O ex-vice-presidente do Banco Mundial e ganhador do Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz afirmou que a atual crise financeira representa para o capitalismo o mesmo que a queda do Muro de Berlim representou para o fim da Guerra Fria e do império soviético.
Por Luiz Machado (*)
A qualificação mais comum dos prognosticadores econômicos
não é o saber, mas sim o não saberem que nada sabem.
John Kenneth Galbraith
O ex-vice-presidente do Banco Mundial e ganhador do Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz afirmou que a atual crise financeira representa para o capitalismo o mesmo que a queda do Muro de Berlim representou para o fim da Guerra Fria e do império soviético.
Diversos especialistas, incluindo professores, analistas profissionais e jornalistas especializados em economia, declararam que a crise que teve início no sistema de hipotecas norte-americano (sub prime), irradiando-se depois para todo o sistema financeiro internacional, equivale ao princípio do fim do império americano.
Posição semelhante foi adotada por autoridades econômicas ou não de diversos países. As declarações que se seguem, de Peer Steinbrück, ministro das Finanças da Alemanha, ao jornal Financial Times, reproduzidas parcialmente pelo Diário do Comércio em sua edição do dia 26 de setembro último (p. 3) são um exemplo claro disso.
O mundo se tornará multipolarizado, com o surgimento de centros (financeiros) mais fortes e mais capitalizados na Ásia e Europa. O mundo nunca mais será o mesmo. [...] A adoção de regras mais rígidas para o mercado de capitais é uma necessidade urgente. A mera administração da crise não reconstruirá a confiança perdida. Precisamos civilizar os mercados financeiros. A auto-regulação não é mais suficiente. A crença dos Estados Unidos no laissez-faire capitalista e a noção de que os mercados devem ter o mínimo de regulação são argumentos errados e perigosos. Este sistema praticamente sem regulações está entrando em colapso.
Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo no FMI, que representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago), deu a seu artigo semanal da Folha de S. Paulo (2 de outubro) o título de O triste fim de Wall Street.
Fico me perguntando se não há certo exagero e excessiva precipitação em colocações dessa natureza, muitas das quais baseadas em previsões que teimam em reduzir a economia a uma ciência exata, o que, definitivamente, ela não é. No entanto, há muitos economistas (ou pseudo-economistas) que vivem exatamente disso e se oferecem no mercado como uma espécie de futurólogos, prometendo mais do que a ciência econômica é capaz de fazer. Previsões que não se confirmaram, aliás, constituíram-se num fator decisivo para que a profissão caísse em descrédito em vários países, inclusive no Brasil, onde a demanda pelas vagas dos cursos de economia sofreu acentuada queda a partir da década de 1980.
Mas não são apenas os economistas que se equivocam ao fazerem previsões. Paul Kennedy, um dos mais brilhantes historiadores contemporâneos, escreveu um livro no final da década de 1980 que se tornou um verdadeiro best seller, sendo traduzido em diversas línguas e atingindo sucessivas edições em várias dessas traduções. O título do livro é Ascensão e queda das grandes potências. Na capa da edição brasileira (Editora Campus) há uma ilustração bastante sugestiva e coerente com o conteúdo do livro. Nela, vê-se a bandeira dos Estados Unidos descendo do posto destinado ao primeiro colocado de um pódio, com a subida para este posto da bandeira do Japão.
O tempo foi passando e, menos de duas décadas após a publicação desse livro (1988, na edição original), qualquer pessoa sabe que o Japão entrou logo depois numa prolongada recessão, enquanto que a economia norte-americana conseguiu uma notável recuperação, conseguindo o inédito fato de crescer, na década de 1990, mais de 100 meses, ininterruptamente.
Quando se fala em hegemonia, está se falando, em última instância, de poder. E, quando se fala de poder, como se sabe, não existe vácuo. Se alguém ou alguma instituição seja uma pessoa, um país, uma empresa, um time ou uma seleção deixa de ocupar uma posição de liderança, esta será imediatamente ocupada por um substituto.
Diante disso, gostaria de compartilhar com os amigos internautas a seguinte indagação: qual país estaria em condições de assumir o lugar dos Estados Unidos como nação hegemônica na atualidade?
Iscas para ir mais fundo no assunto
Referências e indicações bibliográficas
BATISTA JR., Paulo Nogueira. O triste fim de Wall Street. Folha de S. Paulo, 2 de outubro de 2008, p. B 2.
FENDT, Roberto. E agora, social-democratas e conservadores? Folha de S. Paulo, 2 de outubro de 2008, p. A 3.
KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências: transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Campus, 1989.
NÓBREGA, Maílson da. A crise, a esquerda e o neoliberalismo. Veja, edição 2079,, ano 41, nº 38, 24 de setembro de 2008, p. 142.
SAN PEDRO, Soanaira. Até Tio Patinhas se complicou. Diário do Comércio, 26 de setembro de 2008, p. E 3.
TALEB, Nassim. Contra a futurologia. Entrevista a Mônica Weinberg. Veja, edição 2080, ano 41, nº 39, 1º de outubro de 2008, p. 90.
TOLEDO, Roberto Pompeu de. A vã corrida atrás da história. Veja, edição 2081, ano 41, nº 40, 8 de outubro de 2008, p.190.
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Este texto foi publicado originalmente em http://www.lucianopires.com.br.
A publicação deste artigo no site do COFECON foi autorizada pelo autor.
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(*) Economista, formado pela Universidade Mackenzie em 1977. É Vice-Diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP, na qual é Professor Titular das disciplinas de História do Pensamento Econômico e História Econômica Geral.
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