tentativa de homicídio (centenas de atentados contra a vida de Fidel Castro, por exemplo) e orquestraram uma imprensa negativa moldando a mentalidade das gerações dos povos com campanhas de desinformação, escondendo e distorcendo a verdade.
Tomemos por exemplo o autor deste artigo. Coloquem o meu nome no Google, e você será levado para algum blog estranho, um site de ódio chamado Simply Jews (simplesmente judeus), zionistas que juntamente com ameaças de morte e o resto, publicam desinformação afirmando que sou anti-semita. Totalmente inaceitável, visto que passei décadas fazendo campanha pela paz no Médio Oriente, para o reconhecimento de Israel, pela igualdade de direitos para a comunidade LGBT, contra o racismo e a favor da igualdade de género, direitos dos animais, fazer trabalho voluntário para a reabilitação das prostitutas, para os sem-teto, tóxico-dependentes ... mas o que aparece no Google é essa difamação. A acusação de que eu sou anti-semita é tão absurda e falsa como a reivindicação de que Hitler era uma fada madrinha. É uma mentira descarada.
No entanto, está lá. É a maneira deles lutarem. De forma baixa, vil, covarde, ruim.
Tomemos por exemplo as economias do mundo ocidental desenvolvido, no qual receber uma educação decente é um drama a menos que você pague por ele, onde gerações de imbecis semi-alfabetizados são arrotadas para um mercado de trabalho que encolha a cada ano, onde sistemas de cuidados de saúde decentes não existem, onde o atendimento odontológico é um luxo para os ricos, onde a educação pública universal é um negócio e em que parece ser a norma "você paga, portanto, você recebe um diploma", como baixar um Ph.D da Net, onde a obtenção de um emprego é cada vez mais difícil, mantê-lo quase impossível, e manter uma casa já não é um direito de nascença. É um sistema em que milhares de pessoas todos os dias deslizam abaixo da linha da pobreza.
Isso, juntamente com taxas alarmantes de desemprego endêmico, as ruas loteadas com saqueadores, praguejando, urinando, vomitando, essas quadrilhas de bandidos, drogados e alcoólatras, onde os cidadãos sêniores não estão mais seguros de risco e a cereja no bolo, o novíssimo fenómeno, a Geração dos 500 Euros/500 R$.
A G-R$ 500. A G-R$ 500 é o resultado de décadas de capitalismo de mercado, nas sociedades que estão se movendo para trás em todos os vectores sócio-económicos do desenvolvimento, nas sociedades que se curvaram para a teoria econômica liberal e prontamente se auto-destruíram. A G-R$ 500 é composta por jovens, os mestres do mundo de amanhã, cujo domínio da economia caseira se centra em nem sequer saberem ferver um ovo, cuja noção de geografia poderia levá-los a colocar Portugal em África, ou Angola ao pé de Uruguai, que entram no primeiro ano de um curso de estatística na Universidade e afirmam que uma metade mais dois terços correspondem a três quintos.
Pois.
E mesmo que a G-R$ 500 conseguir passar o curso na Faculdade (pagando por ele e saindo do outro lado arcando com uma dívida enorme), cadê as aberturas no mercado de trabalho? O quê os centros de emprego têm a oferecer? Call centers, para R$ 500 por mês. Trabalhando em uma loja, soprando bolhas de goma e fazê-los rebentar POP! quando se ousa entrar um cliente e, em seguida, sair porque a assistente estava demasiado ocupada falando com seu namorado no telefone celular. Vender produtos OTC para amigos em fuga cada vez mais aborrecidos e distantes em um esquema de rendimento em pirâmide.
Uma carreira decente e um trabalho interessante, onde as competências adquiridas podem ser usadas? Apenas com contatos. Continua a ser um mundo no qual o que importa é quem você conhece, não o que você sabe. E então começa o drama mencionado acima, de começar uma casa, ter uma família e assim por diante.
Então, esta não é uma alternativa viável, mas todos a seguem cegamente, encolhendo os ombros às suas preocupações como um rebanho de ovelhas sem qualquer intenção de questionar o que aconteceu. Afinal, há sempre o Barney arrotando em Os Simpsons, esta noite. E uma refeição barata de lixo carregada com produtos químicos para nos manter mudos e com os miolos fracos. E no fim-de-semana outro jogo de futebol, o ópio do povo.
Verdade, o modelo socialista não era perfeito (falando de massacres é tão inaceitável como afirmar que os milhões de mortos pelos regimes imperialistas em todo o mundo foi por causa de seu modelo político). Mas o que o substituiu está vivendo o inferno e está levando as nossas sociedades para trás.
Uma coisa é certa. O modelo liberal está morto e enterrado sob os escombros do colapso económico dos últimos dois anos. O debate deve ser mais uma vez: intervencionismo estatal, sim, mas em que grau? Agora estamos todos de acordo num ponto: o modelo socialista deve ser uma parte fundamental da nossa realidade sócio-económica, desta vez com elementos que recompensam o espírito do esforço humano.
Tudo que precisamos agora é educar nossa geração mais jovem a fazer algumas pesquisas em finanças públicas (um segredo bem guardado) e iniciar a produção de idéias. Como por exemplo colocar a polícia nas ruas e não em algum escritório a dez quilómetros de distância, t endo os médicos com as devidas diplomas que falam a língua do país em que eles estão trabalhando, e "socializando" as crianças para a sala de aula.
Timothy Bancroft-Hinchey
Pravda.Ru
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