EDGARDO KOGAN - TREINADOR DO BIGUÁ, UM DOS FINALISTAS DA LIGA URUGUAIA DE BASQUETE 2010 - 2011
Na Liga Uruguaia de Basquete já deu início a Série Final de até 5 jogos que vai coroar o Campeão 2010 - 2011. Tendo perdido a primeira partida 84 - 72 perante o Clube Malvín, o treinador do Biguá do bairro Villa Biarritz de Montevidéu, Edgardo Kogan arranjou sua agenda para receber o PRAVDA na prévia de um treino.
PRAVDA: Faz quanto tempo mergulhou neste negócio do basquete. A altura impediu que você continuasse como jogador?
KOGAN: Meço 1,80 m direto e dava para jogar na vaga de armador. Comecei jogar aos 6 anos no Hebraica Macabi até que no eixo dos 17 anos tive que escolher continuar jogando ou não. Nessa época a gente foi parte do time principal, é óbvio, vindo desde o plantão e poderíamos dizer que fui sempre o jogador antepenúltimo, penúltimo ou último em pular em quadra. Foi nessa oportunidade que o treinador do Hebraica além de treinador acabou sendo amigo, pai, irmão, tudo quanto possa imaginar, o César Somma, que me convidou trabalhar do seu lado. Um ano antes o treinador Carlos Genta tinha me dado a responsabilidade de montar a tabela dos jogos em 1986 e tendo completado 17 anos decidi ser mais um nessa equipe técnica do César Somma sendo que acabei treinador dos mais pequeninhos das categorias de base (Mini). Estive encerrando o período de estudante secundário e aí me cadastrei para os cursos de treinador de basquete também nesse ano. Daí pra frente deu início o meu roteiro envolvido com a carreira de treinador.
P: No meu caso aconteceu. Acha que aquela grandíssima geração da seleção uruguaia que foi Campeã Sul-Americana Adulta em 1981 e 6ª nos JJ. OO. 1984 foi marcante para a nossa geração se apaixonar pelo basquete de jeito definitivo?
KOGAN:Pode ter certeza absoluta. Sem dúvidas. Essa foi à hora que o basquete uruguaio acabou estourando. De 1978 até 1988, 1989, talvez o 1990 encontramos essa grande geração como marcação. Foi uma dúzia de anos que poderíamos dizer que houve um antes e um depois dessa geração. Gustavo, acho que ainda se lembra que o produto basquete teve a telinha da tevê aberta uruguaia toda como palco de divulgação (houve até rodízio nas quatro redes montevideanas) atingindo o público da capital mas muito pessoal do interior uruguaio também ia se envolvendo com essa fonte de divulgação do basquete. Acredito que todos nós somos produto dessa geração.
P: Quanto pode influenciar um treinador num jogo de basquete, de jeito específico nesta Série Final da Liga que tudo mundo acha que vai ser resolvida no quinto jogo pois trata-se de times muito equilibrados?
KOGAN:Na minha opinião, a influência de um treinador tem a ver bem mais quando envolve a tarefa feita no decorrer de uma temporada, de jeito específico com a montagem do time, do que naquilo que pode ocorrer num jogo só. Não concordo com uma hipótese que o ambiente basquetebolistico uruguaio avalia que é aquele negócio que é bem mais importante o agir de um destaque em campo do que o próprio esquema de jogo. Acredito que o basquete uruguaio precisa crescer a partir do esquema de jogo e não se sustentando nos destaques que fazem parte da partida. Então, ao meu ver a influência de um treinador se faz no decorrer de muito tempo. Eis ai uma vantagem que o Malvín tem acima de nós nestas finais que estão acontecendo. Aliás, estamos tentando absorver, aprimorar e ganhar na leitura do jogo, em inúmeros aspectos que não é simples. Olha aí só...a tabela que temos na frente fala mais alto...numa conversa com o treinador adito, Gustavo Sande, confirmamos que até hoje temos desenvolvido o treino Nº 22 e desses, 6 ou 7 foram assistindo vídeos, bate-papos e treinagem de arremessos. Por enquanto, quanto tem a ver com a tarefa feita em quadra temos 16 ou 17 treinos perante os 280 e tanto do Malvin. Logo precisa acrescentar 4 anos de vantagem do treinador com o mesmo esquema e um estilo de jogo que leva o carimbo dele. Além disso, o panorama continua sendo bom pra nós quanto tem a ver com a Série e salienta muito mais este segmento no basquete que o agir dos próprios destaques.
P: Fica claro que se tivesse segurado esta responsabilidade de treinador de Biguá desde o início da temporada com uma turma que na maioria dos casos se conhecem desde crianças a situação ia ser bem diferente, não acha?
KOGAN: O ambiente acha que é assim do jeito que você falou mas não dá para imaginar o que poderia acontecer. A realidade fala mais alto....aquilo que poderia acontecer só poderia acontecer mas ninguém tem certeza daquilo que na verdade acaba acontecendo. Não da para supor coisa nenhuma. Hoje seguramos esta responsabilidade, neste esquema, sermos inteligentes e aliviar as diferenças que ocorrem no decorrer de uma temporada. Temos dado um mergulho na Série Final e precisamos fazer evoluir a nossa tarefa á partir dessa situação. É a hora "H", só isso e temos que tocar na frente, sabe.
P: Você está muito descontraído fora a grande responsabilidade da Série Final. O alto astral faz parte do seu dia-a-dia?
KOGAN: Sou desses que acreditam que não temos que trair o jeito de ser autêntico. Somos de uma forma de ser, ótimo, vamos lá. O meu convívio com o basquete é assim. Não consigo ter duas caras. O meu jeito de ser e assim, floresce pela minha pele. Estamos na Série Final, temos que dar o maior esforço para arvorar o caneco, sermos muito inteligentes, jogando pressão no rival na hora da defesa. Na outra beira, temos que curtir o instante que estamos tendo pois já é importante, até mais, é muito bom, fora que para conquistar os alvos temos que ser responsáveis e extremamente felizes.
P: Não acha estranho que o Biguá tivesse ficado na cimeira da Classificação no decorrer da temporada até hoje e foram três os treinadores do time até atingir a Série Final?
KOGAN:Vamos ver, está arremessando deslocado. Essa pergunta teria que ser veiculizada bem mais para a Diretoria do que para o treinador. Biguá para mim envolve muitos sentimentos. Vou tentar te explicar. É óbvio, sou o terceiro treinador do time na temporada, isso é verdade, mas o Biguá para mim é diferente, sinto-me na minha casa, com a Diretoria... o relacionamento é diferente, conheço os jogadores desde criança, na maioria dos casos fui treinador deles na turma adulta faz alguns anos no clube, muitos deles têm feito sua estréia comigo no cargo de treinador, então, o sentimento é um outro, o respeito é mútuo, do jeito que tem que acontecer sempre. Não sei o que dizer, acho que há perguntas que são bem mais para o pessoal da Diretoria do que para mim como treinador. Estou certo que eles acreditaram na minha tarefa num instante que eles acharam difícil e acabei segurando a tal responsabilidade.
P: Quais são as Ligas que assiste na tevê cabo? Viaja pelo mundo tentando aprimorar o que tem a ver com a carreira de treinador?
KOGAN: Assisto sim. Foram muitos jogos internacionais. Muito basquete argentino, a proximidade tem muito a ver nisso, eu acho, mas também assisto aos jogos do basquete espanhol, italiano assim que a RAI transmite pelo cabo, a própria NBA. Na hora que viajo pelo mundo pela minha atividade empresarial tento sempre planejar as minhas viagens com antecedência para ficar á par do que acontece no basquete desses países. Faz muito pouco tempo estive na Alemanha, assistindo um treino de um time em Munique, ou seja, tento sempre confirmar conceitos ficando em contato com outras realidades.
P: Qual foi aquele grande jogador uruguaio que você conheceu em quadra?
KOGAN: O basquete uruguaio tem tido jogadores de grande valia, posso falar daqueles que eu vi quicando a bola em quadra, está certo? Não posso falar daqueles que não vi. Os comentários do Oscar Moglia (pai) (cestinha Olímpico em Melbourne 1956), do Adesio Lombardo (cestinha Olímpico em Londres 1948 e em Helsinki 1952), foram sempre maravilhosos mas não da minha época, só sei que eles acabaram sendo marcações no basquete uruguaio. Daqueles que eu vi, o Horacio "Tato" López (jogou e foi destaque em São Paulo) foi um jogador incrível, bem mais que incrível, sentia-se vencedor sempre, próprio duma qualidade ímpar, fora que quanto tem a ver com o segmento técnico foi demais. Acho interessante remarcar que sendo aquele grande jogador, ficou sempre mais tempo treinando que o resto dos jogadores das turmas que foi parte, se exigindo a cada dia mais tentando aprimorar o rendimento dele. Isso aí foi o Tato. Mas houve mais alguns ótimos, um cestinha doente como o Wilfredo "Fefo" Ruiz, que foi herói de algumas gerações. Ter o carimbo de cestinha não é negócio simples e ele conseguiu pois faz parte do basquete. Alguns reclamavam para ele que caísse acima de um rival para incomodá-lo e o negócio dele foi sempre furar malhas. Caso ele tivesse sido ótimo na defesa, com certeza, tivesse tido sua oportunidade na NBA. Posso acrescentar mais alguns, o armador e capitão Olímpico em 1984, Carlos Peinado, o ritmo de um outro armador como o Marcelo Capalbo, alguns anos mais tarde. Hoje, o ex NBA nos Atlanta Hawks jogando agora no Campeão da Série "A" da Espanha, Esteban Batista, o Nicolás Mazzarino faz muitos anos na Itália que num Sul-Americano no Brasil fiz 41 pontos perante o Brasil garantindo essa vitória, o Leandro García Morales sendo sucesso no México, o Martín Osimani, no Obras Sanitarias de Buenos Aires. Nos últimos 25 anos, acho que estes foram os melhores.
P: Ainda é jovem mas é um objetivo ser o treinador chefe da seleção no futuro ou a sua atividade empresarial é uma barreira na frente?
KOGAN: Estive na seleção no decorrer de quatro anos do lado do César Somma, em um processo bom e atraente, em alguma oportunidade fiquei como treinador chefe numa seleção Sub-21 ou Sub-22 num torneio internacional que foi uma grande chance de convívio coma própria seleção uruguaia mas todos temos assuntos prioritários, e hoje minha vida privada está um degrau por cima. Temos que andar devagar, lembre-se daquele provérbio, "de grão em grão a galinha enche o papo". Caso chegar a oportunidade, vou avaliar a tal chance...correto? Na atualidade a seleção tem um treinador ótimo sob a chefia do Engº. Gerardo Jauri; hoje o melhor de todos. Não anseio aquele cargo que está nas mãos de um outro. Caso surgir a possibilidade vou avaliá-la nesse instante. Hoje tem assuntos que não passam pela minha cabeça nem sequer as avalio.
P: O que está faltando-lhe à seleção uruguaia para garantir uma vaga nas Taças do Mundo ou nos próprios JJ. OO.? Uma turma mais comprida?
KOGAN:Acho que esse é o nosso calcanhar-de-aquiles. A gente precisa uma turma mais ampla. Continuamos sem fazer uma boa leitura de jogo e uns 6 ou 7 jogadores do ambiente local, sem aquela atividade internacional que precisa-se nestes casos. A leitura do jogo é muito fraca e ainda temos que pular pra cima nesse segmento. Quanto tem a ver com o ritmo de jogo, o jeito da defesa a desenvolver, no próprio ataque na hora da decisão final antes do arremesso. Quatro, 5, ou 6 jogadores possuem mas tem outros que não o alcançam e uma turma internacional na procura de objetivos importantes precisa ser muito forte desde os conceitos e acho que temos que continuar crescendo nisso.
P: É treinador do Mathías Calfani (2.03m), que ao meu ver neste ano tem progredido muito. Será que daqui a pouco pode ser o grande parceiro da seleção do Batista no garrafão?
KOGAN: Acredito no potencial dele que é ímpar. Trata-se de um jogador com grandíssimo, grandíssimo potencial que não tem barreira tão alta assim que ele não consiga pular por cima, pois no ambiente internacional pode jogar bem como lateral-pivô pois tem arremesso preciso de fora o garrafão mas precisa continuar "aumentando o tamanho" desde a leitura do jogo, quica a bola muito bem mas precisa desenvolver o jogo a partir da leitura. Jogar bem mais com os pés no parquê e isso só vai conseguir treinando de jeito específico para evoluir nesse segmento. O negócio não é simplesmente o ensino dele na hora de arremessar ou jogando de costas para o cristal. O que acontecem como ele, está acontecendo com o basquete uruguaio todo, nesse assunto do ensino nas categorias de base a tarefa ainda precisa aprimorar se. Moldar jogadores não é fácil e o Mathías precisa evoluir a partir disso.
P: Além da vitória, fica no aguardo de quê quanto aos próximos jogos da Série Final. O primeiro foi muito limpo.
KOGAN: Acho que o Biguá não jogou bem. Quanto ao "Fair Play" foi muito bom mas se levarmos em consideração a nossa defesa, foi fraca e temos que crescer bastante nesse segmento de jogo. Também quanto à leitura de jogo e o aproveitamento das situações que acabam ocorrendo na própria partida. Fico no aguardo de finais bem mais fechadas. A primeira final não refletiu a realidade, falhamos inúmeras chances pertinho da argola e percebêramos nos vídeos, foram muitos os erros na concentração. Então, a realidade cobrou de nós. Espero finais muito equilibradas daqui para frente e tomara der para conquistar a vitória.
P: Compartilhe tudo quanto eu tivesse esquecido perguntar e ache interessante que os leitores do PRAVDA conheçam.
KOGAN: Nada...agradeço você ter vindo até o Clube Biguà para gravar a reportagem pois isso também reflete interesse de seu lado, pesquisa, tentar progredir na faixa profissional, e cada um de nós nessas profissões, seja o caso de treinador, jornalista, o que for, temos sempre que continuar subindo um degrauzinho a mais. Aquele abraço para os leitores do PRAVDA e saiba que vai ser bem-vindo no Biguá sempre e fico ao dispor de você assim que precisar.
Gustavo Espiñeira
Jornal Pravda
Montevidéu - Uruguai
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