A crise da esquerda mexicana foi o ponto nevrálgico no Conselho Nacional do Partido da Revolução Democrática (PRD), que se concluiu hoje em Morelia, capital do estado de Michoacán. Duas correntes contrapostas dentro da militância levaram a um processo de desorganização que permitiu contradições insuperáveis em suas fileiras e deu passagem aos maus resultados obtidos durante as eleições legislativas do passado 5 de julho.
De um lado está a Esquerda Unida, mais próxima ao ex-candidato presidencial Andrés Manuel López Obrador, e, do outro, a Nova Esquerda, encabeçada pelo atual dirigente Jesús Ortega, de quem pedem a renúncia.
Por isso hoje o partido, com vistas ao congresso nacional em dezembro de 2009, enfrenta um processo de reforma e refundação. O ex-presidente do PRD, que responde à Nova Esquerda, Guadalupe Acosta Naranjo considerou que essas divisões internas são as causadoras das dificuldades do partido do Sol Asteca para atrair a simpatia da maioria das pessoas.
Em declarações para Prensa Latina, destacou que tudo deve ser revisado a fundo, pois existem muitos vícios que são combatidos para fora, mas que internamente se reproduzem. A isso se soma a escassa supervisão sobre a atuação dos nossos governos para que apliquem bem os programas, destacou.
Sem embargo, um ponto grave e no qual coincidem ambas as frações é a pouca formação e discussão política e ideológica. O trabalho com os quadros militantes é nulo e há uma vinculação mínima com os movimentos sociais, agregou. Ainda que os discursos das partes sejam muito similares, internamente não logram se por de acordo. Quantos mais pleitos tivermos internamente, menos confiança haverá das pessoas em nós, indicou Naranjo.
Em sua opinião, ao reunir-se o congresso em dezembro, devem participar também outras organizações, intelectuais e dirigentes de movimentos sociais, para que, entre todos os que querem ver renascer a esquerda mexicana, possa-se encontrar uma saída para a crise, que já leva uma década, enquanto o PRD cumpre 20 anos de fundação. O ex-presidente crê que se deve ter políticas que atraiam as pessoas, não só os seguidores, e evitar a confrontação direta com o governo de Felipe Calderón, pois precisam dialogar com eles para sair adiante.
Mas os da Esquerda Unida consideram que não deve haver aliança com setores que não respondem às bases programáticas do PRD.
Decidimos dar-nos um tempo daqui ao congresso para reconhecer nossos erros, os do partido e os da nossa corrente, destacou Naranjo a esta agência.
Em representação da outra corrente (que defende a permanência de Obrador no partido e exige a renúncia de seu presidente Jesús Ortega, pelo mau trabalho avaliado com os penosos resultados eleitorais), o deputado Agustín Guerrero também falou com exclusividade para Prensa Latina. A refundação do partido passa por dois elementos centrais, em primeiro lugar recuperar as causas da esquerda de maneira programática e na linha política, pois o PRD viveu um processo de burocratização refletido num distanciamento dos movimentos sociais e populares e das causas da sociedade, sinalizou.
No seu entendimento, o partido representa no discurso e no papel essas causas, mas não na realidade, devido a que as diversas correntes colocaram em primeiro lugar seus interesses na repartição dos cargos de direção e de representação popular, que nem sempre correspondem ao que as pessoas esperam. Temos que recuperar a essência do partido e de seus princípios, e atuar com ética. Uma esquerda que perde a ética deixa de ser uma opção de organização e representação social, disse Guerrero.
O outro elemento central para a refundação, referiu, é a necessidade de que a base participe do PRD no congresso, através de fóruns e espaços em cada um dos 32 estados, nos quais as diferentes propostas de futuro sejam analisadas pelo conjunto. Não pode ser um congresso entre quatro paredes, só com os dirigentes. Isso está condenado ao fracasso, asseverou.
Fizemos em outras ocasiões supostos encontros similares e a coisa vai cada vez pior, porque faltaram as pessoas, por isso não basta ter uma comissão equilibrada, de qualidade, mas é indispensável a opinião da base do partido, dos militantes, dos que fazem o trabalho político em suas comunidades, cutucou. Ao referir-se à obrigação de buscar necessariamente um funcionamento melhor para as próximas eleições presidenciais, a celebrar-se dentro de três anos, Guerrero assegurou que o tema fundamental é que haja vontade e compromisso de todos os membros para fazer uma reavaliação e uma reformulação de fundo.
Estamos obrigados a fazê-lo, senão teremos que esquecer, já em 2009, o que virá em 2012, concluiu.
Fonte: Prensa Latina
http://www.socialismo.org.br/portal/internacional/38-artigo/1060-a-crise-da-chamada-esquerda-mexicana
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