Um enviado da ONU critica PEPFAR, a Iniciativa de Presidente Bush sobre a SIDA, enviando ecos de neo-Colonialismo a reverberar pelos jornais no mundo afora. Mas será jornalismo com responsabilidade atacar por atacar?
De certo modo, a Administração do Presidente Bush se abre para ataques de todos os lados por causa da sua política externa agressiva e unilateralista, compreensível como reflexo no caso de Afeganistão mas fundamentalmente errado no caso do Iraque, como muitos disseram na altura, incluindo esta coluna. Contudo, enquanto seria difícil atribuir demasiadas críticas no caso do desastre do Iraque, PEPFAR é outra história.
PEPFAR é o Plano de Emergência do Presidente para Combater a SIDA. Começou em Maio de 2003 com a Lei de Liderança dos EUA Contra VIH/SIDA, TB e Malária, um programa de cinco anos providenciando nada menos que 15 biliões de USD para combater estas doenças infecciosas em 120 países a volta do mundo.
Stephen Lewis, Enviado Especial da ONU sobre a SIDA, foi citado ontem e hoje em vários jornais internacionais, como criticando a iniciativa, chamando-a incipiente neo-Colonialismo nas nações africanas devido à sua abordagem de cima para baixo e à insistência em abstinência no acto sexual. Por muito bem que este dirigente faz a sua hábil e sagaz gestão da sua pasta na ONU e por muito que ele entende o problema e as populações afectadas, é precisamente esse tipo de críticas e jornalismo que é irresponsável porque cria uma imagem falsa.
PEPFAR está muito clara sobre a maneira em que distribui os seus fundos: 55 por cento dos 15 biliões de USD são para programas de tratamento (e 75% destes fundos para Tratamento Anti-Retroviral); 15% é para cuidados paliativos para doentes terminais, 10% para o cuidado de órfãos e 20% para prevenção. 33% desta fatia, ou seja apenas 6,6% do total, é para programas para fortalecer a abordagem ABC - sigla inglesa para Abstinência, Be Faithful (Seja fiel a um parceiro sexual), e Condom (Preservativo)
Não é uma abordagem prepotente imposta por uma cultura extraterrestre mas sim uma tentativa de orientar uma pequena percentagem do fundo a áreas onde este tipo de visão é popular e bem visto o PEPFAR tem sido atacado em áreas muito conservadores da África por não fazer o suficiente nesta vertente.
Qualquer iniciativa que proporcione quinze biliões de dolares para causas humanitárias, e especialmente quando falamos em salvar vidas humanas, é para ser elogiada e não criticada. Com certeza, o regime de George Bush providencia uma quantidade mais que suficiente de iniciativas para serem criticadas, não há falta de material.
A outra questão de fundamental importância é que a SIDA é também um problema africano, mas não só de facto a taxa de incidência cai em algumas nações africanas enquanto cresce em outros lugares do mundo. Ligar os comentários de Stephen Lewis só à África mais uma vez realça a noção totalmente falsa que o continente africano é um espaço perdido de guerras, gafanhotos, corrupção, cólera, desastres e doenças. Não é verdade.
Num mundo democrático, deveríamos estar livres a criticarmos as más políticas, dado que baseamos as nossas críticas em argumentos válidos mas também devemos seguir o princípio que as boas façanhas merecem ser elogiadas. PEPFAR é uma destas.
Timothy BANCROFT-HINCHEY
PRAVDA.Ru
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