A OTAN estapeou os Estados Unidos no rosto. Os aliados dos Estados Unidos disseram que não diminuirão sua cooperação com Moscou. A declaração mostrou que os Estados Unidos já não são os donos da OTAN e que Washington não é a única cidade onde todas as decisões fundamentais são tomadas. A administração dos Estados Unidos esperava que a aliança endossasse sua condenação da "invasão da Geórgia" pela Rússia.
Entretanto, a Grã-Bretanha, firme aliada dos Estados Unidos, foi o primeiro país da OTAN a dizer que a aliança não isolaria a Rússia. A contraparte de Condoleezza Rice na Grã-Bretanha, David Miliband, ofereceu expansão da cooperação bilateral com a Rússia. Revelou-se, posteriormente, que a Grã-Bretanha não apóia a sugestão de exclusão da Rússia do Grupo dos Oito.
Natalia Boyarskikh, especialista em relações da Rússia com a OTAN, acredita que não houve nada de surpreendente no fato de a OTAN não apoiar a postura anti-russa dos Estados Unidos.
"Os Estados Unidos continuam a conduzir a guerra de informações contra a Rússia. Os estadunidenses estão agora agindo indiretamente, por meio da Geórgia. Eles não têm aliados verdadeiros, exceto diversos países do Leste Europeu, aos quais dão apoio financeiro," disse a especialista.
É um segredo conhecido por todo mundo que a política pode ser muito suja, do mesmo modo que a prostituição. Entretanto, é impossível subornar todo mundo. A Chanceler alemã Angela Merkel não personifica o todo da Alemanha com suas declarações. Ela expressa, principalmente, os interesses das forças de direita da Alemanha. O Ministro do Exterior alemão Frank-Walter Steinmeier apóia abertamente a Rússia e condena a Geórgia.
República Tcheca, Grécia, Eslováquia e França expressaram também seu apoio à Rússia. Nessas condições, a Rússia precisa explicar aos membros europeus da OTAN que a condição de membro da Geórgia na aliança seria altamente inadequada.
A reunião de emergência de ministros da OTAN de ontem em Bruxelas marcou o mais sério fracasso político da administração dos Estados Unidos nos anos recentes.
O Secretário Geral da OTAN General Jaap de Hoop Scheffer disse que a OTAN não fecharia as portas para seu diálogo com a Rússia.
"Nenhum programa de cooperação sofreu cortes ainda, mas pode-se presumir ... que essa hipótese possa ser a vir considerada," disse o oficial.
"Não pode haver relações como se tudo estivesse como sempre [com a Rússia] nas presentes circunstâncias," disse Scheffer num encontro com a imprensa depois da reunião de emergência dos ministros do exterior da OTAN na Bélgica. "O futuro de nossas relações dependerá das ações concretas que a Rússia empreenda para honrar as palavras do Presidente Medvedev de cumprir o plano de paz de seis pontos, o que não está acontecendo no momento," disse Scheffer.
A resposta da Rússia, imediata, foi desdenhosa.
"A montanha deu à luz um camundongo," disse Dmitry Rogozin, embaixador de Moscou na OTAN, informou a Associated Press.
O Ministro do Exterior russo Sergei Lavrov disse que a resposta da OTAN à crise era tendenciosa e acusou a aliança de permitir que o Presidente georgiano Mikheil Saakashvili ditasse as políticas dela.
"Quem está dizendo aos países da OTAN o que devem fazer é o Sr. Saakashvili, de modo a satisfazer suas ambições," disse Lavrov em Moscou. "A OTAN está tentando tornar em vítima um agressor e caiar de branco um regime criminoso ... e está caminhando no sentido do rearmamento dos líderes atuais da Geórgia."
Lavrov declarou que a aliança havia praticamente posto o Presidente georgiano Saakashvili sob suas asas protetoras. O ministro afirmou que a declaração da OTAN a respeito da Ossétia do Sul era tendenciosa.
"Nada diz acerca de como tudo começou e do que realmente aconteceu, que países armaram a Geórgia e quem encorajou a Geórgia a não assinar o acordo excluindo o uso da força na região," disse o ministro.
"A OTAN adota um curso de rearmar os líderes atuais da Geórgia. É óbvio que a administração compra armas para continuar suas tentativas de resolver o problema da integridade territorial da Geórgia," disse Lavrov.
"A linha de tornar a Geórgia membro da OTAN não está em conformidade com os padrões da OTAN. Está baseada numa aspiração que só posso considerar anti-russa, voltada para apoiar o regime agressor," disse Lavrov.
O ministro enfatizou que Moscou tirará suas conclusões a respeito da posição pró-georgiana da OTAN.
"Haverá consequências, obviamente. Dificilmente será possível fazer com que as coisas corram como sempre - dissemos isto há uma semana. Creio que tiraremos as conclusões adequadas," disse o diplomata russo.
"O Conselho Rússia-OTAN não foi criado para ensinar à Rússia como comportar-se em relação à Geórgia, e sim para garantir segurança na Europa e na região Euro -Atlântica. Ainda acreditamos que esses objetivos são reais," disse Lavrov.
Enquanto isso, a Rússia bloqueou o rascunho de resolução do Conselho de Segurança a respeito da Geórgia. O documento ostenta pelos menos dois aspectos fundamentais com os quais a Rússia não pode concordar. O primeiro é que a resolução urge imediata retirada das tropas russas da Geórgia. O segundo é que o documento declara a necessidade de observar a integridade territorial da Geórgia dentro dos limites reconhecidos pela comunidade internacional. Nenhuma dessas afirmações faz parte do plano de paz.
O Ministério de Assuntos Exteriores da Rússia também pediu aos líderes estrangeiros para não darem dentadas em granito. O Ministro do Exterior Sergei Lavrov declarou que a saída das tropas russas dependerá das ações da Geórgia, porque ela também assinou o acordo de paz com a Rússia. Se Tbilisi proceder adequadamente, as tropas russas serão retiradas em dois ou três dias.
O Presidente Dmitry Medvedev declarou que as tropas serão retiradas da Geórgia para a Ossétia do Sul e para a Rússia até 22 de agosto. O presidente acrescentou que 500 pacificadores russos permanecerão perto das fronteiras da Ossétia do Sul.
A Rússia disse que não participará do exercício naval internacional do Espírito Aberto 2008 no Mar Báltico. Além disso, a Rússia informou os Estados Unidos da impossibilidade de receber a belonave dos Estados Unidos no porto do Extremo Oriente de Petropavlovsk-Kamchatsky. A nau deveria fazer uma visita de negócios à Península de Kamchatka no período de 5-9 de setembro.
O exercício vem sendo efetuado anualmente desde 1997 dentro do arcabouço do programa de Parceria para a Paz da OTAN, no objetivo de vasculhar áreas costeiras dos Estados Bálticos em busca de explosivos antigos da Primeira e da Segunda Guerra Mundiais, diz a agência RIA Novosti .
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter